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Meus pés batem freneticamente no piso branco e brilhante da clínica. Em duas cadeiras azuis da sala de espera, eu e Dante esperamos pela minha vez de ser atendida e pela chegada de Mateo.

— Essa é a nossa primeira tentativa. — Comento tirando um tablete de chiclete da bolsa, embora eu tenha tentado evitar por muito tempo.

— Um dos dias mais decisivos para a minha atuação. — Dante opina.

Dou de ombros.

— Tem um peso muito mais importante para mim.

Alguns dias haviam se seguido desde que eu e Dante decidimos fazer ciúmes para Mateo. Eu não pensava que seríamos tão radicais, mas de uns dias para cá eu fazia questão de mencionar o quanto eu vi Dante para Mateo, o quanto ele me fazia rir, o quanto ele era bonito....

Parecia muito mais fácil quando Dante fazia.

Nós tínhamos uma consulta marcada em uma das clínicas da Line, Mateo e eu. De três em três meses cada um precisava fazer um check-up em uma das clínicas ou hospitais da empresa, que por sorte, estavam espalhadas por todo o mundo. Aparentemente as inovações da Line agradavam todas as pessoas.

Já era para ele ter chegado.

— Caso você tenha se esquecido eu também estou sob pressão. — Mateo reclama ao meu lado. — Minhas aulas ainda não acabaram, meu professor é um dinossauro e ele me obriga a repetir as cenas milhões de vezes. Isso sem falar do resultado de um teste que estou esperando.

Era verdade. O professor de Dante, um ator aposentado chamado Olavo era um verdadeiro carrasco. Eu tinha presenciado alguns puxões de orelha que ele fazia questão de dar em Dante nas vezes em que precisa coletar material para o livro. Fazia quase um mês que estavam naquela ladainha.

E quanto ao seu teste, era para um filme de um diretor renomado. Muito drama e um roteiro que eu não conseguia compreender, mas Dante achava que era uma obra-prima e fazia questão de me lembrar todos os dias em que falava comigo. Eu suspeitava que as vezes ele ligava só para falar do seu possível papel.

— Lembra do que vamos falar? — Pergunto mais uma vez ignorando o seu comentário para o tal papel.

Dante revira os brilhantes olhos verdes. Uma enfermeira que estava passando volta o seu olhar para ele e quase esbarra com o filtro de água.

— Dizer o quanto você é importante pra mim, olhar intenso, blá blá....Você se esqueceu de que está falando com um ator?

É minha vez de rolar os olhos.

Começo a ouvir passos vindos da entrada. Finalmente, Mateo surge na porta da recepção. Levanto-me imediatamente e sorrio para ele. Mateo também sorri para mim e se senta ao meu lado, distante de Dante.

— Bom dia. — Sei que Mateo fala por pura educação, pois sua emoção era pura aversão.

— Bom dia. — Eu e Dante o cumprimentamos de volta, mas o ator possuía um sorriso vanglorioso no rosto.

— Já estamos esperando faz um tempo. — Comento com Mateo.

— Mas não é tão entediante quando eu estou do seu lado, não é?

Dante coloca a mão em cima da minha que se apoiava no braço da cadeira. Meus olhos se arregalam mesmo tendo combinado aquilo com ele mais cedo. Tento lembrar a minha fala, mas falho miseravelmente. Apenas pego a mão de Dante e entrelaço meus dedos.

Mateo desvia o olhar e eu comemoro internamente o sucesso daquele pequeno teatro.

A mulher na nossa frente, sentada atrás de um balcão que tinha um computador e várias pastas empilhadas, chama pelo nome de Mateo e manda ele seguir para a sala dois.

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