2. Quem sou nesta terra?

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Quem sou nesta terra de ninguém? Quem seria dono de quê? A terra é de ninguém, as pessoas transitam pelas ruas apinhadas de mortos-vivos, apinhadas de automóveis e vazias de sentido. Pergunto-me se não percebem que não têm mais posse de coisa alguma. Não, não percebem nada. Posso parar no centro do passeio e não perceberão que sou de carne. Passam quase que por dentro de mim, sou um plasma de outra dimensão, sou um nada aqui, atormentado por pensamentos que vigoram anseios que tento guardar debaixo da pele. Varro essas reminiscências – fruto de reflexão e frustração – para debaixo do cabelo, mas o vento bate e sacode os farrapos de palha do cocuruto e espargem por toda parte minha imundície em pó. Sou de plasma, mas tenho estabilidade.

E os transeuntes despossados? Acreditam estar em busca de alguma coisa, acreditam que possuirão seu quinhão nesta terra, porém nada possuem. Sua conta é aquela que resta no escorço de uma ilusão.

Quantos fantasmas flutuam pelas ruas sujas desta capital mundana! Compreendo muito pouco esse esvaziamento de sentido, parece que ninguém se importa de perder a vida na esquina, à espera do ônibus, ou num buraco de metrô. Elas não se questionam a respeito de nada, expressam um horror estático de desamparo, quase de moribundo engessado.

Isso é vida?

Isso é existência, vida produz e não é produto. Vida é ação sobre e não a passividade mórbida. Mas tenho estabilidade! Posso tê-la, porém o que me incomoda é estar a par do plasma que sou, ser uma geleia instável de vida. Como posso ter perdido o sentido da existência quando me propus a essa estabilidade; pensei enganosamente que ter pão me alimentaria, contudo, sinto a alma vazia, sendo penada, ela paira, se saco fosse, estaria vazia e caída ao chão. Mas eu tenho estabilidade. Não posso negar que na terra da pobreza, um emprego seguro e de boa remuneração é luxo, eu não desprezo a minha conquista, entretanto, também não posso negar que essa fortuna não pode definir minha existência aqui.

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