O pão que o Lil Nas X amassou

A briga

Comer casadas é uma arte, enfrentar corno raivoso faz parte.

Ashnikko acordou com o som irritante do sino da Igreja Católica. Seu cabelo estava colado em sua testa. Um ar-condicionado cairia bem no quarto que ela compartilhava com Grimes. Mas espera aí, ela está deitada em uma cama, com um colchão decente e tudo que se tem direito.

Ela olha para o lado e vê sua patroa deitada, com os quadris cobertos e as costas nuas, agarrando firmemente o travesseiro — não, ela não queria ser o travesseiro —, com o sono sereno, respirando suavemente.

A dos cabelos azuis a observa por longos minutos; nunca cansaria de fazer isso, nem de vê-la acordar aos poucos, bocejando e esfregando os olhos calmamente.

— Bom dia, Flor do Dia — Ash sorri.

— Bom dia — Melanie diz.

Ela se vira e ergue os lençóis para cobrir o peito.

— Dormiu bem?

— Claro, dormi relaxada, como se todos os meus problemas tivessem acabado — fala, sorrindo.

Ashnikko se aproxima e beija seus lábios suavemente. Melanie ri e se afasta.

— É melhor você escovar os dentes — brincou.

— Só aos sábados — Ash responde, mas levanta da cama para procurar suas roupas.

Melanie se enrolou nos lençóis, disposta a dormir mais apesar do horário; Grimes deve ter aberto a padaria sozinha, imaginando que elas estariam juntas durante a noite.

No meio dos tecidos jogados no chão, o celular de Ash começou a vibrar. Ela abaixou e o pegou, o número de Grimes brilhando na tela, e mesmo confusa, resolveu atender.

— O que foi, pra-

— Ashton, some daí — Grimes apressou. — Moiô demais, o patrão tá aqui, ele tá putasso com alguma merda sobre o tal do Silvio Santos.

— Quê?! — exasperou Ashnikko. — Quem caralhos é esse homem?

— Um peixão, foi o que ouvi do padre.

— Do padre?

— É — Grimes disse do outro lado da linha. — Se estiver com a Melanie, corre. O corno chega em dois minutos.

Tarde demais.

Ash já ouvia os passos e o bufo do boi pelo corredor, e ela não havia nem sequer colocado a calcinha; tentou se apressar, ter ideias, talvez poderia pular pela janela ou enfiar-se debaixo da cama, mas ainda estava no mesmo lugar e coberta apenas pelos lençóis quando ouviu as batidinhas na porta. Melanie, que ouvira a conversa, saiu assustada de seu cochilo, olhou para a porta de olhos arregalados, foi quando Oliver adentrou o quarto, com semblante distraído, que se converteu em pura fúria bovina no momento que colocou os olhos na cena.

— Mas que patifaria é essa?

— Bebê, não é... não é o que você está pensando! — Melanie se apressou em justificar. — Estamos apenas experimentando algumas roupas.

— Experimentando roupas na cama, Melanie Adele Martinez?

A traidora deu ombros e sorriu culpada. Ashnikko estava desde que desligou o celular com a mesma cara de quem foi flagrada pela mãe roubando Fini no mercado. Diabos de situação embaraçosa. Por um momento, considerou ficar com pena do homem, mas, visto o que ouviu de Melanie, o sujeito merecia mais do que dois pares de chifres.

Por isso, se ajeitou o melhor que pôde nos lençóis e inflou o peito.

— Isso mesmo — respondeu por Melanie. — Até que provem o contrário.