capítulo 11

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Jughead

— Dr. Jughead, o senhor tem visita — disse Sol, depois de bater na porta. Ergui uma sobrancelha, surpreso, porque não estava esperando ninguém e
não fazia ideia de quem poderia ser. Vendo meu espanto, Sol pôs um sorriso no rosto e se adiantou.
— É a Manuela. Posso pedir pra ela entrar?
— Claro, por favor! — respondi, enquanto levantava para esperar minha doutora.

Salvei depressa o documento que estava escrevendo e, quando levantei a cabeça, vi Manu na porta. Fui até ela e a envolvi em um abraço. Levantei-a do chão e ela sorriu com o meu gesto. Seu cheiro era muito familiar, e só naquele
momento me dei conta do quanto estava com saudade.

— Quando vocês voltaram? — perguntei, assim que a soltei.
— Ontem à tarde. Ainda estou exausta, mas queria muito ver meu melhor amigo.
— Amigo esse que você fingiu que não existia enquanto viajava pelo mundo na cola daquele roqueiro metido a besta.
Ela fez beicinho e isso já foi suficiente para me ganhar.
Dei a volta na mesa e Manu sentou na minha frente.— É óbvio que não esqueci de você. Até trouxe um presente.

Ela levantou uma sacola de papel e vi a bandeira da Inglaterra estampada. Abri, um pouco ansioso, parecendo um menino diante de um brinquedo, e sorri para a caneca que retirei lá de dentro. Era branca, com vários pontos turísticos de Londres desenhados com finos traços escuros. Girei-a entre os dedos e vi a bandeira da Inglaterra, uma roda-gigante, o Big Ben, uma xícara de chá, um ônibus de turismo daqueles de dois andares, a Tower Bridge — a mais famosa ponte de Londres — e um guarda-chuva, além da frase “Deus salve a rainha”.
— Pra te fazer companhia durante as madrugadas. Enche esse troço de café e vai conseguir ficar acordado por algumas horas. Já cansei mesmo de falar que você precisa relaxar.

Minha amiga deu de ombros, tentando parecer brava, mas eu a conhecia muito bem para saber que ela estava com tanta saudade quanto eu.
— É perfeito! — provoquei, e ela revirou os olhos. — E, para o seu governo, eu ando relaxando sim. Até fui a um jantar. — Terminei de cutucar a onça com vara curta. — Sofie é uma boa pessoa. Você e a Clara têm que parar com essa implicância gratuita.
—Não é implicância.

Remexeu-se na cadeira e pousou os braços cruzados sobre a mesa. — Só não acredito nessa historinha pra boi dormir que ela te contou. Ela poderia muito bem ter pedido ajuda pra alguém e voltado pro Brasil. Já que te ama tanto assim — finalizou, soando totalmente sarcástica. — Não é assim que as coisas funcionam, Manu. Cada pessoa age de uma forma diante do medo e do perigo, e nem todas encontram força suficiente para admitir que não conseguirão sozinhas.

Sorri para ela, e Manu ficou tensa.
— Por que tá me olhando assim? — perguntou.
— Porque você sabe exatamente como pode ser difícil pra alguém lidar com erros. Ela desviou os olhos, triste, e comecei a me arrepender do que dissera. Por anos ela guardara um segredo que poderia ter acabado com sua carreira médica. Tudo em nome do amor.

— Você gosta dela?
Surpreso com a pergunta, levei um momento para responder.
— Ainda é cedo pra falar em sentimentos. Eu sei que fomos felizes no passado, mas é complicado pensar no futuro. Mas ela é uma garota ótima, que você vai adorar conhecer.
O sorriso no rosto de Manu se alargou e ela andou até mim. Levantei, e ela parou em meus braços.
— Se você ficar feliz, eu também fico. É que… você é importante demais pra mim, príncipe. Se essa garota te magoar, sou capaz de ir atrás dela com um bisturi.

Gargalhei, pois sua ameaça era tão infantil quanto a carinha de brava que fez assim que nos separamos. Ela piscou para mim, pegou sua bolsa sobre a cadeira e, depois de jogá-la no ombro, saiu em direção à porta. — Preciso ir — despediu-se. — Vamos marcar logo um jantar, então.Aproveita que estou dando uma chance da modelete me convencer. Vou combinar tudo com a Clara e te aviso.

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