A menina sente a contração em seu ventre. Fome. A barriga ronca encostada sobre a terra fofa, arada. Seus dedos deslizam pelas folhas do broto, recém-germinado.
— Um dia você será uma grande planta! Cheia de espigas, como suas irmãs.
A sombra das nuvens carregadas encobrem a plantação que se estende até o limite do horizonte. Zua se levanta e estica o pescoço, aspirando o ar pesado e buscando fim da extensa linha dourada em meio aos canais de irrigação.
O vento se torna mais forte e denso. As folhas balançam e geram um estranho ruído, um assobio, como se as palhas cantassem a canção da terra.
Seu irmão mais velho, interrompe a ceifa e observa o céu assustado. Uma estranha estrela vermelha pisca no firmamento enquanto o vento se torna cada vez mais selvagem.
Zua , no auge de seus seis anos, se assusta. Corre em direção a Ushar. O irmão, solitário em meio a uma parte da plantação. Centenas de outros escravos e alguns feitores, com seus chicotes, distribuídos pela planície aluvial, do mesmo modo, param para observar a tempestade repentina que se forma.
— Ushar! Ushar! — a menina grita com lágrimas nos olhos. — Tempestade!
O irmão a abraça. Embora apenas um pouco mais velho, tenta acolher a angústia da pequena, mesmo que ele também esteja assustado. Ambos olham em volta em busca de ajuda. A cidade de Quil's, no alto da colina, protegida por suas muralhas, parece completamente alheia à tormenta. As sombras e ventos parecem desviar de suas amuradas.
Os dois se encolhem, enquanto o tornado toma sua forma cônica e mortal. Os dejetos se elevam ao limite das nuvens, tudo que há sobre o chão é arrancado. Todos os outros escravos e feitores são atirados com violência para os céus.
Os dois gritam em pânico, ainda abraçados bem no meio do olho do furacão enquanto raios brotam em fúria ao mesmo tempo, em que a chuva desaba em uma golfada teofânica derrubando os corpos dos homens, mulheres e até mesmo alguns animais como gotas pesadas que explodem ao encontrar o chão.
Do mesmo modo que começou, termina. O silêncio pacifico precede aos raios de sol. As crianças se levantam e observam o círculo perfeito em torno de si. Um anel de pés de trigo apenas onde os dois estão marca no chão a testemunha do evento que acabara de ocorrer.
Do alto da colina Adapa observa com seus olhos dourados e fendidos, O velho cruza o portal oeste de Quils e desce a colina correndo na direção do círculo escavado no meio da plantação.
— Quem é o senhor de vocês? — o velho pergunta para o menino.
— Drogna. — O menino responde tímido, e aponta para os corpos desfigurados em seu entorno.
— Não mais. — o velho guarda uma bolsa de moedas de seu alforje. Coloca a franja branca por trás da orelha, revelando uma bizarra cicatriz em sua têmpora — Então, não preciso pagar a ninguém... Agora vocês me pertencem.
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EVE
Historical FictionA história de Eve acompanha a história do mundo. Não exatamente como conhecemos hoje... Eve vive, sofre e ama, como qualquer ser humano, porém, descobre um estranho Deus que a torna imortal ( ou não !). =========================== Esta é minha prime...