Parada por um bom tempo sem expressar reação alguma, não tenho mais controle dos meus pensamentos ou do meu corpo, uma forte angústia agora me possui por completo, me fazendo perder os sentidos e por fim, apago.
Em meu sonho, estou no mesmo local escuro, dessa vez sem nenhuma fonte de luz, sinto que não estou sozinha, algo me observa de muito perto, é algo frio e maligno. Sugiro um passo à frente e percebo que não há chão ali, tento para o lado oposto até que percebo que ao meu redor não há onde pisar, estou presa no nada, não há pra onde correr.
- É sua realidade agora - diz uma voz próxima, é uma voz feminina - mas você pode ter total controle, resista!
- Quem é você? - pergunto, assustada - apareça!
- Quem é você? - pergunta a voz - você precisa saber quem você é, não eu.
- Eu sou Nancy! - grito - como assim, saber quem eu realmente sou? Eu sei bem quem eu sou.
- Sabe? - responde a voz - se soubesse não andaria pela floresta escoltada por um demônio. Nancy, logo ele conseguirá o que quer, resista!
- Resistir a o quê? - pergunto, enquanto a voz repete inúmeras vezes a mesma palavra.
- Resista! Resista! - ela fala, cada vez mais alto. - resista!
Acordo com um grito abafado, logo percebo que não estou mais na floresta. Estou deitada em uma cama de casal simples, em um quarto branco com nada mais além da cama e um guarda-roupas em si. Me levanto e ando até a porta, abro-a e dou um passo pra trás com um susto, ele está parado de frente pra mim.
- Você está melhor? - ele pergunta - te trouxe pra cá quando desmaiou.
- Nem um pouco - continuo parada enquanto ele me observa - preciso de um tempo sozinha.
- Você tem todo direito - ele se estica, pega a maçaneta da porta e a puxa, fechando-a. - estarei lá embaixo. - ele diz, antes de fechá-la completamente.
Me sento na cama e observo de longe a janela enquanto me afundo nos pensamentos. Estou morta, penso, não verei mais minha família e nem meus amigos, condenada a uma eternidade de solidão. Não consigo conter, as lágrimas escorrem pelo meu rosto quase instantâneamente, a dor é inevitável e insuportável. Fico ali parada quase que em transe por um bom tempo, até que eu enxugo o rosto, respiro fundo e me levanto, nada disso vai ajudar agora. Abro a porta, desço as escadas e me deparo com ele sentado no sofá, sugiro um sorriso forçado e sento no sofá em frente ao dele, por um momento, permanecemos calados até que tomo iniciativa pra falar.
- E o que acontece agora? - pergunto, percebo que ele não entendeu - digo, agora que estou morta, o que acontece comigo?
- Você permanece morta - ele responde, como se fosse uma pergunta óbvia - ou você renasce, se preferir, mas leva tempo, é algo que tem que lhe ser concedido.
- Por Deus? - pergunto.
- De qual crença você fala? - ele pergunta, como se já estivesse acostumado com perguntas como essas - Nenhuma é real, mas ao mesmo tempo todas elas são. O Deus ou os Deuses, dependendo da religião, são personificações dos místicos, os reais responsáveis pela criação da vida na terra, as únicas diferenças são seus nomes e as histórias pregadas, as religiões foram criadas pelos místicos para que os humanos os adorassem indiretamente, usando falsas histórias e falsos nomes, a fé dos humanos alimenta cada vez mais seu poder. Isso não significa que os místicos são gananciosos, é uma justa troca pelo que eles fazem pela terra.
- E o que demais eles fazem pela terra? - pergunto, aprofundando o assunto.
- Trabalham para que a vida na terra continue possível - ele responde - é muito mais difícil do que você pensa, cada místico governa na terra por um quarto do ano, primeiro vem Verão, depois Outono, Inverno é a próxima e Prima e Vera governam juntas no fim do ano, eles administram os acontecimentos naturais na terra, mas não tem nenhum vínculo com o que os humanos fazem. quando um humano morre, ele tem por direito o Initium, dia em que anjos acompanham grupos de mortos até cada um dos cinco místicos, e em assembléia, os próprios explicam tudo, a ultima mística a ser visitada é Inverno, após suas saudações e considerações, ela julga todos ali presentes, condenando-os a penas por suas ações ruins em vida, concedendo-os a paz eterna ou até lhes dando o renascimento, é nesse dia que a vida astral dos mortos realmente começa, aliás, o Initium é amanhã. - ele se levanta e vai até a cozinha - você precisa comer, vai perder a hora do café da manhã. - ele abre o armário e pega uma caixa de cereal.
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O Ultimo Suspiro
RomanceVocê nunca sabe se vai ver aquele alguém novamente, não tem certeza se voltará segura pra casa, não faz ideia do que te espera no decorrer do dia, coisas inesperadas acontecem com todo mundo. Acordada em um lugar totalmente novo, descubro algo que m...