10 - O Rio

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Eram quase 7h10 de uma manhã nublada em Chicago, parecia que ia chover, Ben acabará de tomar seu café da manhã e só pensava em sentar em sua escrivaninha projetada e ler um bom livro, recentemente o garoto havia lido um artigo interessante sobre fungos – ele os odiava, mas tinha de aceitar que aquela foi uma leitura muito prazerosa.

Desde aquele dia o garoto havia pesquisado mais sobre o tema e estava disposto a aprofundar seus conhecimentos, até que alguém o interrompeu, era sua mãe que adentrava o quarto e pedia que ele se arrumasse, pois o havia inscrito em um curso qualquer que ele não lembrava.

Ben: Eu tenho mesmo que ir? Está frio e úmido, prefiro ficar em casa hoje – protestou o garoto.

Mãe: É um curso de primeiros socorros, você tem idade suficiente para isso, e nunca se sabe quando você vai precisa de um – protestou a mulher já puxando um casaco do closet e entregando ao filho. Além disso – continuou a mulher – você passa tempo demais aqui dentro, você precisa interagir com outras crianças querido – dizia ela calmamente já passando o casaco por entre os braços de Ben.

Ben: Não tem problema algum ser um pouco antissocial – protestou o garoto com um leve sorriso – mas o curso é no caminho da banca de livros da Mary, podemos encostar na volta? Perguntou o garoto empolgado.

Mãe: Claro meu doce – pegando a mão do garoto logo em seguida e saindo do quarto.

***

Tudo era caos, ao mesmo tempo que tentava manter a cabeça acima da água Ben gritava pelo nome de Kenji, os dois haviam pulados juntos, mas após o choque na água, os garotos haviam se separado. Com um esforço imenso, Ben se mantinha na superfície, a correnteza o puxava de um lado para outro, o garoto buscava qualquer sinal do amigo, mas tudo o que conseguiu enxergar sob o luar foi água – a correnteza era implacável, jogava o garoto de um lado a outro. Ele não via a margem, não via Kenji, só via água, para todos os lados. Então Ben se viu em uma segunda luta, uma luta tremenda contra o pânico, ele tinha que se manter calmo.

Tentou bater as pernas contra a corrente, mas suas pernas pareciam de chumbo de tão cansadas da fuga de momentos atrás. Mergulhou outra vez e voltou à superfície respirando avidamente. Então se deu conta de que um tronco de arvore surgiu na sua frente, sem pensar respirou fundo e mergulhou, a corrente o levava de um lado a outro incessantemente, então voltou a superfície, e nada de Kenji, o pânico retornou. Então avistou Kenji tentando respirar.

 Então avistou Kenji tentando respirar

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O pânico acelerou seu coração. Sabia que ele e Kenji morreriam instantaneamente se ele não fizesse algo. Uma onda se ergueu sobre sua cabeça, ele engoliu água e tossiu. Sua vista ficou turva. Sentiu náusea e um terror profundo.

Abaixou a cabeça na água e começou a nadar, uma braçada depois da outra, batendo os pés com a maior força possível. Não tinha a sensação de movimento, só a força das águas correntes puxando-o para o lado e para outro. Não se atreveu a olhar para cima. Continuou a nadar na direção em que as águas levavam Kenji. Quando ergueu a cabeça para respirar, viu que tinha avançado um pouco — não muito, mas um pouco — para o sul. Estava mais perto de Kenji.

Isso o animou, o pânico já estava voltando. Estava exausto! Seus braços e suas pernas doíam com o esforço, os pulmões estavam em fogo. A respiração curta e áspera. Tossiu outra vez, respirou fundo, abaixou a cabeça e continuou a nadar, tentando chamar o nome do amigo, que da mesma forma lutava para se manter na superfície.

Aos poucos a dor aguda nos músculos se transformou numa dor surda e contínua. Era como se Ben tivesse vivido com ela toda a sua vida. Já não a notava mais. Continuou a nadar, sem pensar em nada além de salvar Kenji.

Kenji estava mais perto, mas para desespero de Ben não se movia. Respirou fundo, abaixou a cabeça na água e nadou como nunca antes o fizera. Quando emergiu Kenji estava próximo, com um esforço conseguiu alcançar o amigo que estava desacordado, o pânico estava vencendo aquela guerra, mas Ben não desistiria.

Com uma força descomunal, Ben tentava manter a cabeça de Kenji acima do nível da água – “Precisamos chegar nas margens, preciso nos segurar em algo” pensava repetidamente até que a chance surgiu, o rio fazia uma curva fechada que deixaria os dois próximos a margem, com um pequeno impulso Ben se posicionou, a mão esquerda segurando Kenji, a direita usando para segurar qualquer coisa na margem que pudesse usar para não ser levado pela correnteza. Então se agarrou a um punhado de plantas e cipós.

A dor que sentiu foi lacerante, a vegetação estava cheia de espinhos, mas ele não se importava, cada espinho que perfurava a pele da palma da mão do garoto era irrelevante, a dor? Agora ele já não sentia mais aquilo, estava anestesiado pela adrenalina, agora só o que importava era chegar a margem e Kenji, que não se movia.

Com jeito, conseguiu posicionar Kenji entre seus braços, o que foi difícil visto que ele era maior que Ben, e logo começou a tarefa monumental de puxar os dois para a margem. Ben já não ligava para dores, sentia os espinhos perfurarem a pele nas duas mãos, mas não desistia, por fim estavam na margem do rio.

Com um último esforço puxou Kenji para mais longe do rio possível – ele não respirava, não se movia, o pânico dominou Ben, a tempos que ele não sentia um medo naquela escala, de repente lágrimas começaram a cair de seu rosto e ele próprio em seguida.

Ben: Eu falhei... eu falhei – dizia para si enquanto olhava Kenji imóvel. Até que algo lhe veio à mente, era a imagem de Bolota recém-nascida, com a ajuda dela ele havia conseguido enfrentar os medos. “Não” disse para si mesmo, então se lembrou do curso de primeiros socorros que sua mãe o havia inscrito.

Mas do que depressa, procurou marcas que pudessem indicar lesões em Kenji – Nada, nenhuma sequer! O que foi um alivio. O garoto então colocou o amigo de barriga para cima, inclinou a cabeça de Kenji de modo a deixar as vias respiratórias livres, agora devia tampar as narinas de Kenji, de modo a impossibilitar que o ar ofertado escapasse.

Então ele corou, o próximo passo ele só havia praticado com manequins, deveria colocar os lábios em torno da boca da vítima e inspirar o ar pelo nariz normalmente, após isso deveria soprar o ar dentro da boca da pessoa, durante 1 segundo, fazendo o peito se elevar.

Ele não tinha tempo para aquilo, então o fez, seus lábios tocaram os dele, o ar dos seus pulmões passou para os dele. Mas nada de Kenji esboçar algum retorno, logo Ben começou a fazer massagem cardíacas, contava até 10 e repetia a respiração boca a boca, até Kenji tossiu e vômito um belo boca de água, Ben aliviado posicionou cabeça do amigo em seu colo.

Kenji: Obrigado por me salvar minha sereia – era claro que ele delirava. Falava algumas coisas que Ben não entendia, por fim disse algo que fez Ben chorar: “Obrigado Benny por não desistir de mim” e apagou.

***

Darius e as meninas estavam ocultos, sob a densa folhagem da copa daquela árvore que lhe servia de abrigo na noite, o dia já raiava e nem sinal de Ben e Kenji. “temos que traça um plano de fuga” diz o garoto. “ e resgate” completou Sammy.

Sammy: Nada de Ben e Kenji! E se algo aconteceu? Algo... – as palavras pareciam amargas na boca da garota – como os raptores? Diz ela com ar de preocupação.

Yaz: Não se preocupe Sammy, se fosse apenas o bobo do Kenji eu me preocuparia, mas Ben está com eles, eles vão ficar bem – dizia Yaz tentando passar confiança para os demais, mas a verdade é que ela não tinha conseguido dormir direito, pensando onde Ben e Kenji poderiam estar.

Brooklynn: Tem mais coisa – dizia a garota com tom severo e preocupado – precisamos de mais gasolina para o barco, não sei se o que temos é suficiente para sair daqui e chegar até o continente – todos concordaram.

Darius: Então chegamos a um consenso – todos se olharam. Vamos atrás de Ben e Kenji, depois vamos atrás de gasolina e dar o fora daqui.

Yaz: Mas antes vamos ver se conseguimos alguma coisa para usar contra os raptores, afinal eles estão soltos aqui e são tão ameaçadores quanto aquela megera irritante – Yaz falava e olhava na direção do galpão onde horas atrás Melissa havia entrado junto com um grupo de cientistas, seguidos por um grupo de soldados que carregava o corpo de um dos experimentos para dentro.

Sammy: Acho que entre ela e os raptores eu prefiro os raptores – dizia Sammy encarando Yaz, que abraçou a amiga logo em seguida.

Yaz: Ela que não se atreva a toca em um fio de cabelo seu – juntas as garotas sorriram. Logo em seguida todos desceram e, se esgueirando, foram em direção da base com esperança de encontrar algo que pudessem usar contra os animais e contra Melissa e seus capangas.

***

De volta a selva, nas margens do rio, Kenji havia adormecido com a cabeça apoiada no colo de Ben, este de tão exausto que estava havia dormido logo em seguida, sem sequer se preocupar em achar um lugar seguro para os dois, por sorte nada aconteceu no resto da noite e os primeiros raios mornos da manhã tocaram o rosto de Ben que despertou.

Ben despertou, em seguida um barulho lhe chamou a atenção, pelo que ficou apreensivo, contudo não passava de uma ave, as ilhas do pacífico são conhecidas pela sua incontável variedade de aves, pensou.

Gentilmente, com cuidado, ele apoiou a cabeça de Kenji em um punhado de folhas, uma espécie de travesseiro improvisado, e se preparou para sair, precisava saber até aonde o rio os havia levado. Mas um olhar, o rosto de Kenji estava sereno, não era como o de costume, havia algo diferente, ele estava em paz.

Ben se preparou para subir na árvore mais próxima, um impulso, e logo foi tomado por uma dor terrível nas mãos, ele parou por um instante para contemplar as ataduras improvisadas que havia feito com sua bandana, pequenas manchas de sangue já se formavam, ele tinha quase certeza que não havia conseguido remover alguns dos espinhos, mas não tinha tempo para isso, mesmo com dor, pouco a pouco, ele conseguiu escalar árvore a sua frente, e de repente um sorriso se formou em seu rosto: o Litoral!

Ben: Claro, o rio deve correr no sentido do mar! Exclamou o garoto aliviado. Logo desceu da árvore e se dirigiu até o local em que Kenji estava, este por sua vez acabará de acordar e abriu um largo sorriso ao ver Ben.

Kenji: Pela sua cara deve ser alguma notícia boa! É o resgate ou algo assim? Perguntou o garoto esperançoso.

Ben: Infelizmente não, mas é uma notícia boa, o rio nos trouxe até próximo do litoral, os outros devem estar por perto da base, precisamos encontra-los e dar um jeito de escapar dessa ilha.

Kenji, meio cabisbaixo, apenas limitou-se a concordar com um aceno de cabeça.

Ben: Ei não fica assim! Darius certamente tem um plano, ele sempre tem! – mal Ben terminou a frase e Kenji já havia fechado a cara.

Kenji: Sim.... provavelmente o plano dele vai arriscar um de nós. – Kenji parecia com raiva e decepcionado. Eu nunca arriscaria a vida de um amigo, eu nunca abandonaria nenhum dos meus amigos – dizia o garoto incisivo, Ben permanecia calado e pensativo, “como Kenji podia ter mudado de um bobo feliz para um idiota irritante com tanta facilidade?”

Ben: Mas você já fez isso... – disse o garoto sem cerimônia, com uma voz vazia, triste e melancólica. Kenji, por sua vez, estava em choque com aquelas palavras, atordoado seria a palavra exata para defini-lo naquele momento.

Kenji: EU JAMAIS FARIA ISSO! – protestou o garoto se pondo de pé. Ao passo que tranquilamente Ben já havia se posto de pé e encarava Kenji.

Ben: Você já fez... comigo. Você e os outros me abandonaram – seguiu falando com voz triste – eu sei que a situação era diferente, mas não é justo exigir de Darius uma postura que você não teve. Ele só fez o que achou que era certo naquele momento, assim como vocês o fizeram no monotrilho.

Kenji permanecia calado em choque, Enquanto Ben prosseguia.

Ben: Porque apenas Darius tentou me ajudar? Onde todos vocês estavam? Onde você estava? Quando Sammy quase caiu da torre da tirolesa vocês foram ajudar ela... Então porque não fizeram o mesmo por mim? – durante o período em que esteve só na selva Ben relembrará cada um desses momentos. Porém, sabia que de nada adiantaria remoer aquilo, amava os amigos que tinha feito, e sabia mais do que ninguém que sob pressão tomamos decisões que às vezes nem sempre são as melhores. Mas as palavras de Kenji... o egoísmo dele em relação a Darius foi o “pingo que fez o copo transbordar”.

Kenji, por sua vez, permanecia calado, não sabia o que dizer, aquelas palavras haviam lhe atingido como mil facas, lá estavam ele e Ben , frente a frente, com Ben dizendo coisas que até então Kenji não havia sequer imaginado ouvir alguma vez em sua vida. Ele se sentia um idiota, ele desviava o olhar de Ben, não conseguia encara-lo. Ben, por outro lado, apenas observava Kenji, esperava que ele desse qualquer desculpa esfarrapada que fosse, ele aceitaria. Porém Kenji nada disse. Após um tempo, que para ambos pareceu uma eternidade, Ben respirou fundo, procurou um galho que pudesse usar como bastão e voltou o olhar para Kenji.

Ben: Vamos, não podemos permanecer parados, não é seguro... vamos atrás dos outros -  dizia o garoto apontando na direção do litoral. Kenji apenas fez que sim com a cabeça. E sob a sombra das árvores os dois se puseram a caminhar, lado a lado, e mais nenhuma palavra foi dita.

Continua....

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