Arabescos escuros

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1967 - Uma das crianças da igreja morreu no domingo em que Sanji não pudera jogar bola. Foi durante a noite e chovia bastante. Kuina era uma grande amiga de Zoro e o primeiro amor de Sanji, os dois eram muito novos para lidar com a perda. Quando você é criança, ninguém morre ao seu redor e quando morre, você não se importa. Mas os dois já se importavam e havia um bom tempo que se importavam. Kuina era doente e sua morte se aproximava. Sanji superou sua morte, mas Zoro não. Isso fez com que pensasse que Kuina era também o primeiro amor de seu melhor amigo.

1977 - A placa ao lado da estrada anunciava que estavam finalmente em Loguetown. Era de noite e chovia bastante. Embora seu braço direito estar ferido por conta de mexer no motor naquela hora, Sanji dirigia bem. Zoro estava acordado ao seu lado e fitava a queimadura no seu braço.

— Ei, ei ei!!! - Repentinamente, o loiro se inclinou para o lado do marimo a fim de pegar algo no porta-luvas. Zoro corou com essa ação abrupta. - Pega um.

Fitou o objeto cilíndrico em mãos, enquanto Sanji já abria o dele. Confetes coloridos saíram num estouro que lhe assustou, Zoro voltou a fitar o loiro, mas dessa vez com os olhos apertados por sua estupidez. - Pra quê isso, tarado de merda? - Tirava os confetes que caíram sobre a cabeça e ombros, revoltado.

Sanji deu um suspiro pelo amigo ser tão sem graça, enquanto voltava a se focar na estrada. - Só explode essa porra!

— E por quê?!

— Apenas quero comemorar nossa chegada.

Zoro revirou os olhos e jogou o objeto, ainda fechado, de volta para o porta-luvas. - Acho que tem mais que se preocupar com essa queimadura. - Apontou numa área descoberta do braço de Sanji. - Precisamos ir numa farmácia.

— Nessa chuva? Acho melhor deixar pra amanhã e apenas caçar um lugar para nos alojarmos.

— Não, passe na farmácia antes. - Disse num tom imperativo e Sanji deu um pequeno suspiro com um sorriso em seguida, pensando que o marimo ficava até fofo preocupado.

Saíram da farmácia e voltaram correndo pro carro, pois ainda chovia e estacionaram no outro lado da avenida. Sanji despejou no colo o material que usaria para fazer o seu curativo, mas Zoro se ofereceu no seu lugar.

— Não precisa, eu sei fazer um.

Zoro ignorou o que Sanji disse e passou a fazer o curativo. - Não se esqueça que está usando só uma mão. - O loiro riu, realmente era fofo vê-lo preocupado. - O que foi agora?

— Nada. - Respondeu e resolveu ligar o rádio com a mão boa, no programa da noite era anunciado a morte de Elvis Presley. Sanji ficou surpreso com a notícia, já Zoro não se importou. Não era nenhum fã, apesar do loiro não ser um também, mas pelo menos sabia que Elvis era um grande artista e por isso sentiu empatia. - Seu insensível... - Resmungou depois de ver seu amigo dando de ombros.

O Opala passava pelas ruas e avenidas de Loguetown a procura do alojamento que o farmacêutico dera o endereço. A chuva havia parado, portanto, estava mais fácil de observar os prédios e arranhacéus que envolviam a metrópole. Zoro e Sanji sentiram na pele a imensidão da cidade e pensaram que era muito diferente da cidadezinha que vieram. Será que conseguiriam sobreviver num lugar com tanta luz? O carro morreu novamente.

— Esse lugar fede! - Reclamou Zoro, enquanto empurrava o carro numa rua junto de Sanji.

Realmente fedia bastante, fedia a peixe e a mijo. - Deve ser o porto.

O carro voltou a funcionar e os dois entraram para continuarem com a busca do alojamento. Porém, assim que Sanji teve o volante em mãos, uma ratazana atravessou a rua com os faróis do carro mirados para ela. Depois de trocar olhares com o marimo, Sanji apenas deu um sorriso sem graça perante ao olhar ameaçador de Zoro. Com certeza ele não estava nem um pouco positivo diante àquela aventura.

Chegaram na pensão que o farmacêutico indicara, era um prédio baixo que ficava numa ruela mal iluminada. O interior do primeiro andar era amplo, as paredes eram revestidas num papel de parede de arabescos, isso dava um ar fúnebre ao local, pois as cores eram escuras. Sanji viu claramente que o prédio era velho e parecia estar caindo aos pedaços quando o corrimão se soltava um pouco da escada. Pensou em dar meia volta e partir com o marimo para outro lugar, mas uma bela mulher desceu as escadas.

— Estão a procura de um quarto? - Perguntou assim que parou à frente deles. Era uma mulher de cabelos verdes e usava um lenço na cabeça.

Sanji ficou petrificado com sua beleza e Zoro teve que responder. - Sim, um quarto. Por quanto fica?

— 40 Bellies por mês. - Respondeu e com o aceno do esverdeado, foi até a parede por trás da bancada buscar uma das chaves penduradas. - Aqui, vejam se esse quarto lhes agradam. Meu nome é Makino e, por favor, desçam para o jantar. - No entanto, algo em Sanji chamou sua atenção e, por incrível que pareça, não eram os corações que lhe rodeavam. - Isso no braço...

Ao ver Makino apontando no seu braço para dizer que se referia ao dele, Sanji despertou. - Isso?! Não é nada!!!

— O curativo não me parece certo...

Zoro desviou o olhar dos dois, porque fora ele que fez e realmente não era bom nisso, Sanji até mesmo faria melhor só com a mão esquerda.

— Está tudo bem, senhorita Makino, gosto dele assim. - Deu um de seus sorrisos gentis e Makino não conseguiu deixar de responder na mesma intensidade. Ela sentiu que os dois eram bom rapazes, até porque o de cabelo verde estava corado, entendeu que fora ele que fizera o curativo.

Depois de dar dinheiro para três meses, os dois subiram a escada caindo aos pedaços. Durante o caminho, Sanji dizia furioso que não gostou de dividir o quarto com o marimo.

— Senhorita Makino vai achar que somos um casal. - Resmungou Sanji, ao lado de Zoro, que abria a porta com a chave e que pensou que ela já devia vê-los como um casal.

— O que posso fazer?! Você tava em outro mundo e eu tive que falar com ela sozinho!

A porta abriu, os dois puderam ver pelo hall que o cômodo tinha uma cama, um sofá, um armário e um banheiro. No quarto havia aquele papel de parede de arabescos escuros, mas uma parte estava descolando por conta de uma infiltração. O quarto também cheirava a peixe e a mijo como o resto de Loguetown.

— Bem... não é muito bom, mas quem que começa já bem? - Sanji deu um sorriso fraco para Zoro, ele tinha certeza que o amigo iria surtar mais uma vez. - Quem dorme na cama? - Perguntou ainda sem graça.

Mal falou e Zoro se jogou no sofá velho, largando suas malas no hall perto de Sanji. - Eu durmo em qualquer lugar...

Isso era verdade e bastou um segundo para o marimo cair num sono profundo. Sanji sorriu, colocou as malas em algum canto e se deitou na cama com cuidado, sentindo o colchão de molas. Porém, viu que Zoro estava descoberto e se levantou de novo para cobri-lo.

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