1970 - Sanji sabia desde o início que aquela hora ia chegar. Para ser mais preciso, desde que a viu beijando sua amiga. O motivo dessa lembrança estar tão fresca na sua mente não era porque achou estranho sua mãe beijar outra mulher, mas sim porque, naquele momento, ela se mostrou infeliz pela primeira vez aos seus olhos.
Chovia como no dia do enterro de Kuina, Sanji se lembrou que Zoro não aparecera para se despedir da amiga e agora ele conseguia entender melhor o motivo. Fumava debaixo de uma sacada, longe de todos. Se alguém perguntasse porque sumiu, diria que a culpa era da chuva, mas pra falar a verdade, ninguém ousaria fazer uma pergunta.
Zoro apareceu ensopado ao seu lado e depois de fitar o seu olhar preocupado, Sanji se deslizou na parede até se sentar no chão. Abraçou suas pernas e escondeu o rosto nos braços, gemia e chorava. Muito. O marimo lhe observava triste, o jeito que sua mãe morreu fora muito trágico.
1977 - Milagrosamente, Zoro acordou. Olhou ao seu redor e não viu Sanji como na outra manhã, pelo menos Luffy não estava ali soprando na sua cara. Levantou-se, lembrando que nesse dia faria entrevistas de emprego junto do idiota tarado, portanto, precisava se arrumar.
Quando chegou na cozinha, Sanji discutia com Luffy muito bravo. O garoto se sentia culpado, dava para notar em seu rosto, e Zoro só saberia o que houve quando Makino lhe explicasse que Luffy havia "assaltado" a geladeira durante a madrugada.
— Céus! Acho que vou ter que comprar uma corrente e um cadeado para essa geladeira. - Disse Sanji, num tom mais suave e Makino riu. - Pode tomar seu café, vai.
— Sério?! - Luffy ficou tão feliz ao saber que poderia comer, que abraçou Sanji bem apertado. Zoro observava a cena e era tanta alegria que ele pensou ter visto o corpo do garoto enroscar no de Sanji.
— Tá, já entendi! Agora desgruda de mim!! - Luffy se desgrudou e o loiro notou que o saco sem fundo amassou o seu terno bem num dia que precisaria muito dele, mas finalmente notou a presença do marimo. - Marimo, o nó da sua gravata está horrível!
— Sério, Sanji? Achei que combinou com ele. - Respondeu Makino, enquanto olhava para Zoro, sorridente e sincera. Os dois pensaram juntos que a mulher tinha algum problema. Não era só esse gosto esquisito por gravatas, mas a pensão podia muito bem cair com apenas um assobio do lobo mau. Como deixou o lugar chegar nesse nível? Sim! O marido estava fora, mas eles sentiam que o homem não deveria ser tão diferente dela.
Contudo, ela estava certa. Aquele nó de qualquer jeito combinava mesmo com o marimo e sua cara bagunçada e preguiçosa. - Tem mesmo razão, senhorita Makino! - Sanji concordou com a senhoria e ela lhe retornou com um sorriso satisfeito. Zoro percebeu o sarcasmo e praguejou o idiota.
Mais tarde, Sanji com certeza arrumaria a gravata do marimo.
Não parecia ser um dia de sorte, o Opala vermelho não funcionou e tiveram que pegar ônibus para irem na estação de trem. O cheiro de peixe e mijo pairava no ar, mas dessa vez com o cheiro de combustível também. O ônibus teve que dar um desvio, porque acontecia na avenida um protesto com universitários exigindo direitos civis.
— Ei, marimo... Você tem vontade de voltar a estudar?
Os rapazes estavam num trem lotado de gente e todo pichado. De pé, se seguravam nos suportes com alças.
— Hm... Você quer falar disso agora?
Zoro estava ao lado de Sanji, mas mesmo assim ter uma conversa seria difícil no meio de tantas pessoas.
— Só diga não ou sim, caralho!
— Sei lá. - Respondeu meio puto. - Você tem?
— Gostaria de fazer gastronomia.
Zoro ouviu e pensou se isso não seria um sonho que Sanji almejava.
— Estude, eu posso trabalhar por você.
— Quê?! E quem vai ser sua bússola? Se valorize, idiota.
Ficou tão aborrecido com isso, que precisava dar uma tragada. Detestava quando Zoro vinha com esses pensamentos. Ele achava que era um cordeiro pra ser sacrificado?
Depois de pegarem o trem subterrâneo, andaram em algumas ruas. Sanji fumava desesperadamente, mas ficava com os olhos cravados em Zoro. Seu amigo era um imbecil, se perdia facilmente desde que nasceu e o loiro se perguntava se deveria levá-lo ao um médico ou não. Chegaram numa loja de discos que procurava por ajudantes, chamada Cold Disk, os dois pretendiam ser esses ajudantes e por isso pegaram a placa com o anúncio da vitrine assim que entraram.
O lugar era amplo e envolto por pratileiras com discos separados por gênero, um cliente usava a cabine de audição. Sanji e Zoro piscaram os olhos com certa confusão, nunca haviam entrado numa loja de discos antes. Um cara magrelo, alto e com um afro se aproximou. Ele notou Zoro segurando a placa.
— Estão vestidos para um casamento? - Perguntou e os outros dois olharam para si. De fato, terno e gravata não combinavam com aquele ambiente. - A propósito, meu nome é Brook, yohohoho! Sou o proprietário dessa loja.
Os rapazes se entreolharam, acharam a risada... diferente.
A loja fechou para o horário do almoço, Sanji e Zoro fizeram a entrevista e torciam que Brook telefonasse. Parecia um cara legal, se vestia que nem o Jimi Hendrix, esse artista até o marimo sabia quem era. Partiam para a próxima entrevista.
— Um parque? - Murmurou Zoro.
— Quer ver? Temos tempo.
Os dois atravessaram o imenso portão, muita gente se encontrava no local e muitas descansavam na margem do lago. O fedor não era muito forte ali, acharam agradável até e resolveram também se sentar na grama próxima ao lago. Sanji fumava e Zoro aproveitou a sombra das árvores para descansar, deitando-se.
— Do que gosta, marimo?
— Ham?!
— Só gosta de dormir?!
— Quê?! Do que gosto?
— Tu é lento. Não tem mesmo vontade de entrar numa universidade?
— Ham? Esse assunto de novo?
— Caralho, você é lento!
A noite, Makino diria que alguém estava no telefone. Era Brook aceitando os seus serviços.
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Somedays
RomansaZoro e Sanji se mudam para a capital na esperança de tudo dar certo no novo estilo de vida, que será nada fácil. Largam para trás não só o lugar em que nasceram, como também memórias embaçadas. [zosan]