O fim

284 42 29
                                    

1973 - Zoro se jogou sobre o corpo de Sanji na cama. Tentou tirar seu casaco, mas o loiro resistia lhe dando alguns golpes e revirando o corpo de um lado pro outro, queria tirá-lo de cima dele. No entanto, o marimo conseguiu imobilizá-lo e suspendeu sua camisa debaixo do casaco, tendo a certeza de que os boatos estavam certos. Sua pele alva estava coberta de hematomas e os olhos de Zoro lacrimejavam ainda abertos de tanto espanto. Como nunca notou isso antes?

— Desde quando ele te bate, sobrancelha enrolada?

Sanji virou o rosto pra porta de seu quarto, enquanto Zoro ainda segurava seus pulsos, pressionando-os contra o colchão. - Me deixe sair.

Surpreendentemente, seu amigo soltou os seus pulsos, mas não por que pediu e sim porque queria abraçá-lo. O corpo de Zoro ainda estava sobre o seu, ele chorava enquanto tentava envolver sua cintura com os braços fortes dele. Sanji levantou o torso para que esse abraço acontecesse, Zoro pousou o queixo no ombro de Sanji e sussurrou. - Eu te amo, sobrancelha enrolada.

— Eu sei disso. - Respondeu e finalmente chorou com aquele toque tão tenro sobre suas feridas.

Os dois se beijaram.

1977 - Dois meses se passaram e os dois rapazes pensavam a mesma coisa "estou ainda vivo". Trabalhavam de segunda a sexta na loja de discos de Brook, que se revelou ser mesmo uma boa pessoa. Porém, era meio esquisito quando perguntava a alguma garota se podia ver suas roupas de baixo. Brook também sabia tocar, disse que em casa tinha um piano e na loja costumava tocar os intrumentos que vendia, como violão e guitarra, antes de efetuar uma compra. Amava chá e era uma pessoa bem despreocupada, mas as aparências enganam, não é mesmo? Com Brook não seria diferente. Esteve no Woodstock de 69 e já fora preso por conta de participar de um protesto antirracista. Brook vivera bem as mudanças do mundo durante as décadas de 60 e 70.

Um dia Sanji tivera uma febre, Zoro ficou preocupado e Makino teve que levá-lo ao trabalho. Luffy olhou por Sanji, enquanto ela estivesse fora. Durante a ida, Makino contou para o marimo que seu marido faria 2 anos na viagem de trabalho. Zoro se assustou com essa revelação, não imaginava que estava tanto tempo fora, mas a senhoria parecia se dar bem com isso quando continuava a sorrir.

— Não sente falta dele?

— Sinto, mas tá tudo bem quando vejo que Luffy está ao meu lado.

Costumavam voltar do trabalho no final da tarde, como era verão, o céu ainda permanecia claro. Às vezes visitavam o parque só para ouvirem as cigarras cantar. Escutar um insento em vez de uma buzina de carro era algo que eles não faziam ideia que iriam ansiar tanto um dia. Enquanto descansavam a mente se lembravam da árvore depois dos campos de centeio, do cheiro de terra e da brisa gostosa. Claro que sentiam também saudades dela. Saudades de Kuina.

Após o expediente, gostavam de ir beber num bar também. A bargirl era uma moça de cabelos longos e ruivos e Sanji estava apaixonado por ela, nada de novo por aqui. Já Zoro focava nas bebidas e não percebia as cantadas e os olhares de mulheres lhe secando. O marimo era realmente bonito, alto e de corpo atlético, a cor de sua pele era exótica, mas tonto também, afinal, nada nesse mundo é perfeito. Sanji odiava vê-lo desperdiçando tantas chances bem embaixo de seu nariz. Algumas vezes as mulheres lhe tocavam, porém, sempre achava que era um esbarrão acidental.

— Ei, marimo, por que não faz educação física?

Estavam no balcão do bar bebendo cerveja. A garota ruiva atendia outras pessoas, fazendo Sanji voltar sua atenção a Zoro.

— Por que educação física?

— Porque é forte. - Tocou com a ponta do dedo num de seus bíceps.

Por mais tonto que era, Zoro já havia percebido que seu porte era bem diferente do sobrancelha enrolada e ele achava que o motivo seria os trabalhos braçais que fazia numa fazenda pra sustentar sua família.

— Pode ser.

— Ótimo, marimo! - Sanji exclamou empolgado. - Eu faço gastronomia e você educação física na universidade de Loguetown!!! Vamos estudar assim que chegarmos em casa!!!

Zoro estreitou os olhos, percebeu que o amigo estava bêbado e nunca que conseguiria estudar assim. Mas, por ele estar bêbado, voltou com aquele papo de ingressar uma universidade, que continha dentro de si em segredo. Nesse momento, o marimo teve certeza que esse era o sonho de Sanji, se tornar algo parecido de um padeiro (ele não entendia bem as profissões ligadas à cozinha) e se sentiu triste por não ter percebido isso antes, exatamente como aconteceu quando não percebeu os hematomas.

Quando voltavam para a pensão, encontravam Luffy quase sempre jogando futebol na ruela com amigos. Uma vez a bola foi parar na janela da pensão e Makino resolveu deixá-la sem o vidro, porque era um registro de um momento feliz de Luffy. Começaram a entender como a cabeça da mulher funcionava e por que o estabelecimento estava em pedaços.

Naquela noite, os dois estavam sentados no sofá do quarto. Um rádio, que Brook dera, tocava alguma canção do Led Zeppelin. Sanji fumava um cigarro e se sentava de qualquer jeito. Zoro apoiava o rosto numa mão com o cotovelo no braço do sofá, escutava a canção enquanto pensava que conheceram boas pessoas nessa cidade. Até mesmo a bargirl que seu amigo dava em cima era gente boa, apesar de Zoro ter certeza de que era uma bruxa mercenária.

— Você estava certo. - Disse.

— Oi?! - O loiro que fitava um ponto aleatório, ajeitou a postura e continuou a ouvir depois de apagar o cigarro no cinzeiro.

— Sobre nossa aventura. - Respondeu com um sorriso de canto. - Acho que foi a melhor decisão que você já teve.

Sanji riu. - Verdade, mas não sei por que aceitou vir comigo.

O marimo relutava de ir por conta de Kuina. Mesmo Zoro saber que ela já não existia mais, queria ainda visitá-la em sua lápide debaixo da árvore que os três costumavam escalar. Sanji respeitava esse desejo e por isso que não gostava de lembrá-lo que ela estava morta.

— Eu vi que precisava continuar a viver. - Respondeu. - E eu também não queria te deixar. - Revelou.

O outro abriu o olhar, surpreso. - Você escolheu a mim e não a Kuina?

Zoro virou o rosto para Sanji, viu sua cara de espanto e pensou que havia cuidado muito mal dele. Estava morto por dentro e nunca foi muito claro sobre seus sentimentos, deixando o sobrancelha enrolada somente na expectativa. Aquele idiota devia sofrer com sua apatia e frieza, porque o esverdeado acreditava que não podia ser feliz ou continuar a viver. Primeiro quando Kuina morreu e segundo quando suspendeu o casaco de Sanji naquela tarde.

Mas Sanji continuou ao seu lado, esperando pelo seu renascimento.

— Eu te amo, sobrancelha enrolada.

Chorou ao ouvir tais palavras da pessoa que mais amava, enxugou as lágrimas com o antebraço. - Quer dormir na cama comigo essa noite?

— Sempre.

SomedaysOnde histórias criam vida. Descubra agora