três: linha tênue.

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⚠️ esse capítulo contém cenas de violência vivenciadas pelo jj. eu não tenho nenhum compromisso com a realidade ao citá-las, qualquer erro, me avisem.

⚠️ nesse capítulo, vômito é citado. não é descrito nem nada do tipo, mas apenas para avisá-los.

em ambas as situações, colocarei um asterisco para indicá-las.

de qualquer forma, caso tenham alguma dúvida, me chamem. boa leitura!! 💐💐

"He set fire to the world around him but never let a flame touch her."

** Um mês.

Esse foi o tempo que a paz de JJ durou.

Ele sabia que seu sono não seria mais o mesmo depois que voltasse. Acostumou-se a descansar em momentos onde a falta de acontecimentos era mais preocupante do que o tumulto, sendo acordado repetidas vezes em meio a tiroteios, gritos e ordens.

JJ se lembrava do seu pior dia. Segunda semana no deserto, já não suportava mais o armamento pesado e as roupas quentes. Havia rumores de que alguns reféns oriundos do exército americano seriam libertados, então parte das tropas iriam até o ponto de encontro. Ao total, 26 pessoas, entre soldados e superiores, estavam sendo devolvidos ao exército. Foi a primeira vez que JJ sentiu medo.

Foi como um filme. Em um minuto, ele estava junto a mais dois colegas, vasculhando o perímetro. No outro, jogado no chão, atrás de pedras, porque simplesmente era uma emboscada e o exército inimigo inteiro estava atrás deles. JJ teve que dar cobertura para muitos dos seus colegas, mais experientes do que ele, a maioria dependendo do que Maybank conseguia se lembrar do seu treinamento. Ele jurou nunca ter visto tanta tragédia e loucura em um único dia.

Viu dezenas de militares da sua base perderem a vida. Dois ao seu lado. Um para protegê-lo. **

E foi essa cena horrível que se repetiu em seus sonhos naquela noite. Sarah e Jonh B dormiam no quarto ao lado, mas JJ acordou antes que pudesse gritar. Respirou fundo três ou quatro vezes para acostumar sua mente com o ambiente seguro e acolhedor que estava.

Está tudo bem, ele repetia. Não estou mais lá. Está tudo bem.

O mantra não foi o suficiente para fazê-lo dormir. Talvez se ele ainda estivesse na casa de Kiara, como fez na primeira semana, ela poderia o ajudar, mesmo sem saber os motivos de o sargento ter acordado suado e trêmulo. Pegou o celular, conferindo o horário.

Duas e meia. Nos primeiros dias de volta à ilha, era mais ou menos nesse horário que Kiara iria dormir, geralmente porque JJ saía do quarto onde estava e a chamava. A professora ficava até tarde corrigindo trabalhos, coisa e tal, mas foi descoberta, quase sempre reclamando, mas não demorava muito tempo para cair no sono, de fato. JJ memorizou a hora porque levantou-se para beber água e encontrou a mulher prendendo os cabelos, as mãos fixas em uma caneca de café pela metade e olheiras fundas abaixo dos olhos, denunciando aquilo como uma rotina.

Se ele colocou o despertador nesse mesmo horário para conferir se ela já estava na cama, ninguém poderia o julgar.

Mas porra, sentia falta da sua vida de seis anos atrás, pelo menos a que tinha antes das responsabilidades. Seu pai o batia e o homem, adolescente na época, praguejava e xingava a tudo e a todos, mas tinha uma relação perfeita com os amigos. Suas madrugadas eram as melhores possíveis quando atrapalhava o sono de Kiara para falar besteiras, mas no fundo, o fazia porque ter alguém para desejar-lhe boa noite era o seu maior desejo naquele momento.

— Parece uma criança, porra. — Murmurou, bufando, ao dedilhar o móvel ao lado da cama para ter o celular em mãos e discar o número de Kiara. Felizmente, no segundo toque, o atendeu. — O que você está fazendo acordada?

Treacherous | jiaraOnde histórias criam vida. Descubra agora