3. quem te conhece melhor que ninguém

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TW: menção a agressão física.

Não fui direto para a casa depois de... Tudo. Nem para nenhum lugar que frequentava normalmente. Longe do óbvio, de onde qualquer conhecido pudesse me encontrar. Por sorte, tinha minha carteira no bolso e consegui pegar um ônibus para o centro. Estava, de fato, tentando me esconder de tudo e de todos ao mesmo tempo em que tentava não pensar a respeito do que acabara de acontecer. Embora, custasse muito tentar ignorar, porque havia sido meu primeiro beijo. Com um garoto. Com o meu melhor amigo. Com o cara que eu amava.

Meus lábios ainda pareciam formigar, mesmo horas depois, enquanto ainda estava em minha jornada sem rumo pela cidade. A sensação fantasma dos lábios cheios e macios contra os meus, surpreendentemente sem recusa. Na verdade, ainda precisaria analisar aquela situação. Não parecia minimamente plausível que Namjoon só tivesse ficado parado lá e deixado acontecer, sem nenhum tipo de reação. Como todo o resto, talvez fosse só um sonho. Só mais um de meus intermináveis devaneios a respeito dele.

Por mais que ansiedade me impedisse de ter fome e a falta de dinheiro fosse me impedir de comer qualquer coisa na rua, de todo jeito, voltei para casa na hora do jantar. Apenas para encontrar minha mãe sentada no sofá da sala, balançando a perna de um jeito ansioso. Meu pai andando de um lado para o outro naquele espaço pequeno e meu irmão um tanto apreensivo ao telefone, com uma caderneta de contatos em mãos. Nada de jantar sobre a mesa, estavam esperando por notícias minhas. O alívio durou apenas o tempo necessário para que meu pai suspirasse, relaxando os músculos ao ver que eu estava bem, então ele me tomou pelo braço e me arrastou escada acima, sem dizer muita coisa. Sem nenhum protesto da minha mãe, apesar de seu olhar assustado. Nem do meu irmão que ainda estava ao lado do telefone.

Em meu quarto, a conversa se estendeu um pouco mais enquanto ele soltava o cinto dos passadores, me dando uma prévia do que aconteceria em seguida. Aquela não era a primeira vez que meu pai tirava o cinto para me bater, mas era Geumjae quem apanhou mais entre nós dois. A lembrança da dor era o bastante para me fazer encolher os ombros e fechar os olhos, pela expectativa negativa. Contudo, meu pai gritou para que eu o olhasse. E me deu um sermão extremamente carregado de ódio e preconceito a respeito do meu comportamento daquela manhã. Citou Deus, a bíblia, sodomia e o inferno. Aparentemente, havia uma conexão entre todas essas coisas, mas eu não conseguia prestar atenção. O volume da voz de meu pai era alto demais, carregado demais, e ele permanecia sacudindo o cinto em minha direção enquanto falava, me deixando temeroso que atingisse meu rosto. O tópico seguinte era a vergonha que eu fizera minha família passar. O quão desrespeitoso havia sido com meus colegas e, especialmente, com Namjoon. Desejei com todas as minhas forças que ele parasse de falar e apenas começasse minha surra logo. Porque eu não precisava de nenhum lembrete sobre o pandemônio que causei naquela manhã.

Contudo, o que interrompeu meu pai não foi o meu pedido divino, mas o toque do telefone do meu quarto, que pegou nós dois de surpresa. Minha linha era praticamente exclusiva, dificilmente recebia ligações de alguém que não fosse Namjoon e eu sabia, sabia com cada fibra do meu corpo quando desviei os olhos para o aparelho sobre a televisão de tubo que era ele ligando. Mas não consegui atender a chamada.






Naquela noite, meu pai me deu a pior surra da minha vida e decretou que eu deveria sair de casa. As súplicas da minha mãe não adiantaram de nada, nem os pedidos de meu irmão para que ele reconsiderasse a decisão. Meu pai não era do tipo que voltava atrás. Não havia argumentação válida que o fizesse mudar de ideia, ele era turrão assim. Entretanto, estava estranhamente calmo enquanto todo o meu corpo queimava nas áreas atingidas pelo couro do cinto. Não queria discutir. Não queria falar nada, na verdade.

balada de uma saudadeOnde histórias criam vida. Descubra agora