Cap.5

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Minha mãe sempre havia sido uma mulher vaidosa, de maneira que me lembro na infância, aos domingos, meu pai do lado de fora da casa preparando a carne do almoço na churrasqueira e ela dentro de casa preparando os acompanhamentos, ela usava vestido com cores alegres e saltos. Ela sempre havia sido incrível e eu sempre tentei não deixar esse brilho apagar.

A 3 anos atrás meu pai morreu num acidente de carro voltando para casa. Ele dirigia bem, mas o outro motorista estava embriagado e acabou batendo no carro dele em alta velocidade. Meu pai havia tentado desviar mas ao invés de isso salvá-lo, acabou sendo o motivo pelo qual seu carro capotou na estrada e pegou fogo logo em seguida. Tivemos que velá-lo em caixão fechado. 

Minha mãe ficou muito mau nos meses que se seguiram mas foi forte por mim, eu estava no último ano do meu colegial, com 17 anos, e ela sentia necessidade de me passar tranquilidade e segurança. Ela abdicou do seu luto para que eu estudasse com calma e pudesse ir para a universidade. Mas eu sabia que ela sofria, eles haviam sido amores da vida um do outro e nada, nunca mais, tamparia o buraco que foi aberto no peito dela.

Eu estudei muito para poder entrar na faculdade e cursar moda. Cresci vendo minha mãe se expressar por meio de suas roupas e isso me fez querer aprender mais sobre esse universo. Também tinha a intenção de trazer de volta o brilho que ela perdeu, ela tentava esconder tentando manter a rotina igual a antes. Mas gradativamente suas roupas se tornaram mais monótonas, os saltos foram esquecidos no fundo do armário e a maquiagem saindo da validade em cima de sua penteadeira.

Eu já tinha concluído o colegial e esperava alguma e-mail e que havia sido aceita em uma das universidades que havia me inscrito. Eu passei em todas. Mas antes de poder escolher uma e seguir adiante minha mãe foi diagnosticada com câncer na tireoide e, apesar de curável com o tratamento correto, não tínhamos dinheiro para isso. Larguei meus sonhos por ela, pois nada valeria a pena se ela não tivesse ali para ver. Comecei a trabalhar e consegui pagar seu tratamento.

Ela ainda não está curada mas, no ano passado, a doença parou de avançar e está começando a regredir aos poucos, o tratamento ainda deve demorar mais alguns anos, mas estamos esperançosas. Minha mãe voltou a se maquiar, bem menos do que antes, mas é um começo. Suas roupas não são mais tão monótonas e ela voltou a sorrir de verdade. Só que eu sei que, por causa da quimioterapia, a falta de cabelo é um dos grandes motivos para a vaidade dela não voltar a ser como era antes.

Por isso eu a levo até uma loja de perucas com cabelo humano, graças ao dinheiro que consegui com o acordo com Alex posso ajudar minha mãe em mais essa etapa.

- Filha. - Ela olhou para loja com os olhos brilhando e as lágrimas já escorrendo.

- Entre e escolha a que quiser.

-Mas como vamos...

-Eu recebi um aumento que é o suficiente mãe. - A abracei meio de lado, um tanto desengonçada. - A gente pode mãe.

Entramos na loja, eu fui direto me sentar enquanto minha mãe era atendida por uma das funcionárias. Não demorou muito pois parecia que ela sabia exatamente o que queria, um cabelo que lembrasse como o dela era e que lembrasse o meu. Depois de escolhido a atendente ensinou ela a como se colocar a peruca e todos os materias necessários para isso. Comprei tudo no dinheiro e minha mãe saiu da loja já com seu cabelo.

Nós sorriamos como fazíamos quando meu pai estava vivo. Era muito importante para mim ver minha mãe se sentindo bem e feliz. Depois disso fomos lanchar na praça de alimentação e assistimos um filme de comédia romântica que nos rendeu boas risadas.

Eu notei que ela estava começando a ficar cansada então sugeri irmos para casa, já estava perto do horário do meu trabalho também.

- Realmente já está na hora. Daqui a pouco preciso tomar meus remédios e estão em casa. - Eu comecei a chamar um Uber enquanto íamos para a saída do shopping, mas parei quando vi a BMW preta. 

Destinada à EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora