Capítulo 6

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Arquivo original... Livro revisado e  disponível na Amazon Kindle.

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 Ferdinando Fox

- Você realmente não sente raiva de sua mãe? – Me perguntou ele enquanto estávamos deitados em sua cama de lençol branco e cheiroso.

- Não. – Soprei com um sorriso contido o olhando. Ele se mostrava um pouco desconfortável em estar deitado comigo, mais não tinha feito questão de recusar meu chamado.

Não vou mentir que no começo eu sentia sim, sentia raiva por ela ter abandonado meu pai no momento em que ele mais precisava. E demorou muito para eu entender que ela merecia muito mais do que a vida que levávamos. Ela até tentou me levar com ela, mais eu me recusei a deixa-lo. E mesmo sendo só uma criança de treze anos eu entendi que precisava amadurecer, eu precisava ser o que meu pai precisasse. E então ela se foi.

- Você não tem mais contato com ela? – Sorri para Nestor, ele estava curioso sobre minha vida. Ainda que tentasse fazer rodeios, ele não conseguia, ser direto era da personalidade dele.

- Não tenho. – Falei e ele balançou a cabeça compreendendo. – Mais também não faço questão, sabe, ela sabe onde estou, onde eu moro e sabe onde me encontrar, então se ela quisesse me ver ela viria atrás.

- A vezes ela pode pensar exatamente como você. –Disse apoiando um lado de seu rosto em sua enorme mão.

Ele era incrivelmente belo, fodidamente sexy mesmo sem perceber, ou querer ser, quente feito o inferno. E estava começando a me parecer perigoso estar tão perto dele assim.

- Send my love to your new lover. (Mande meu amor para sua nova amada).

Treat her better. (Trate ela melhor). – Cantei para ele um trecho da música de Adele e ele sorriu, entendendo que eu não queria mais falar sobre isso.

- Meu irmão Miguel, teria pesadelos se te ouvisse cantar. – Disse dando um sorriso zombeteiro e carinhoso por lembrar do irmão.

- Eu poderia ser cantor, mais nasci pobre de mais para isso. – Falei e ele riu negando com a cabeça. – Uma vez até tentei expressar meu dom no bar do Zé lá no centro, fui expulso e até hoje não entendi o porquê. – Contei e ele gargalhou gostosamente jogando sua cabeça para trás e aos poucos ele foi parando de rir voltando a sua seriedade.

Ficamos em silencio nos olhando e por mais que eu repreendesse meu coração por se agitar, ele não me ouvia. Era um perigo cruel e desnecessário, mais ainda assim ele insistia em bater descompensado. Eu compreendia muito bem o que estava me acontecendo. Ser carente era assim mesmo, nos apegamos fácil a pessoas que nos trata bem. E Nestor me tratava, em dois dias ele me tratou bem melhor do que já mereci, e eu estava começando a me apegar, mais no fundo eu sabia que seria somente eu a me machucar.

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Nestor Escobar

Estacionei o conversível em frente à sua casa e ele saltou do carro. Ainda fiquei um tempo olhando a pequena casa de madeira a minha frente. Todas as casas na vila era feita dessa forma, a dele parecia ser a mais cuidada. Ele me olhava sorrindo com as mãos na cintura, era incrível perceber que ele não tinha vergonha de nada. Sai do carro compreendendo que era isso que ele queria. Ele me olhava em silencio e assim que dei a volta no carro parando em sua frente ele me abraçou pela cintura. Ainda fiquei um tempo com as mãos levantadas em sinal de rendição tentando compreender do porquê do abraço e do porquê do meu coração começar a bater tão rápido dentro do meu peito.

- Faça uma boa viagem. – Disse soltando um suspiro contra minha camisa social.

Com calma levei minha mão direita em sua nuca e adentrei ela em seu cabelo cacheado, a esquerda deixei sobre suas costas, senti ele sorrir contra minha camisa e suspirei. Enquanto acariciava seu cabelo ele levantou seu rosto para me olhar. Sua íris azuis estavam dilatadas.

Porra.

- Sorria mais Nestor. – Disse levando suas duas mãos ao meu rosto. – Seja feliz e sempre bondoso. - Concluiu sorrindo enquanto seus dedos puxavam levemente os pelos da minha bochecha.

- Não se meta em confusão. – Falei o afastando gentilmente.

- Eu nunca me meto, mais se não me encontrar, lembre-se. Eu devo dois agiotas. – Disse gargalhando e indo pegar sua mochila no banco de trás do carro. – Mande um beijo a sua família. – Disse e não esperou resposta.

Fiquei ainda parado o olhando entrar em casa, demorei bons segundos para compreender que eu realmente precisava ir embora, mais se eu não precisasse, eu certamente ainda iria.

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Assim que passei pela porta da mansão eu já comecei a ouvir as conversas animadas e risadas altas que vinha da sala. Parei um tempo os olhando silencioso. Matteo ria alto de algo que Normani dizia enquanto tentava prender o cabelo de Madda, Vinni conversava animado com Carmelita e meu pai, minha mãe alisava a barriga de Danielle que ria de algo que estava sendo falado em seu ouvido, e Miguel mostrava algo em seu teclado para o juiz. (Padrasto do meu cunhado, Vinni). Tudo estava em seu lugar como a meses era, e eu não entendia do porquê do vazio que eu sentia dentro de mim.

- Meu outro amor enfim chegou. – Disse minha mãe alegremente assim que me notou me tirando daquele estupor.

- O mais lindo chegou. – Disse Normani gargalhando.

- O mais mimado por papá. – Resmungou Matteo.

- Eu já falei que...

- NÃO MIMAMOS NINGUÉM. – Gritou Matteo, Normani e Miguel em uníssono cortando a fala do nosso pai que riu.

- Bem vindo de volta, hijo. (Filho) – Disse meus pais juntos enquanto me abraçavam.

Eles gostavam de abraços.

- Achei que chegaria mais cedo. – Disse Normani me abraçando assim que meus pais me soltaram.

- Tive um contra tempo. – Falei simples e ela me sorriu sacana.

- Com toda certeza é mulher. – Disse Matteo me piscando sacana.

Se eles soubessem.

- Tio. – Chamou Madda e eu a peguei no colo. – Trouxe minha encomenda? – Perguntou baixo tentando disfarçar enquanto olhava para os lados. Parecia uma mini traficante.

- Eu trouxe. – Sussurrei de volta lhe piscando um olho e ela se agitou em meu colo. A desci e ela correu para puxar o saco dos pais, dizendo o quão lindos os dois homens eram.

Terminei de cumprimentar a todos e segui até Miguel, ele sorriu ao sentir meu perfume. Se levantou da baqueta abandonando seu teclado e eu peguei suas mãos a levando ao meu rosto. Se era assim que ele conseguia ver que estávamos bem, assim fazíamos, e não importava quantas vezes ao dia tínhamos que fazer isso, fazíamos com prazer.

- Por que está tão confuso? – Perguntou. Era incrível perceber o quão inteligente Miguel era, ele de fato não precisava de seus olhos, pois ele sabia compreender exatamente cada sensação sobre seus dedos sem precisar de fato enxergar.

- A vida parece querer foder comigo. – Falei e ele sorriu tirando suas mãos do meu rosto.

- Fode com ela primeiro. – Disse fazendo todos rirem.

E eu foderia essa noite, mas não era com a vida.

De repente Você/ Livro 2 Irmãos Escobar (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora