i. panic on the streets of london

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PÂNICO NAS RUAS DE LONDRES


Aeroportos têm uma energia muito específica. Uma hora você tem cinco horas até seu voo, tempo para um chá da tarde e umas comprinhas; na outra, você está atrasado e o avião sai em cinco minutos. O tempo todo, você está cercado de pessoas; pessoas que você não sabe de onde vêm e para onde vão, que você observa por alguns segundos por causa de algum detalhe interessante como um corte de cabelo diferente ou uma jaqueta legal, e que muito provavelmente nunca mais verá na vida. E é estranho pensar que você é uma pessoa dessas para alguém, mas é parte do sentimento único de estar em um lugar de fluxo de pessoas intenso e, acima de tudo, passageiro. É o mesmo sentimento de estações de metrô, embora este dure bem menos e se torne parte do cotidiano; de grandes ruas movimentadas como a Times Square em Nova York ou a Champs Elysées em Paris; e de estações de trem.

Uma estação de trem, a prima distante e metida a europeia do aeroporto — em uma cidade importante como, digamos, Londres —, tem o fluxo de pessoas tão rápido quanto os trens que vêm e vão lotados de passageiros apressados. Dá para jogar um tipo de jogo observando as pessoas ao redor: se perguntar que vida elas têm? O que estão fazendo ali?

O homem de terno tomando um café enquanto espera o trem pode ser tanto um advogado de respeito quanto um agiota indo cobrar sua dívida com um infeliz em Manchester, por exemplo. A mocinha de tatuagens e jaqueta de couro pode ser tanto uma estudante de faculdade metida a roqueira quanto uma perigosa assassina de aluguel. O cara saindo do trem com um fone de ouvido e uma maleta de couro na mão pode ser um homem de negócios ou estar carregando um diamante roubado.

Outra coisa até engraçada sobre estações de trem é que, ao contrário de aeroportos, a maioria delas não tem uma máquina de raio-x. É claro que, em caso de armas ou drogas, um detector de metal ou um cão farejador costumam fazer o trabalho. E a polícia acha que isso dá conta do recado — na maioria das vezes deve dar, mas é impressionante o número de coisas que as pessoas conseguem contrabandear no mundo: mercadoria ilegal para evitar impostos, quantidades absurdas de dinheiro sujo em cédulas, até a história clássica da velhinha que vai dirigindo a lambreta contrabandeada.

Enfim, é por isso que, se aproveitando do desconhecido de uma multidão e sem a exigência de um raio-x visual antes de entrar no trem, foi até fácil para Percy Bak fugir da Antuérpia, cruzar a fronteira da Bélgica, e pegar diversos trens pela Europa até chegar na estação de Londres com um diamante roubado na maleta.

O homem desceu de seu trem com um dos fones no ouvido e um cigarro pendendo de seus lábios, saindo do sorriso sacana estampado em seu rosto. Seu peito estava explodindo em orgulho — Porra, Percy era muito foda. Roubara um diamante na Antuérpia, provavelmente o maior trabalho de sua vida, e saíra ileso. Iria ganhar mais grana que pudesse contar, proteção da melhor possível, e seu nome seria o assunto mais comentado dos bares londrinos. Percy Bak, o maior ladrão de toda Londres. Melhor, o maior ladrão da Inglaterra. Soava bem melhor que Percy Bak, o rato caloteiro, portanto ele mal podia esperar por seu momento de glória.

A vontade que tinha era a de sair sapateando pela rua assim que saiu da estação. Em vez disso, tomando a escolha prudente, Percy se limitou a pegar o celular, tirar o fone e discar o número de seu contato.

— Chester, colega! — Ele foi atravessando a rua, passando por pedestres apressados, com a maleta em uma mão e o celular na outra. — Tudo bem, tudo ótimo.

O homem do outro lado da linha falou algo que fez Percy sorrir ainda mais largo. Dobrando uma esquina, ele riu ao telefone.

— Você tá perguntando pra mim se eu tô com o negócio? Quem você acha que eu sou? Claro que sim, foi moleza. Tá aqui guardadinho.

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