iv. not good luck, not bad luck, but a secret third thing

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NEM SORTE, NEM AZAR, MAS UMA TERCEIRA COISA


Era algo próximo das seis da manhã. O céu era de um cinza de merda, porque era Londres, claro que estaria cinza. Talvez chovesse. Mas até quando não chovia, aquele cinza era simplesmente o padrão — seja verão ou inverno, manhã ou tarde, o Sol acabava se acostumando a um clima mediano que parecia sugar toda a felicidade do ambiente no minuto que você colocava o pé pra fora.

Se chovesse, pelo menos, Cook pensou, ele ficaria no carro.

Miranda estacionou a um quarteirão do hotel — ainda dava para ver a fachada de longe, a placa em letras chiques serifadas dizendo Coastal Hotel e as varandas dos quartos de alto nível chamando atenção para a jóia da vizinhança, mas pelo menos não era um lugar tão ridiculamente na cara. Não era perto a ponto de alguém passar ali, olhar aquele carrinho turbinado parado na frente de um hotel de luxo e falar ah, sim, eles vão assaltar o hotel. Até porque aquele carro não era como os que traziam hóspedes ilustres todo dia do aeroporto; capaz de eles serem gentilmente convidados a se retirar se estacionassem em qualquer ponto mais próximo do alvo. Por mais que estragar o dia de gente rica fosse um dos hobbies de Miranda, ela estava com outros planos para aquela tarde, então iria deixar essa passar.

Ela ajeitou o cabelo, se olhando no espelho do carro, e fechou um botão do casaco. Não, dois. Não, um só, com dois fica feio. Na real aquele casaco, como um todo, era feio pra caralho. Nunca em sua vida Miranda vestiria uma roupa como aquela em uma situação comum — uma camisa lisa abotoada em vez de uma camiseta de banda, raras calças jeans não sujas de óleo ou rasgadas, um casaco azul marinho horroroso que Sven arrumou por menos de duas libras e agora fazia parte do acervo permanente de disfarce, e uma bolsa de marca (ridiculamente falsa, nem fodendo que ela gastaria dinheiro real com uma dessas) pra completar. Mas aquela não era uma situação comum, então Trinket teria que inspirar fundo e fingir que se sentia confortável parecendo uma fundadora de startup capitalista que se faz de jovem e descolada pra não atrair atenção no saguão do hotel.

A garota resmungou um palavrão. Cook, ao seu lado, riu.

— Se liga que você tá no plano.

— Eu? Tá brincando, eu fico no carro. O Sven falou, tá falado.

— "Se der alguma merda, e eu repito, qualquer merda, Trinket vai te chamar. E você tem que atender."

— O plano nem começou ainda e já deu alguma merda?

— A partir do momento que a gente não tem a chave, e não sabe quem tem, deu. Então Trinket está chamando, e você tá atendendo.

O Sven falou, tá falado. — Cook bufou, a contragosto. — Mas eu não tô com disfarce pra entrar no hotel.

— E quem disse que você precisa de disfarce, meu caro? O que a gente vai precisar é do charme de James Cook. Do borogodó. Da malemolência.

— Tava demorando. Qual é o trabalho sujo que você vai empurrar pra mim dessa vez?

— E bota sujo nisso. Você vai assegurar a minha entrada nesse quarto de hotel. — Ela terminou de ajeitar a gola da blusa, tirou uma poeira imaginária das ombreiras desastrosas daquele blazer, e botou uma mecha de cabelo para trás da orelha. — Me fala, há quanto tempo mesmo você tá na seca?

— Uma semana.

— Tá ótimo. Pode ir se preparando pra voltar à ativa, porque eu ouvi dizer que tem uma recepcionista linda que ainda não conheceu James Cook.

— Precisa ser a recepção? Porque a Brenda meio que não quer mais olhar na minha cara.

Miranda ergueu as sobrancelhas.

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⏰ Última atualização: Dec 26, 2023 ⏰

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