Sombras na Floresta

39 4 28
                                    

Na manhã seguinte, antes de Melody se dirigir à escola, ela sentiu o irresistível chamado da floresta, um santuário secreto que ficava atrás da sua escola. A luz suave do amanhecer filtrava-se através das copas das árvores, lançando sombras dançantes sobre o chão. Melody caminhou em silêncio, os seus passos quase imperceptíveis, até encontrar uma clareira conhecida, onde se deitou na relva fresca. Fechando os olhos, preparou-se para descansar antes de um longo dia de aulas.

Porém, o descanso não durou muito. Sons altos começaram a emergir da escuridão das árvores, perturbando a quietude. No início, parecia apenas uma briga distante, algo que Melody preferia ignorar. Mas então, um som mais distinto captou a sua atenção: alguém caiu no chão, seguido por um gemido de dor. Ela tentou afastar-se, mantendo-se fora de algo que não queria testemunhar, até que uma voz feminina, carregada de ameaça, se elevou no ar, seguida pelo som cruel de pancadas. A cada golpe, um grito de agonia reverberava na floresta, ressoando no coração de Melody.

Quando a voz suplicante finalmente ecoou, Melody levantou-se de repente, o coração acelerado. O som era familiar demais para ser ignorado. Guiada por um pressentimento sombrio, correu em direção à origem dos sons. Quando finalmente chegou ao local, seu coração gelou. Ali, estendido no chão, estava Erik, o seu antigo amigo, em estado lastimável, sem ninguém ao seu redor para o ajudar. Seus olhos inchados, o corpo encolhido de dor, e a roupa amarrotada de terra e sangue, eram testemunhos mudos do que acabara de sofrer.

Scott, um dos rapazes mais temidos da escola, estava agachado ao lado de Erik, uma expressão de falso conforto no rosto.

— Escolha acertada — disse Scott, dando uma palmadinha no ombro de Erik. — Não vais agora recuar com a tua palavra depois de termos feito o que pediste, não é? Afinal, foste tu que decidiste estar aqui, fingindo ser um herói para "protegeres" a tua donzela — Scott fez aspas com os dedos. — E agora ela anda por aí, sozinha, a pensar que não és mais seu amigo, e que preferiste estar com os teus novos amigos, fingindo ser popular e importante.

Ele riu e levantou-se, metendo o braço em volta da cintura de Isla, outra figura temida. — Se quiseres... podemos sempre voltar a como estávamos antes, e assim já não precisas de estar de joelhos... se é que me entendes. É só dizeres.

Erik permaneceu em silêncio, o que fez Scott bufar e virar as costas, levando consigo os outros que estavam ali. Erik, por sua vez, ficou imóvel, deitado no chão, à beira das lágrimas. Melody observou até que todos se afastaram, então correu até Erik.

Na enfermaria, o silêncio entre os dois era quase insuportável. Erik não disse à enfermeira como tinha se magoado, e Melody não conseguiu desviar o olhar do chão. Sozinhos, Melody examinou discretamente o corpo de Erik, observando o seu estado deplorável. Ele estava magoado, mas fazia um esforço tremendo para não demonstrar a dor. Olhando para o céu, Erik parecia perdido em pensamentos, enquanto Melody lutava para conter as lágrimas. Ela abanou a cabeça, tentando acalmar-se, antes de lhe perguntar:

— Se pudesses vingar-te, farias isso?

Erik levantou o olhar, os seus olhos ainda fixos em algo distante. — Dependendo do que me propuseres, talvez aceite... ou não — disse, com a voz carregada de incerteza. — Eu não quero arranjar problemas, Melody. Ainda penso em ir para a Universidade e sair desta maldita ilha. Por isso, seja qual for a tua ideia, tem de ser pelo menos discreta, por favor!

Erik viu nos olhos de Melody algo mais: raiva. Melody estava furiosa com o que Isla e Scott andavam a fazer e queria vê-los pagar.

- Muito bem, fazemos como tu queres. - Melody senta-se com Erik lado a lado. - Tive saudades disto, saudades tuas, porque é que nunca me contas-te a verdade? - Melody cruza e abraça as pernas encostadas ao peito.

Ouçam-me RugirOnde histórias criam vida. Descubra agora