Presságios na Lua Cheia

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Melody estava sentada à beira da sua janela, os joelhos puxados para junto do peito, enquanto olhava fixamente para a lua que brilhava intensamente no céu. Faltavam apenas dois dias para o grande baile de finalistas, e, com a lua cheia a aproximar-se, sabia que a noite seria perfeita para executar o seu plano. A magia estaria no seu auge, e Isla e Scott seriam expostos por quem realmente eram.

Enquanto os pensamentos de vingança a envolviam, Melody imaginava as expressões de espanto e medo nos rostos dos dois. A imagem trouxe-lhe um sorriso sombrio aos lábios, mas também um certo peso no peito. Sabia que brincar com magia, especialmente num momento de emoção tão intensa, era perigoso, mas a sede de justiça ardia dentro dela. Ela não conseguia ignorar a oportunidade que a lua cheia oferecia.

Perdida nos seus pensamentos, Melody quase não notou a leve carícia na sua face. Quando finalmente piscou os olhos, viu uma pequena criatura brilhante a flutuar diante dela. Era uma fada do ar, etérea e luminosa, com longos cabelos loiros quase brancos que pareciam feitos de fios de luz. A fada emitia um brilho tão intenso que tornava difícil distinguir os seus traços físicos.

Melody prendeu a respiração, fascinada pela beleza delicada da criatura. As fadas raramente apareciam a outros seres, e muito menos interagiam com eles. Sabia que a presença da fada tinha um significado especial. Com movimentos suaves, a fada estendeu-lhe algo. Melody olhou para a pequena oferenda e viu que era uma flor de lótus, uma flor que, simbolizava mistério, espiritualidade, verdade, proteção e amor. Também simbolizava a vida eterna.

Melody aceitou a flor com cuidado, sentindo uma onda de calor e conforto a percorrer lhe o corpo. Embora não compreendesse a linguagem das fadas, algo dentro de si dizia-lhe que a flor era um presságio, uma mensagem silenciosa que ela ainda não conseguia decifrar completamente. A fada sorriu, um brilho suave nos seus olhos, e desapareceu tão rapidamente quanto havia aparecido, deixando Melody sozinha com os seus pensamentos e com a flor de lótus nas mãos.

No dia seguinte, Melody e sua irmã Úrsula partiram cedo, montadas nas suas vassouras, em direção às montanhas Frey. O ar fresco da manhã batia-lhes no rosto enquanto voavam lado a lado, seguindo o caminho familiar que levava a uma clareira isolada, onde se encontrava uma pequena casa rústica. Esta casa, com o seu grande quintal e um pequeno lago ao lado, parecia pertencer a outro tempo, rodeada pela serenidade das montanhas.

As duas irmãs pousaram suavemente na clareira, retirando os seus mantos enquanto se aproximavam da casa. Sentada à entrada, agarrada a uma bengala de madeira que parecia sustentá-la, estava uma senhora de aparência muito avançada. O seu cabelo era branco como a neve, e os seus olhos, embora cansados, ainda brilhavam com uma sabedoria antiga. A senhora observou-as com um olhar atento, reconhecendo imediatamente quem eram.

— Tu és a Ingrid, certo? — perguntou Melody, a curiosidade a tingir-lhe a voz. — És uma bruxa?

A senhora esboçou um sorriso ligeiro e assentiu.

— Sim, sou uma bruxa. E tu, jovem Melody, és uma feiticeira. Entrai, temos muito a discutir.

As irmãs seguiram-na para dentro da casa, onde o cheiro de ervas frescas e secas impregnava o ar. A senhora começou a preparar um chá tónico, as suas mãos movendo-se com uma agilidade surpreendente para alguém da sua idade. Melody observou com interesse enquanto a senhora misturava alecrim, milefólio, marroio, salva e nêveda, o aroma doce do mel a completar a mistura.

— Isso é para proteção e cura — disse Melody, reconhecendo a combinação de ervas.

Ingrid sorriu, um sorriso sábio e orgulhoso.

— Parece que os teus pais ensinaram-te bem a arte da bruxaria natural. Mas, diz-me, quem achas que ensinou os teus pais?

Melody ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras de Ingrid. Havia tanto que ainda não sabia sobre a sua própria herança, sobre o poder que corria nas suas veias.

— Como feiticeira, nasceste com magia dentro de ti — continuou Ingrid, os seus olhos fixos nos de Melody. — Consegues usar os elementos de forma intuitiva, criar coisas do nada. Já os bruxos, como eu, não possuem magia. Nós dependemos do que a natureza nos dá, do que podemos colher e preparar. Mas não subestimes esse poder. A natureza é a nossa maior aliada.

Melody assentiu, absorvendo a sabedoria que a senhora estava a partilhar. As suas mãos apertaram a flor de lótus que ainda trazia consigo, sentindo a sua textura delicada e viva. Algo sobre aquela flor, a lua cheia e a noite do baile começava a unir-se na sua mente, como peças de um quebra-cabeças que ela ainda estava a tentar montar.

— Por que vieste até mim, jovem feiticeira? — perguntou Ingrid, olhando-a com olhos penetrantes.

Melody hesitou por um momento, antes de responder.

— Quero preparar-me. Em breve irei ascender, estou a aprender tudo o que posso. Preciso de ser forte, preciso de estar protegida.

Ingrid assentiu lentamente, entendendo mais do que Melody estava disposta a admitir em palavras.

— Vamos, então, preparar-te para o que ai vem.

As horas que se seguiram foram passadas em silêncio, enquanto Ingrid ensinava a Melody e a Úrsula novos encantamentos, poções e proteções. Melody sentiu a magia a crescer dentro de si, alimentada pela lua que já começava a erguer-se no horizonte.

Ouçam-me RugirOnde histórias criam vida. Descubra agora