A Profecia

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As luzes suaves das velas tremeluziam nas paredes de pedra da biblioteca do Coven. O ambiente estava carregado de uma tensão quase palpável, enquanto Melody, Lysander, Ayla e Erik examinavam um antigo grimório que Melody havia retirado de uma prateleira oculta. O livro, encadernado em couro escurecido pelo tempo, parecia pulsar com uma energia própria, como se aguardasse o momento certo para revelar os seus segredos.

Melody, com uma expressão determinada, abriu o grimório nas páginas marcadas com símbolos misteriosos. A caligrafia era antiga, em uma língua que Melody mal conseguia decifrar, mas que parecia ressoar nas profundezas da sua mente, como se já a conhecesse de algum lugar. Ela deslizou os dedos pelo texto, e as palavras começaram a se formar na sua mente como um eco distante.

— "Guardião da Ilha..." — murmurou Melody, sentindo um arrepio percorrer a sua espinha. Lysander, que estava ao seu lado, inclinou-se para mais perto, observando as palavras com intensidade.

— O que diz? — perguntou Ayla, a sua voz ansiosa cortando o silêncio.

Melody respirou fundo, sentindo o peso das palavras enquanto as lia em voz alta. — "O Guardião da Ilha, marcado pelo selo sagrado, será a chave para proteger a ilha do grande cataclismo que se aproxima. Na hora mais sombria, ele deverá escolher entre o bem maior e o desejo pessoal, um sacrifício que definirá o destino de todos."

O silêncio que se seguiu foi pesado. Os olhos de Erik estreitaram-se enquanto ele digeria o significado da profecia. Lysander permaneceu em silêncio, a sua expressão fechada, mas o seu olhar estava fixo na Melody, como se estivesse a tentar ver dentro da sua alma.

— Um sacrifício pessoal... — sussurrou Ayla, mal conseguindo acreditar no que ouvia. — O que isso significa, Melody?

Melody abaixou o olhar, uma sensação de desespero começou a formar-se dentro dela. A visão que tivera na noite anterior — a visão de um futuro em que a ilha estava em ruínas, os seus amigos em perigo e ela sozinha — voltou à sua mente com uma clareza aterrorizante. Ela percebeu que aquilo não era apenas um sonho, mas uma visão do que estava por vir.

— Não sei ao certo, mas... acho que essa escolha... — Melody lutou para encontrar as palavras, sentindo a garganta apertar. — Acho que tem a ver com a minha visão. Algo terrível vai acontecer, e eu... terei que fazer algo que pode mudar tudo.

— Mas não estás sozinha, Melody. — Lysander disse suavemente, o seu tom firme e reconfortante. — Seja qual for essa escolha, estaremos ao teu lado.

Ayla assentiu com veemência, enquanto Erik se aproximou, colocando uma mão no ombro de Melody. — Sempre estaremos contigo. — ele disse com determinação.

Melody sentiu-se grata pelo apoio deles, mas a preocupação que a profecia trazia era inegável. No entanto, as palavras seguintes que ela leu trouxeram um raio de esperança, ainda que tênue.

— A profecia também fala de uma arma ou artefato especial que pode ser usado para derrotar os caçadores e a entidade que eles estão tentando invocar. — disse Melody, com um tom renovado de esperança na sua voz.

— Uma arma? — perguntou Erik, agora com um tom mais interessado. — Onde está?

— Não diz exatamente. — respondeu Melody, com um suspiro frustrado. — Mas menciona que a localização só será revelada ao Guardião, quando o momento certo chegar.

— Isso significa que tu terás que encontrar essa arma, — disse Lysander, a sua expressão se tornando mais pensativa. — E que os caçadores não devem, em hipótese alguma, colocar as mãos nela.

— Precisamos começar a procurar imediatamente. — declarou Ayla, com um ar de urgência. — Se os caçadores estão a tentar invocar uma entidade antiga, não temos muito tempo.

Melody assentiu, ciente da gravidade da situação. — Temos que agir rápido, antes que a profecia se cumpra de uma forma que não possamos controlar.

Com a decisão tomada, o grupo preparou-se para procurar pelo artefato especial, sabendo que o tempo estava contra eles e que as sombras estavam se aproximando cada vez mais.  A noite estava apenas a começar, e com ela, uma nova jornada se desenrolava.

A lua brilhava no céu, lançando a sua luz pálida sobre o grupo reunido na ponta da floresta. Melody, Lysander, Ayla, Erik, e os irmãos de Melody, Úrsula e Seth, estavam prontos para iniciar a perigosa jornada na procura do artefato mencionado na profecia. Com os seus grimórios em mãos e os seus corações cheios de determinação, eles se preparavam para enfrentar os mistérios e perigos que os aguardavam.

- Lembrem-se, o que estamos a procura não é apenas uma arma, mas uma chave para o destino da ilha. - disse Melody, a sua voz firme apesar da ansiedade que sentia.

A caminhada levou-os a uma antiga trilha, quase esquecida pela floresta que se fechava ao redor deles. O ar estava pesado com o cheiro de musgo e terra molhada, e uma sensação de antiguidade pairava sobre o lugar. Seth, à frente do grupo, parou abruptamente.

- Aqui. - ele disse, apontando para uma pedra coberta de runas. - Este é o primeiro marco. De acordo com os textos antigos, devemos seguir as inscrições para encontrar o próximo ponto.

Melody leu as runas em voz alta, e a pedra começou a brilhar com uma luz etérea, revelando uma passagem oculta entre as árvores. Eles seguiram o caminho recém revelado, atravessando uma série de desafios místicos que testavam as suas habilidades e coragem. Numa clareira oculta, encontraram criaturas guardiãs, seres de pedra e sombra que se ergueram para proteger o artefato.

A batalha foi intensa. Lysander, com a sua agilidade vampírica, desviava dos ataques das criaturas, enquanto Ayla, com a sua magia elemental, lançava feitiços que abriam o caminho. Erik, ainda recuperando-se da sua recente transformação, lutava bravamente. Úrsula e Seth, com o seu conhecimento arcano, desativavam armadilhas enquanto Melody canalizava o poder recém-descoberto do selo no seu pulso.

Depois de um embate feroz, as criaturas foram derrotadas, e uma passagem secreta se revelou. No fundo da caverna, sobre um pedestal de pedra, repousava o artefato que procuravam: uma lâmina antiga, forjada com magia ancestral, destinada a ser usada contra a entidade antiga.

Enquanto Melody se aproximava do artefato, uma sensação de presságio a envolveu. Ao tocar na lâmina, uma visão a invadiu – imagens rápidas e intensas de um futuro em que ela estava sozinha, a ilha devastada e os seus amigos em perigo. A escolha difícil que a profecia mencionava começava a tornar-se clara.

Nesse momento, um estrondo ecoou pela caverna. Os caçadores, liderados por uma figura encapuzada, haviam-nos seguido. A batalha que se seguiu foi brutal. Durante o confronto, uma parte crucial da profecia cumpriu-se: Melody, ao tentar proteger o Erik de um golpe fatal, ativou involuntariamente um poder adormecido dentro dela. A lâmina brilhou intensamente, e uma onda de energia varreu a caverna, dissipando os caçadores, mas também alertando a entidade antiga da sua presença.

A caverna começou a desmoronar, forçando o grupo a uma retirada apressada. Com o artefato em mãos, eles escaparam por pouco, mas a vitória veio com um custo. A visão de Melody e a revelação de que o seu sacrifício estava se a aproximar, pesavam na sua mente.

- Estamos a correr contra o tempo. - disse Lysander, com a expressão séria enquanto ajudava Ayla a levantar-se. - A entidade está ciente de nós agora. Temos que nos preparar para o que vem a seguir.

Com a lâmina na sua posse e a profecia parcialmente cumprida, o grupo sabia que o verdadeiro desafio ainda estava por vir. Melody olhou para os seus amigos e família, sabendo que a escolha que teria de fazer em breve seria a mais difícil da sua vida. E, no fundo, sentia que a profecia estava apenas começando a revelar o seu verdadeiro significado.

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