Ouçam-me Rugir

A Nova Era: O Início da Transformação

O crepúsculo avançava sobre a casa de Melody, lançando sombras longas e inquietantes através das janelas. A tensão no ar era palpável, e todos na casa estavam preocupados com o Erik. Ele foi colocado num dos quartos de hóspedes, tapado com vários cobertores, mas o seu corpo tremia intensamente, uma febre alta tomava conta dele. Os pais de Melody estavam ao seu lado, fazendo tudo o que podiam para aliviar a sua dor, mas nada parecia funcionar.

Melody olhava para Erik, impotente, enquanto ele gemia em agonia. A sua pele estava pálida e suada, os seus olhos, quando abriam, pareciam distantes, como se estivessem perdidos em um pesadelo interminável. Melody sentia um nó apertar no seu estômago.

Úrsula, a irmã mais velha de Melody, entrou no quarto apressadamente, trazendo consigo um livro de magia que havia sido passado pela família por gerações. Ela abriu-o com pressa, folheando as páginas. - Nada disso está a ajudar. - disse ela, fechando o livro com um suspiro exasperado. - Ele pode estar se a transformar...

A mãe de Melody olhou para Úrsula, os seus olhos refletindo a mesma preocupação. 

- Precisamos de ajuda, Úrsula. Erik não pode continuar assim. O que mais podemos fazer?

Úrsula ficou em silêncio por um momento, como se estivesse lutando contra uma ideia que não queria aceitar. Finalmente, ela olhou para Melody e a mãe, e a sua voz saiu baixa, quase hesitante. - Ele foi mordido por um lobo na floresta, e agora está com febre, tremendo, com dores. Isso pode ser o começo da transformação.

A sugestão de Úrsula caiu como uma pedra no quarto. Melody sentiu o sangue gelar. Transformação? Em um lobisomem? Não era algo que ela havia considerado, mas fazia sentido. Erik tinha sido atacado por um lobo, e agora estava a lutar contra algo dentro de si.

A mãe de Melody ficou pálida, mas assentiu. - Se é isso que está a acontecer, precisamos dos lobisomens. Eles saberão o que fazer.

Úrsula saiu do quarto rapidamente, e Melody ficou ao lado de Erik, segurando na sua mão. 

- Aguenta firme, Erik. Vamos ajudar-te.

Pouco tempo depois, um grupo de lobisomens, liderado pelo mesmo que os havia encontrado na floresta, chegou à casa de Melody. Eles entraram silenciosamente, os seus olhos brilhando com uma mistura de preocupação e compreensão. O líder, que Melody agora sabia como se chamava, o Kael, aproximou-se de Erik e colocou a mão na sua testa.

- Ele está na primeira fase da transformação. - disse Kael, olhando para Melody e a sua família. 

- A mordida de um lobisomem transmite uma maldição que transforma a vítima em um de nós. É doloroso no início, especialmente para um humano que nunca experimentou esta forma de poder antes.

A mãe de Melody respirou fundo. - Há algo que possamos fazer para o ajudar?

Kael assentiu. - Podemos ajudá-lo a passar pela transformação com menos dor. Ele vai precisar da nossa orientação para se adaptar, e nos próximos dias, precisará ficar sob a nossa proteção enquanto aprende a controlar a sua nova natureza.

Melody sentiu um misto de alívio e tristeza. Alívio porque Erik poderia sobreviver a isto, mas tristeza porque ele nunca mais seria o mesmo. Ele estava prestes a entrar em um mundo que Melody conhecia, mas do qual ele não fazia parte.

- Vamos ajudá-lo. - disse Melody, determinada. - O que quer que ele precise, nós faremos.

Kael olhou para Melody com respeito. - És forte, feiticeira. Ele terá sorte de te ter ao seu lado.

Com a ajuda dos lobisomens, Erik foi envolvido em um ritual de proteção. Kael e os seus companheiros murmuravam palavras antigas, invocando a lua cheia e as forças da floresta para suavizar a dor de Erik e ajudá-lo a se transformar com segurança. Melody observava, sentindo a energia mística pulsar no ar, misturando-se com a sua própria magia.

A noite passou em uma vigília silenciosa, Melody e a sua família ao lado de Erik, enquanto os lobisomens mantinham a vigília ao redor da casa. A transformação de Erik continuou, lenta e agonizante, mas com o apoio de todos ao seu redor, ele finalmente começou a estabilizar.

Quando o primeiro raio de sol apareceu no horizonte, Erik adormeceu, exausto, mas com a febre a diminuir. Kael virou-se para Melody, a sua expressão séria. - Ele vai precisar de tempo para se ajustar. Mas ele é forte. Ele vai conseguir.

Melody assentiu, grata. - Obrigada pela vossa ajuda. Não sei o que faríamos sem vocês.

Kael sorriu levemente. - Agora, somos todos parte da mesma aliança. Protegeremos uns aos outros, contra qualquer ameaça.- Melody olhou para Erik, agora dormindo em paz. 

- Melody. - começou ele. - agora que Erik passou pela primeira fase da transformação, é crucial que ele receba o treinamento adequado. Ele precisa aprender a controlar sua nova natureza, a dominar os impulsos que vão surgir e a entender os poderes.

Melody ouviu atentamente, sentindo um aperto no peito. - Então ele vai ter que ficar com vocês, não é?

Kael assentiu. - Sim, por um tempo. No início, a transformação pode ser imprevisível, e ele precisa estar num ambiente onde possa aprender sem causar danos a si mesmo ou a outros. Nós vamos ajudá-lo a se adaptar, ensiná-lo a controlar as suas habilidades e a integrar-se no nosso grupo. Isso levará algumas semanas, talvez mais.

A ideia de Erik estar longe preocupava-a, mas Melody sabia que era o melhor para ele. Ele precisaria de toda a orientação possível para se ajustar à sua nova realidade, e os lobisomens eram os únicos que poderiam fornecer isso.

- Eu entendo. - respondeu Melody, tentando manter a voz firme. - Farei o que for necessário para ajudá-lo. Sei que ele estará seguro com vocês.

Kael ofereceu um sorriso reconfortante. - Prometo que cuidaremos bem dele. Erik é forte, mas ainda é novo neste mundo. Com o tempo, ele se tornará um dos nossos, e a sua força será um grande trunfo para todos nós.

Melody aproximou-se de Erik, que ainda dormia, exausto mas tranquilo. Ela inclinou-se e tocou na sua mão, sentindo o calor familiar e desejando que ele soubesse que não estava sozinho.

- Eu estarei à tua espera, Erik. - sussurrou ela, determinada. - Quando voltares, estaremos prontos para enfrentar o que quer que ai venha.

Com isso, Kael e os outros lobisomens começaram a se preparar para levar o Erik com eles. Melody e a sua família observaram em silêncio enquanto Erik era cuidadosamente colocado em uma maca improvisada, ainda adormecido. Ele seria levado para o refúgio dos lobisomens, onde iniciaria o seu treinamento.

Antes de partir, Kael virou-se para Melody uma última vez. - Voltaremos quando ele estiver pronto. Até lá, mantenham-se fortes. A aliança que estamos a formar vai nos proteger, mas precisamos estar preparados para o que está por vir.

Melody assentiu, sentindo uma mistura de tristeza e determinação. - Faremos o que for preciso. E cuidem bem dele, por favor.

Com um último aceno de cabeça, Kael e os lobisomens partiram, levando o Erik para o início da sua nova vida. Melody observou-os a desaparecer na floresta, sabendo que este era apenas o começo de um caminho difícil, mas necessário.