Meu pai descobriu do meu caso com ele através de alguns e-mails e foi uma briga interminável , e eu fiquei dias sofrendo pelas coisas que ele e minha mãe me disseram. Eles não haviam me criado para ser este tipo de mulher, eles repetiam. E repetiam, e repetiam. Sem saber o que se passava na minha cabeça eles repetiam isto de tal maneira que eu fiquei com aquele sentimento preso dentro de mim, e comecei a me achar a pior pessoa do mundo. Nós obsessivos sentimos culpa pelas coisas que fazemos, até mesmo quando erramos sem querer. Eu ganhei um carro dos meus pais e por descuido acabei arranhando em um poste ao tentar sair de uma baliza, outro dia risquei o parachoque, e meu pai sempre dizia “Olha, você não sabe cuidar do que é seu, você não dá valor ao que ralamos para dar pra você”, e eu me sentia culpada. Queria que ele entendesse que eu não havia feito de proposito, mas ele parecia se satisfazer em dizer aquelas coisas, em dizer o quanto eu dirigia mal.
Comecei a acreditar que eu realmente dirigia mal e as batidas aumentaram, até o dia em que eu bati feio em outro carro e fiquei toda machucada e com algumas fraturas. Acho que estava obcecada com a ideia de ser ruim que acho que arranjei uma forma de provar que era realmente ruim... Hoje meu pai não faz mais esses comentários, mas quando ele me sinaliza de alguma coisa que deu errada eu volto a sentir aquela culpa que não passa. Sei que ele não faz por mal e que me ama acima de todos os erros, mas o sentimento é terrível de achar que decepciono as duas pessoas que mais amo na vida. Quanto ao meu chefe, eu o esqueci após um ano, e realmente comecei a acreditar que o amor não era para mim: Todos haviam me rejeitado. Sabe o que fiz? Fiquei fixada nessa rejeição, como um disco riscado. Comecei a me apaixonar apenas por homens que não me queriam, e se ficava com alguém que dizia gostar de mim... Argh, eu deixava de me interessar na hora. Realmente acreditei que iria morrer sozinha, comida por cachorros em um apartamento vazio no centro da cidade.
Junto com tudo isso eu comecei a sentir a doença se agravar, comecei a me irritar com situações peculiares. Me irritava e gritava quando via a pia do banheiro molhada, os ralos com cabelos da minha irmã, a toalha jogada em cima da cama, o vaso da privada levantado, a falta da descarga, a fralda do meu sobrinho jogada de qualquer jeito, o absorvente da minha outra irmã virado para cima no cesto do lixo, a lata do lixo que não estava fechada. Meu humor se alterava rapidamente, eu sentia uma angústia enorme e ficava irritadiça, queria bater na parede, queria gritar... E gritava, e brigava com minha mãe, com minha irmã. Ligava e brigava com as minhas amigas. Como podia alguém derrubar refrigerante no chão e deixar ele grudando? Todos na família me chamavam de chata, e eu também sabia que era... Mas não tínhamos conhecimento do que estava acontecendo.
Veio a época daquela nova cantora, Amy Winehouse... Minha nova paixão, eu comprava revistas novamente, comprava CD´s, e quando ela veio para o Brasil eu gastei todo o dinheiro que tinha guardado para acompanhar os shows de todas as turnês em várias cidades. Ficava na fila para tentar conseguir uma foto no camarim, e de fato consegui. Completei toda a coleção de DVD´s, entrevistas, vídeos do youtube. Fui fantasiada de Amy em uma festa à fantasia e ficava feliz quando as pessoas comentavam o quanto eu estava parecida. Pensei até em fazer aula de canto para alcançar o timbre dela. Alguns anos depois ela morreu, e eu queria viver como ela, beber como ela, morrer como ela.
Sem que eu esperasse conheci outro homem, que me apresentou a algumas drogas. Obsessiva do jeito que era não consegui mais desgrudar. Andava sempre com um embolado de maconha na bolsa e estava querendo fumar o tempo todo, sentia falta da sensação, da satisfação, do prazer. Meus pais descobriram, mas nunca pesaram na minha por causa da erva, diziam que eu devia ser responsável e que seria normal e estava na idade de provar, desde que não ficasse dependente disso. Sempre tivemos um diálogo aberto e eu havia mentido poucas vezes, me fizeram prometer que nunca experimentaria outras drogas, mas logo experimentei e comecei a cheirar cocaína. A sensação era maravilhosa, eu me senti normal dessa vez, queria mais... E mais! Me perdi, me fodi, me fodi de verdade. Fazia sexo compulsivo, queria o tempo todo, estava obcecada não mais pela solidão, mas pelo sexo e pela droga. Merda, eu estava feliz, eu estava levando a vida da Janis Joplin da maneira que eu queria, estava levando a vida da Amy, sempre doidona.
Mas nada é perfeito, ele me deixou... E com ele foi embora a vontade de continuar naquela vida, eu voltei à fossa, comecei a fumar maconha de maneira ainda mais compulsiva e quase morri em uma nova batida de carro no qual um amigo estava dirigindo. Meus pais acharam melhor me levar à um psiquiatra e foi o que eu fiz. Para minha surpresa, o diagnóstico: TOC. Transtorno Obsessivo Compulsivo. Neurose Obsessiva. Tanto faz o nome que você dê, eu estava quebrada, isso bastava. Os remédios me ajudaram a estabilizar meu humor e não foi uma grande dificuldade eu abandonar as drogas... Por sorte, e por Deus eu não estava viciada (ainda), pois havia começado havia pouco tempo. Graças ao acidente eu, e meus pais conseguimos procurar ajuda a tempo. Tivemos uma conversa e meus pais pesquisaram muito sobre o transtorno, começando a entender o que se passava na minha cabeça. Tivemos muitas conversas e nos aproximamos ainda mais, eles estavam comigo para qualquer barra que eu fosse enfrentar, inclusive os efeitos colaterais que estariam por vir.
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Obsessão, meu sobrenome
No FicciónVocê já ouviu falar em Obsessão? Com certeza já. Duvida? Vamos lá, vou adivinhar o que você pensou: OBSESSÃO - quando você ouve essa palavra deve pensar naqueles filmes de terror e suspense no qual alguém persegue de maneira contínua as "mocinhas" d...