Ainda estávamos no carro quando eu acordei. Senti um sol que não estava acostumado bater em meu rosto e um calor confortável me aquecer. O ronco do motor e a música calma ajudavam bastante a minha vontade de dormir novamente e não acordar para o que estava por vir. Abri meus olhos devagar e vislumbrei a janela do carro, e por trás dela, um céu nublado e pesado dando passagem para que os raios de sol e a imensidão azul inundassem as montanhas no horizonte. O cheiro de umidade que estava no ar era do carro, que sempre esteve à mercê de um clima úmido e frio proveniente da cidade de _______.
Fiquei olhando para o céu. Era muito bonito o conjunto de cores. Os alaranjados das nuvens indicavam que o pôr do sol estava próximo e a noite também. Observei as nuances e os degradês que as nuvens formavam, brincando com o sol e como era interessante o fato de um céu que está sempre azul, pode ficar de tantas cores diferentes. Quer dizer, isso quando você consegue enxergar o sol por de trás das nuvens, o que de onde venho é uma coisa um pouco rara.
Fechei meus olhos e me esforcei para memorizar essa imagem em minha mente, para que cada vez que alguém viesse fazer alguma pergunta desagradável nesta noite, eu pudesse voltar essa imagem à minha cabeça e fugir do que eu vou sentir.
Fico me perguntando se John teria a mesma ideia. Ele já estava lá a algumas horas, eu esperava que ele estivesse bem.
A quem eu queria enganar? Não tem jeito de ficar bem em um momento como esse.
Depois de memorizar a imagem em minha mente, e tentar com muita força, evitar a imagem de minha mãe nesse ambiente, ajustei minha cadeira para que eu pudesse me sentar e fazer companhia para meu pai.
Meu pai estava preso em alguns pensamentos antes de eu acordar, e quando me sentei, ele pareceu se lembrar de que eu estava ali e se ajustou no volante.
- Conseguiu descansar, filho?
- hm... um pouco...
Olhei para fora, alguns sinais de civilização começavam a aparecer. Casas apareciam de vez em quando, e alguns carros passavam ao nosso lado, ignorando as placas de limite de velocidade.
- Onde estamos? – perguntei com um bocejo.
- Já estamos em ______. Entramos a uns 15 minutos.
Meu peito se apertou um pouco. Estávamos chegando á casa da vó. Eu devia ter continuado a dormir, pensei em voltar, mas agora com essa notícia, meu corpo ficou alerta demais para adormecer. Meu pai soltou um suspiro longo e acendeu um cigarro, sem tirar os olhos da estrada. Olhei para ele.
- ... pensei que tinha parado de fumar...
Ele sorriu de lado.
- ... é, eu também. – e colocou o cigarro na boca. – Mas é só para relaxar um pouco. Vai ser um dia difícil.
- É... nem me diga... – afundei no banco. Fechei meus olhos e foquei na imagem que eu tinha me forçado a guardar na mente. - ... não entendo por que as pessoas tem essa tradição de reunir todo mundo depois que essas coisas acontecem... – eu queria muito não ter de passar por essa situação.
- Sim, é uma tradição cruel. – Os olhos castanhos de meu pai olhando para frente. – Mas ... seria muito mais cruel deixar John passar por isso sozinho. Principalmente com a sua avó por perto.
Olhei meu pai. Ele me olhou de esguelha e sorriu. Colocou a mão em minha cabeça e bagunçou meu cabelo.
- Não se preocupe, vai acabar logo. Só temos que lidar com algumas perguntas inconvenientes e comentários piores, mas vai ser só por algumas horas. Depois iremos para um hotel passar a noite. Amanhã o procedimento crematório será rápido também e logo estaremos voltando para a nossa querida e úmida ______.
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Alliansé | Livro I: Metades
RomanceJhames vivia sua vida tranquilamente, até ele e seu pai, Briam receberem a notícia do falecimento de sua mãe, Sarah. Agora eles estavam a caminho da cidade natal dela com o objetivo de buscar seu irmão gêmeo mais novo: John, que partiu com ela quand...