Capítulo 8: Depaisamento

6 0 0
                                    


As duas semanas que passaram foram extremamente estressantes. O constante problema de que meus remédios estavam acabando me deixavam nervoso de uma maneira, que eu não tinha tempo para pensar em outra coisa. Minhas mãos tremiam e as crises de ansiedade eram avassaladoras. Só o pensamento de acabar os remédios e machucar alguém, faziam o meu coração acelerar de um jeito que eu não conseguia segurar e eu parei de contar as vezes que tive crises de choro no meio da noite. Meu pai tentava me acalmar quando ele percebia que eu estava nervoso, mas eu via o medo no rosto dele também.

Jhames não conseguia conversar comigo durante essas semanas. Ele evitava a minha presença e eu me sentia muito mal pelo que aconteceu com ele, mas não conseguia pensar por muito tempo sobre isso. Entre fazer ele terminar com a namorada sem saber e explodir o meu irmão por que eu não consigo controlar essa coisa, eu preferia refletir sobre a segunda opção. E isso me fazia mal, por mais uma vez estar alheio aos sentimentos do meu irmão. Eu não tentei conversar sobre isso com ele, por que eu sabia que iria ter um ataque epiléptico por talvez ele não me entender e eu não ver NECESSIDADE de conversar sobre uma menina idiota que não sabe o que é bom para ela.

E mais uma vez eu estava pensando merda, por que o que essa menina fez foi ser sincera e verdadeira com ele. O que aconteceu não era culpa dela e ela não era uma pessoa ruim por ter feito isso. Mas eu não conseguia pensar num momento pior para isso acontecer!

Eu olhava meu celular a cada minuto, a espera por uma resposta de Davyd. Esse cara não fazia porra nenhuma! Ele estava pouco se lixando para o que poderia acontecer, inclusive, em uma das conversas, quando eu disse para ele que estava com medo real de que isso fosse acontecer, ele disse que se acontecesse, seria resultado da teimosia de meu pai por não me deixar com ele. Eu joguei meu celular na parede nesse momento, e me arrependi profundamente, por que se esse celular quebrasse, como eu iria cobrar esse filho da puta?

Comecei a pensar em alternativas para esse problema. A primeira era parar de ir ao colégio. Não teria como eu ir praquele lugar e colocar todas aquelas pessoas em perigo. Mas ficando em casa eu colocava minha família, a dúvida era enorme.

Pensei então em acampar no bosque, mas essa ideia foi refutada por meu pai de imediato. Ele se preocupava comigo, mesmo eu dizendo que não tinha necessidade. Se acontecesse algo, em algumas horas eu iria me recuperar. Mas não, ele dizia que não ia acontecer nada e que eu tinha que manter a minha calma.

Por que cargas d'água ninguém me escuta nesse caralho?

Outra reação que percebi e que tanto meu pai como Jhames me chamavam a atenção foi a boca suja. A cada 5 segundos, eu recebia uma repreenda quanto ao uso de palavrões, mas eu não me importava com isso no momento. Nem eles deviam se importar, eles deviam era sair correndo de medo e pavor do que estava por vir.

E para piorar, tinha as sessões com a psicóloga que começaram essa semana.

Eu estava lavando a louça do café da manhã no sábado e Jhames estava jogando videogame. Meu pai o tirou do castigo quando descobriu que ele terminou com a namorada. Eu olhei para a janela e aquele dia que me senti observado passou pela minha mente. Eu planejei que se algum dia eu sentisse a pressão na cabeça dentro de casa, eu correria para o bosque e liberaria lá. Todos os dias eu planejava o caminho que eu iria fazer e mudei alguns móveis de lugar para facilitar esse trajeto, como a mesa da cozinha e a mesinha do telefone que ficava do lado da porta dos fundos. Mais uma vez, fiz o trajeto com a mente, quando meu pai chegou na cozinha e olhou para nós dois.

- Vão se arrumar, rapazes. - Ele pegou uma caixa de leite e um copo. - Hoje vamos á psicóloga. E... - ele disse, antes que eu reclamasse. - sem reclamações. Você sabe que precisa. Vocês tem meia hora.

Alliansé |  Livro I: MetadesOnde histórias criam vida. Descubra agora