Capítulo 3: Traumatismo

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Já fazia uma semana que John veio morar conosco e essa semana realmente não foi fácil.

Eu voltei para o colégio com as matérias todas em dia, pois não sei como consegui, mas atualizei todas no domingo, passei o dia inteiro copiando matéria, enquanto meu pai dormia e John ficava as vezes em seu quarto, as vezes na sala com meu pai, as vezes sentado no banco do quintal, vendo a chuva e ouvindo música, mas sempre em silêncio, de cabeça baixa e os olhos cansados. Estudar fez com que eu ocupasse minha cabeça e de noite eu estava tão cansado que não demorei a dormir.

Durante a semana, meu pai fazia de tudo para tentar interagir comigo e com John, enquanto eu e ele estavamos em casa, pois eu já tive que voltar as aulas na segunda feira e meu pai era chefe da polícia, não podia se ausentar por muito tempo. Nesse meio tempo, John ficava sozinho em casa. Ele não parecia se importar, pois disse que gostava de ficar sozinho. As vezes meu pai deixava algumas tarefas para ele fazer, como ir ao supermercado, ir ao banco, levar coisas para algumas pessoas da cidade, levar coisas para ele no escritório da polícia.

Eu tinha a impressão que meu pai tinha medo de deixar John sozinho em casa, medo de que ele fizesse algo, por que a situação não estava boa.

Não houve uma noite que eu não tenha ouvido os sonos agitados de John, quando ele não está sobre o efeito de remédios, ele fala muito enquanto dorme e pude perceber que ele tem pesadelos todo dia. Ele acorda de 3 em 3 horas agitado, desce as escadas, posso ouvir a geladeira se abrindo, ele fica la em baixo por 20 min no mínimo, depois sobe as escadas e tenta dormir de novo, o que consegue nas próximas 3 horas, quando ele acorda agitado novamente.

No café da manhã, ele não estava presente, por que eu e meu pai acordamos cedo demais para nossos afazeres diários e ele estava cansado demais para acordar cedo. Depois do café da manhã, eu pegava carona com meu pai e ia para a escola, onde passava a maior parte do dia estudando coisas que eu não saberia se utilizaria em minha carreira ou não. Eu não fazia ideia se eu teria uma carreira. Depois tínhamos 1 hora de almoço em que eu, Marrien, Ninna e Warren ficávamos nas escadas do colégio estudando, conversando e rindo. Depois do almoço, mais uma jornada de estudos e aulas práticas (eu gostava da aula de culinária), e depois eu voltava para casa a pé ou de ônibus, dependendo do clima.

Quando eu voltava para casa, ela estava um brinco, como nunca esteve antes. Quer dizer, já esteve enquanto a mãe estava em casa. Mas John era meio maníaco por limpeza. Ou talvez, como eu fazia com os estudos, ele só estava tentando ocupar a cabeça com alguma coisa. Meu pai demorava um pouco mais do que eu para voltar, então quando eu chegava, sempre encontrava John deitado no sofá da sala, no banco do quintal ou em seu quarto, com um livro descansando no colo enquanto ele dormia levemente.

Eu colocava minhas coisas no meu quarto, comia alguma coisa e quando tinha dever de casa eu os fazia, quando não tinha, eu descia para assistir televisão, ou saia para correr. Quando eu voltava ou terminava de estudar, eu descia para preparar o jantar. John me ajudava, as vezes conversávamos, mas não passamos de 3 palavras por conversa, não era por falta de tentativa da minha parte, mas John era muito quieto e ainda estava em fase de luto.

O que me preocupava, e preocupava meu pai também, é que a aparência dele não melhorava em nada, na verdade só piorava. Ele parecia muito cansado, as olheiras eram enormes, as vezes conversávamos com ele e ele não escutava. E parecia sempre estar em outro mundo.

Mas tudo desandou na última quinta feira.

O dia tinha passado como qualquer outro dia normal, e eu estava realmente cansado. Nunca tinha me sentido cansado dessa maneira em toda a minha vida. O vazio dentro de mim parecia me corroer ainda mais a cada dia que se passava, e eu podia sentir ele me engolir aos poucos. Meu pai e meu irmão tinham ido a escola levar os documentos de John. Ele ia começar a estudar na próxima semana.

Alliansé |  Livro I: MetadesOnde histórias criam vida. Descubra agora