Capítulo 4: Um vazio cheio

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Chegara o grande dia. Primeiro dia de aula de John. Meu corpo ainda estava dolorido da última quinta feira, mas eu já conseguia pisar normalmente. E eu estava animado. Eu sei que parece idiotice, mas eu mal esperava para ver o rosto das pessoas quando vissem dois Jhames iguais e ao mesmo tempo diferentes no mesmo local. Sim, eu sei, eu sou um pouco idiota.

Me arrumei rápido e me decepcionei quando vi que não poderia tirar o curativo da testa e que meu olho estava mudando do roxo para o verde, e que estava horrível. Me perguntei por que insisti em cortar minha franja no mês passado, nesse momento ela seria bem útil. Coloquei óculos escuros que esconderam o roxo e pronto. Além de bonito, estava agora estiloso.

Desci as escadas com a minhas coisas e fui direto para a cozinha. John estava colocando o último caderno dentro de sua mochila preta. Ele não parecia vestir algo diferente do que o normal: calça jeans, tênis all star preto e um moletom cinza escuro. O cabelo dele parecia estar do mesmo jeito que ele acordou, e ele tinha cortado também, então a franja fazia uma parábola para cima engraçada. E por incrível que pareça: ele estava usando óculos de grau com a armação preta e lentes grandes.

Olhei para ele estranhando:

- ... de onde vieram esses óculos?

Ele me olhou, enquanto fechava o zíper da sua mochila:

- Eu preciso para ler.

- Mas eu nunca vi você com eles!

- Eu estava usando lente de contato, mas agora elas estão me incomodando um pouco... - ele me olhou de canto de olho. - E esses óculos escuros? Nem está fazendo sol lá fora.

- Ah ...- eu disse, colocando a bolsa na mesa e pegando uma tigela no armário. - Eles me deixam charmoso, não acha?

- É por causa do olho roxo? - disse meu perspicaz irmão mais novo.

- Obviamente, meu caro Watson.

Ele riu de lado e se sentou, com uma tigela de frutas picadas e aveia. Eu enchi a minha de leite e cereais. Olhei para ele.

- Está nervoso? - disse, tentando esconder o quanto eu estava ansioso para esse dia.

Ele me olhou, como se aquela pergunta não fosse nada e disse.

- Não. - e voltou a comer suas frutas.

Neste momento descobri que meu irmão era um enorme estraga prazeres. Mas não era possível que ele estivesse tão calmo.

- É só escola. - Ele disse. - Só tenho que ir lá, prestar atenção na aula e estudar.

Eu ri de lado.

- Isso no ensino fundamental. O ensino médio é muito mais difícil.

- Eu consigo acompanhar.

- Não estou falando das matérias. - Disse, depois de mais uma colherada de cereais. - Estou dizendo sobre convívio social. - ele me olhou carrancudo, me repreendendo por falar de boca cheia. - Algo que tenho a impressão que você não é tão apreciador assim.

Dei uma olhada de canto para ele e pude perceber que ele parou a colher no meio do caminho por alguns segundos, mas permaneceu em silêncio. Eu dei uma leve risada.

- Mas não se preocupe, eu estou aqui para ajudar.

- Eu aprecio a sua boa vontade, Jhames Richard Miles. - disse ele, mal humorado. - Mas acredito que não vou precisar de ajuda, obrigado. Você está subestimando a minha capacidade social. - ele comeu o resto das suas frutas. - E ainda continua sendo só escola. Não é obrigatório o convívio social.

Alliansé |  Livro I: MetadesOnde histórias criam vida. Descubra agora