Twelve

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Julie Molina

Ficamos vendo filme até tarde, tenho que reconhecer o esforço do Willie de me distrair,deu certo.
Dormimos no meio de um filme então acabamos dormindo juntos,mas por mim não tem problema. É estranho e legal ao mesmo tempo a forma que criamos uma intimidade tão grande em tão pouco tempo.

...

Tive outro pesadelo com ela. Eu sempre fico agitada quando sonho com isso e óbvio que se alguém estivesse dormindo grudado comigo acabaria acordando com a minha agitação.

- Ei, Julie. Acorda.- Willie me chacoalhava tentando me acordar,e eu acordei- Está tudo bem?- essas três palavras foram o suficiente para me fazer desmoronar em lágrimas.

Não lembro a última vez que me deixei levar e chorei mas faz muito tempo.

- Não chora.- ele me puxou para um abraço.- Sonhou com sua mãe?- sua voz era calma e preocupada. Assenti com a cabeça.- Sabe...- ele começou se afastando me fazendo olhá-lo.- Dizem que quando algo nos assombra por muito tempo, é bom a gente conversar com alguém sobre isso. Por pra fora diminui a dor. Se estiver pronta,pode conversar comigo se quiser, eu vou estar aqui te ouvindo.- ele olhava no fundo dos meus olhos me transmitindo sinceridade.

Sem que eu percebesse,as palavras começaram a sair da minha boca.

- Minha mãe sempre foi muito alegre,não parava quieta,sempre queria fazer algo novo. A vida dela poderia ser resumida em uma grande aventura musical. Mas de repente ela começou a ficar mais quieta e cansada. Frequentemente ela ficava de repouso no quarto com dores de cabeça ou no corpo. Ela pensava que era porque ela sempre foi muito ativa e mesmo depois de dois partos ela não sossegou então aquilo era o corpo dela cobrando um descanso. Mas aí veio o mal estar frequente também,então decidimos levá-la ao médico. Fizeram uma série de exames e descobriram um tumor cerebral nela. Fizeram mais um monte de exames e descobriram que não poderiam operar pelo estado avançado mas que poderiam fazer um tratamento que ajudaria ela a viver um pouco mais. Na época tínhamos treze e e oito anos. Ela aceitou o tratamento e fez ele por dois anos quase mas decidiu parar. O tratamento deixava ela mais fraca do que a doença e ela não queria viver a base de drogas com nomes estranhos. Ficamos com medo da decisão dela mas a apoiamos.- fiz uma pausa a fim de me acalmar para poder continuar,foi quando senti a mão de Willie sobre a minha em gesto de apoio,então continuei.- Ela voltou para casa com a gente e dedicou cem porcento dos seus dias à família. Nossos parentes de Porto Rico vieram visitar ela e tudo mais. Enfim,chegou o aniversário do Carlos e foi uma festa, assim como o meu e do Reggie dois meses depois. Ela estava radiante no nosso aniversário,seu rosto parecia mais iluminado do que nunca. Naquele dia dormimos todos juntos no loft sob a luz do luar. Mas toda aquela alegria acabou no dia seguinte quando acordamos com ela tendo uma convulsão,levamos ela para o hospital e os médicos conseguiram estabilizar o quadro dela. Ela ficou internada em observação,os médicos não queriam libera-la com menos de uma semana então íamos todos os dias vê-la. No sexto dia de internação fomos visitar ela e ela pediu pra conversar com cada um de nós a sós. Eu fui a última e todos saíram com lágrimas nos olhos mas tentavam disfarçar. Quando entrei ela estampava o melhor dos sorrisos dela,ela me disse para não desistir e me manter resistente,mesmo que o mundo caísse em ruínas. Ela começou a cantar o refrão de uma música que ela estava compondo,eu fechei os olhos para apreciar a voz dela mas de repente ela parou,senti sua mão se tornar gelada e logo os aparelhos começaram a apitar. Ela tinha ido embora.- caí no choro e Willie me abraçou,não disse nada,apenas me abraçou e ficou lá até que eu me acalmasse.

Nos Acordes do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora