Julie Molina
Ficamos vendo filme até tarde, tenho que reconhecer o esforço do Willie de me distrair,deu certo.
Dormimos no meio de um filme então acabamos dormindo juntos,mas por mim não tem problema. É estranho e legal ao mesmo tempo a forma que criamos uma intimidade tão grande em tão pouco tempo....
Tive outro pesadelo com ela. Eu sempre fico agitada quando sonho com isso e óbvio que se alguém estivesse dormindo grudado comigo acabaria acordando com a minha agitação.
- Ei, Julie. Acorda.- Willie me chacoalhava tentando me acordar,e eu acordei- Está tudo bem?- essas três palavras foram o suficiente para me fazer desmoronar em lágrimas.
Não lembro a última vez que me deixei levar e chorei mas faz muito tempo.
- Não chora.- ele me puxou para um abraço.- Sonhou com sua mãe?- sua voz era calma e preocupada. Assenti com a cabeça.- Sabe...- ele começou se afastando me fazendo olhá-lo.- Dizem que quando algo nos assombra por muito tempo, é bom a gente conversar com alguém sobre isso. Por pra fora diminui a dor. Se estiver pronta,pode conversar comigo se quiser, eu vou estar aqui te ouvindo.- ele olhava no fundo dos meus olhos me transmitindo sinceridade.
Sem que eu percebesse,as palavras começaram a sair da minha boca.
- Minha mãe sempre foi muito alegre,não parava quieta,sempre queria fazer algo novo. A vida dela poderia ser resumida em uma grande aventura musical. Mas de repente ela começou a ficar mais quieta e cansada. Frequentemente ela ficava de repouso no quarto com dores de cabeça ou no corpo. Ela pensava que era porque ela sempre foi muito ativa e mesmo depois de dois partos ela não sossegou então aquilo era o corpo dela cobrando um descanso. Mas aí veio o mal estar frequente também,então decidimos levá-la ao médico. Fizeram uma série de exames e descobriram um tumor cerebral nela. Fizeram mais um monte de exames e descobriram que não poderiam operar pelo estado avançado mas que poderiam fazer um tratamento que ajudaria ela a viver um pouco mais. Na época tínhamos treze e e oito anos. Ela aceitou o tratamento e fez ele por dois anos quase mas decidiu parar. O tratamento deixava ela mais fraca do que a doença e ela não queria viver a base de drogas com nomes estranhos. Ficamos com medo da decisão dela mas a apoiamos.- fiz uma pausa a fim de me acalmar para poder continuar,foi quando senti a mão de Willie sobre a minha em gesto de apoio,então continuei.- Ela voltou para casa com a gente e dedicou cem porcento dos seus dias à família. Nossos parentes de Porto Rico vieram visitar ela e tudo mais. Enfim,chegou o aniversário do Carlos e foi uma festa, assim como o meu e do Reggie dois meses depois. Ela estava radiante no nosso aniversário,seu rosto parecia mais iluminado do que nunca. Naquele dia dormimos todos juntos no loft sob a luz do luar. Mas toda aquela alegria acabou no dia seguinte quando acordamos com ela tendo uma convulsão,levamos ela para o hospital e os médicos conseguiram estabilizar o quadro dela. Ela ficou internada em observação,os médicos não queriam libera-la com menos de uma semana então íamos todos os dias vê-la. No sexto dia de internação fomos visitar ela e ela pediu pra conversar com cada um de nós a sós. Eu fui a última e todos saíram com lágrimas nos olhos mas tentavam disfarçar. Quando entrei ela estampava o melhor dos sorrisos dela,ela me disse para não desistir e me manter resistente,mesmo que o mundo caísse em ruínas. Ela começou a cantar o refrão de uma música que ela estava compondo,eu fechei os olhos para apreciar a voz dela mas de repente ela parou,senti sua mão se tornar gelada e logo os aparelhos começaram a apitar. Ela tinha ido embora.- caí no choro e Willie me abraçou,não disse nada,apenas me abraçou e ficou lá até que eu me acalmasse.
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Nos Acordes do Silêncio
Fiksi PenggemarGêmeos nascidos em berço musical,cresceram com os corações batendo em sintonia com cada acorde que tocavam. Eles tinham tudo pra seguirem uma carreira musical, mas uma perda mudou tudo. Ele,continuou com sua música. Ela,se calou por completo. . O si...