Uma Flecha no Coração - Trilogia do Coração ♥ Vol. II

Capítulo 2.

Nossa heroína assusta o marquês, um pouco.

Georgina encarou o teto pela milionésima vez e suspirou, resolvendo levantar da cama, acendendo a vela e colocando uma manta ao redor dos ombros. Olhou para a porta, não seria nada educado sair perambulando pela casa de outra pessoa que teve a gentiliza de convidá-las para vir passar um tempo no campo, mas ela não conseguia dormir devido á estar em um local novo e diferente, e principalmente por causa da sua insônia. Respirou fundo e abriu a porta olhando para ambos os lados do corredor, completamente deserto com somente algumas velas acessas iluminando o caminho. Foi devagar passando pelo corredor até a escadaria magnifica de madeira escura iluminando os degraus para não acabar tropeçando e causando incidentes indesejáveis como sua madrasta gostava de dizer que ela causava.

-Onde era mesmo? –murmurou sozinha parada no final da escada olhando ao redor.

Lembrava-se de ver uma porta aberta e dentro com prateleiras de livros, provavelmente a biblioteca e era onde queria ir. Caminhou até metade de um corredor para perceber que não era e voltou, indo para outro e reconhecendo o local até encontrar a porta. Não estava trancada para sua sorte e então entrou com facilidade, mas não esperava encontrar o Marquês encostado na poltrona, um livro deitado no colo, á cabeça encostada no encosto e os olhos fechados. Aproximou-se devagar dele, colocando a vela em cima da mesa e observando o rosto do homem. A cicatriz do olho direito estava quase oculta pelas sombras, mas ela ainda conseguia ver e lembrava como era perfeitamente á luz do sol. Sempre ouvia as damas fofocarem sobre o Marquês de Stormborn, o quão era perfeito antes da cicatriz horrorosa marcada em seu rosto, então ela sempre imaginou que ele seria feio, mas quando o viu pela primeira vez o achou completamente normal, um homem como qualquer outro, a única diferença era a cicatriz que não era tão grande como as damas haviam feito acreditar. A sociedade fazia o parecer que era a criatura de Victor Frankenstein de Mary Shelley.

-Há algo no meu rosto, senhorita Harrison? –ele disse com a voz rouca de repente, fazendo-a dar um passo em falso para trás e acabar caindo com o traseiro no chão. –Está bem, senhorita? –ele perguntou levantando-se imediatamente para ajudar ela.

Georgina deu uma risada forçada e totalmente desanimada. Estava muito envergonhada e preferia sair correndo, e teria se o Marquês não tivesse segurado seus braços e a mantido em pé como se fosse cair a qualquer momento.

-Estou. –forçou-se a responder, mas não ousou olhar para ele.

Então o ouviu rir e isso a fez levantar o olhar, furiosa.

-Cadê os seus modos, meu lorde? –perguntou, segurando a risada também.

-Está quase rindo também, senhorita. –disse colocando a mão na frente da boca.

Ela simplesmente bufou e virou de costas para não acabar rindo. Olhou á volta tentando distrair do fato que achara o Marquês encantador ao rir e surpreendeu-se ao ver a biblioteca finalmente. Ver era um equivoco afinal estava bastante escuro para o final do local, mas era óbvio que era uma biblioteca enorme e com livros lotando as prateleiras que por sua vez ocupavam toda a extensão das paredes. Isso a fez suspirar.

-Gostou? –perguntou e sua voz soou muito perto.

-Sim. –ela sussurrou sem nem saber o motivo de estar fazendo isso, somente sentiu que devia.

-Fique a vontade para apreciar. –disse o Marquês, o cheiro de sabonete e grama invadindo seus sentidos olfativos. –Vou me retirar, afinal não é adequado que dois solteiros estejam sozinhos assim.

Foi quando ela se deu conta que ele tinha razão. Se alguém os visse, se alguém os pegasse, teriam que se casar e eles nem se conheciam para tal feito ou pior, ele se negaria á casar com ela e estaria arruinada para o resto da sociedade para sempre. Não que se importasse em viver como solteirona, mas não queria manchar a reputação do ducado do pai que um dia iria pertencer á Philip, seu irmão mais velho e a única pessoa no mundo que a entendia.