capítulo seis

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Como quem não queria, mas acabou fazendo, Nick visou o ex-supervisor, que no momento se encontrava de cabeça baixa, punhos sobre a mesa. Parecia uma bomba relógio prestes a explodir. De todos, foi o único que não se manifestou de maneira explícita ao ouvir a iminente ideia do detetive.


— Vai colocar um homem que está disposto a destrui-la perto dela apenas para conseguir uma confissão? É isso que o senhor quer fazer, detetive? — Grissom o enfrentou, sem ao menos sair do lugar.

— Olha só, eu realmente quero ajudar vocês, ajudar a CSI Sidle. Não há provas diretas que o liguem até o crime! Vai sobrar para ela no final!


— Vocês já exporão Sara a sofrimento demais. Eu não posso permi-... — Grissom suspirou brevemente. —  Não posso concordar com esta ideia. É insana.

Ele não estava lá para impedir Sara quando ela mesma se voluntariou para ser uma isca do estrangulador Strip. Sua exagerada vontade de fazer seu dever quase a colocou em apuros e por isso ele não poderia permitir que algo semelhante ou pior acontecesse. Ainda mais quando o homem suspeito jazia uma raiva direcionada a ela.

Só de pensar naquilo seu sangue fervia de impaciência. Nem que ele próprio fosse a isca, não podia deixar que Sara se arriscasse naquele jogo. O pior de tudo era que, conhecendo-a bem, Grissom tinha certeza que se ela soubesse da ideia, concordaria na hora.

— Não é... Política nossa em colocar nossos CSIs num trabalho policial, detetive Crawford. — Russell se posicionou, tentando como sempre equilibrar a situação. — Mesmo que eles estejam envolvidos em casos assim.


— Eu sei, mas não tenho outra ideia. Se vocês tiverem, é melhor se apressarem logo. A promotoria quer um caso o quanto antes para apagar qualquer incêndio que a imprensa queria colocar.

Alguns repórteres eram como abutres procurando casos polêmicos. Um CSI matar um companheiro amoroso por algum motivo passional seria a carne podre que os alimentaria por tempos.



— Estão me chamando na Central. — O detetive olhou para o celular. — Voltarei em breve e torcendo para que tenham pensado em alguma coisa para livrar Sidle.

Ao sair, o restante do grupo conversou entre si em duplas, a voz baixa predominava. Ninguém era 100% a favor daquela ideia, mas o tempo corria de modo veloz e suas opções eram mínimas. Voltar e passar um pente fino em todas as evidências coletadas e tentar encontrar novas evidências seria um trabalho longo; levaria horas e não teria certeza se iriam encontrar o que queriam.


— Você mesmo disse que... Não podíamos fazer as evidências se encaixarem em nossas teorias. — Greg se dirigiu a Grissom, que o visou com uma feição séria. — Precisamos agir depressa e talvez a alternativa que o detetive nos deu seja a melhor.

Grissom teve vontade de retrucar, falar de modo exaltado, até, se o ex-subordinado tivesse coragem de arriscar a vida alguém que amasse. Ele se conteve, mas não o respondeu por fim. Olhou para a baixo como antes, as mãos estavam ao lado do corpo, não mais sobre a mesa. Sentiu que atraiu os olhares dos outros e se tornou o centro da atenção.


— Por que estão olhando para mim como se eu fosse o responsável por tomar esta decisão? — Ele sorriu para os outros. Àquela altura todos já sabia que ele e Sara se divorciaram e quaisquer tentativas suas de influenciar numa decisão poderia ser encarado de forma prejudicial a ele e Sara.
— Eu dei a minha opinião sobre esta escolha e teria a mesma opinião se fosse a vida de vocês que estivesse em risco.

Preocupados, eles encararam o supervisor que tentava manter-se imparcial apesar das circunstâncias. Tentavam se colocar no lugar dele, mas apenas Grissom sabia a dor que estava sentindo.


— Fiquem a postos, vocês. — Solicitou Russell, apontando para cada um ali e mudando as atenções. — Senhor Grissom, por favor, venha comigo. Temos de resolver um assunto importante antes de continuarmos por aqui.


Franzindo as sobrancelhas por não saber exatamente sobre o que o assunto se tratava Grissom o acompanhou de volta a sala. Teve o desejo de questioná-lo o motivo daquela futura conversa particular, mas não se opôs. Não quis questionar a autoridade do então supervisor porque não queria que fizessem o mesmo a ele se estivesse em seu lugar.

— Chamei o senhor aqui porque sei que o assunto é delicado. — Russell fechou a porta de sua sala antes de começar a falar. 

 — Não me trate como se eu fosse alguém especial neste caso. Vim para cá no intuito de auxilia-los, não para assistir a um show. 

 — Eu sei, eu sei. — O supervisor gesticulou com as duas mãos. — O senhor acha que eu iria querer colocar um dos meus nesta palhaçada? 

 — Sara não é mais minha esposa, mas como posso ficar parado e deixar que vocês permitam isto? Sabendo que vai mandá-la como isca para um sociopata como Basderic? — Grissom argumentou, evidenciando seu verdadeiro estado. Ele não conseguia ficar tranquilo. 

 — Eu sei que é difícil, no meu caso ficaria louco se fosse com Barbara. Mas Sara é uma mulher treinada sabe se cuidar em situações assim. 

 — Vinte e quatro horas, senhor Russell. Dê-me este prazo e eu reviro este caso de ponta cabeça. — Grissom insistiu quase desesperado. 

 O supervisor levou a mão direita à nuca, sentindo-se completamente incapacitado de ajudar Grissom. Ele balançou a cabeça como se não tivesse outra alternativa. 

— O tempo é curto. Logo vão dar continuidade com as acusações e- 

 — Então me coloque junto. Deixe-me ser a isca, então. - Grissom mal esperou ele acabar de falar. — Céus! Deve ter algum jeito, alternativa. — Ele ergueu os braços. — Não há mais laços entre nós, eu sei. Mas eu não... posso... 

— Nós estamos tentando. Realmente. — Russell lamentou com a voz baixa. 

— Ela... quase morreu afogada e quase morreu de desidratação no deserto, Russell. Tudo isso em poucas horas. — Pela primeira vez a voz de Grissom quase falhou. Falar sobre aquilo era desenterrar as piores horas que encarou em sua vida. 

O supervisor se manteve em silêncio em respeito ao que ele dizia. Não podia falar nada nestas situações, sentindo-se impotente.

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