Capítulo 6

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Adam

Que porra de loucura foi aquela? Ou eu estou perdendo o juízo ou aquela mulher perplexa me olhando era a Clara dos meus sonhos, o que me leva a outro questionamento: Como isso seria possível?

Eu já vi muitas coisas ao logo desse meu tempo atuando como médico, mas nunca ouvi relatos de pessoas que se conhecem através dos sonhos e que um belo dia, assim do nada se reencontram na vida real.

Eu já dei duzentas voltas por essa cidade em busca dessa mulher e nada, simplesmente nada. Há três dias eu estou em um estado catatônico e isso tudo é demais até para mim, por isso eu decidi buscar ajuda, sei que eu já deveria ter falado sobre os sonhos com Felipe, mas não achei que isso fosse algo relevante, porém diante dos últimos acontecimentos não restam dúvidas que eu estou ficando louco.

Ao ligar para ele pedi que me encontrasse num bar, hoje não estou no clima para consultórios, preciso do amigo, não apenas do psicólogo. Me direciono para um bar próximo para nós dois, por morarmos a poucas ruas de distância, isso facilita muito nosso encontro.

Assim que ele chega, eu já estou tomando um Chopp, faço sinal para que ele me veja e peço mais uma rodada ao garçom, nos cumprimentamos e ele já me questiona para saber o que havia acontecido, sem rodeios eu falo "estou enlouquecendo", a primeira reação dele é ri. Mas, conforme eu vou contando tudo para ele, a risada vai dando lugar a um completo desespero, Felipe parece mais desnorteado que eu, começo até a questionar se devo continuar falando, mas decido continuar, afinal, não deve ser nada comum alguém relatar que interage com os sonhos, mas é quando eu digo o que aconteceu a três dias que tenho certeza de que ele não está bem.

Ele sinaliza para o garçom e pede três canecas de Chopp e uma dose dupla de whisky, meu Deus, o que foi que fiz para Felipe ficar nesse estado? Já me arrependi de ter falado, se o cara que é psicólogo está nesse estado, imagina se eu tivesse contato isso para outra pessoa.

O pior é que eu queria desabafar e acabei me sentindo pior do que estava.

As bebidas chegam e ele bebe sem pausa, engole um copo atrás do outro, depois vira para mim e diz que precisa ir. Vou fazer o que né, balanço a cabeça, sinalizando para que ele vá, bebo mais um copo e depois sigo para minha casa.

Sem respostas, sem uma solução para meus questionamentos, não consigo dormir, minha agitação está em um nível que eu nunca pensei ser possível ficar, nem mesmo quando perdi a Gabi me vi tão perdido como estou agora. Quem afinal é essa mulher e que poder é esse de me desestruturar dessa maneira? Mais perguntas que ficarão sem respostas.

Felipe

Conforme Adam vai me contando seus sonhos, eu vou divagando em minhas lembranças, será possível duas pessoas narrarem o mesmo sonho para mim, sem nem ao menos se conhecerem?

E conforme o tempo foi passando a minha ficha foi caindo, puta merda, meus dois pacientes sonham um com o outro e o pior de tudo isso é saber que ambos estão tão frágeis mentalmente que eu nem se quer posso falar que os conheço, sem contar que tem toda questão do sigilo profissional, como vou encarar essa situação toda?

Eu preciso sair daqui, pois tudo isso é demais até para mim. Bebo de forma descontrolada e saio do bar sem destino algum, tento pensar o que farei sobre essa questão, mas não encontro nenhuma resposta, então decido ligar para Clara saber o que ela precisava tanto compartilhar comigo, sendo que depois dessa narrativa do Adam não é nada difícil adivinhar o que ela tanto quer falar.

Me direciono para casa da Clara, mas antes passo no mercado, compro batatas e umas bebidas, acho que hoje preciso de uma noite de amigos, sem papo doido de sonhos.

Ao chegar em sua casa me surpreendo em não a encontrar sozinha, ela está com uma amiga, que me apresenta como Mabel, já ouvi falar muito dela, o que eu não podia imaginar é que ela é uma loirinha linda, o que acaba me deixando sem palavras.

Foi uma noite muito agradável, rimos, conversamos e acabamos assistindo uma serie e dormindo os três no sofá, acordei com o telefone da Clara tocando e no impulso acabei atendendo e o rapaz do outro lado da linha pareceu desnorteado em ouvir minha voz, que merda foi que eu fiz, será algum peguete dela? puta merda, o homem deve estar pensando alguma merda.

Levanto, vou ao banheiro fazer uma higiene mínima e me direciono para cozinha para fazer um café, quando estou terminando de colocar as coisas na mesa, me assusto ao perceber Mabel me encarando. Ela questiona o fato de eu estar muito à vontade na casa da Clara para ser apenas um psicólogo, então eu conto para ela que eu e Clara ficamos amigos e que essa não é a primeira vez que venho aqui, por isso, sim, estou a vontade, ela ri e questiona se somos apenas amigos mesmo, eu confirmo e a convido para tomar café, enquanto estamos comendo, Clara se junta a nós, dai eu lembro da ligação, já inicio pedindo desculpas, dizendo que o telefone estava tocando e eu no impulso acabei atendendo e que o cara do outro lado da linha pareceu não ter ficado muito contente em ouvir a minha linda voz.

Então ela me fala quem é o rapaz e tudo que aconteceu na noite que ela viu o Adam, puta merda e eu tinha esperança de ser maluquice da minha cabeça, agora me pergunto como vou resolver essa confusão.

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(É meus amigos, parece que as coisas estão começando a se esclarecer, será agora que Clara e Adam finalmente irão se encontrar?)

O que me une a você / DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora