Houve silêncio, Gabriel não esperava...

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...aquela resposta. Toda semana o alvo se dava o trabalho de ir a um ponto de prostituição, circular pelas vias de Brasília com uma profissional da noite, para quê? Conversar, como ele próprio estava fazendo? Ele insistiu, lembrou que a esposa já sabia. Não carecia detalhes, mas desejava entregar algo mais concreto do que "uma travesti entrou no carro e deram voltas".

Cassandra insistiu, se falasse diferente estaria mentindo. Sugeriu relatar exatamente o que estava contando. O rapaz apostou:

– Seguinte, fala a verdade e eu te levo de volta no ponto, e em cinco minutos você ganhou o que ganharia em uma hora.

– Mas não tem...

– Ei! Insistir que fica só conversando com o cliente não vai salvar o casamento dele não, viu? Só confirma a transa e pronto! Quero fechar logo o caso e partir pra outra. Ajuda aí!

– A gente só conversa...

– Ah, para...

– O Demétrio é meu pai!

Era a mais improvável das respostas. E, antes que ele pudesse processar a informação, Cassandra continuou

– O Demétrio é meu pai, namorou com a minha mãe, que Deus a tenha, antes de se casar, e não sabia que a mãe tava grávida.

Gabriel, com os olhos fixos na estrada, somente ouvia, tentando imaginar o teor do relatório.

– Eu morava em Goiânia com a minha tia. A mãe nunca falou quem era o meu pai, eles brigaram, sei lá... Daí a mãe morreu e a tia Laci me contou tudo.

O carro seguia, agora pela EPTG, tão lento quanto Demétrio o fizera.

– Daí eu vim pra Brasília e descobri onde ele trabalhava. Claro, não fui direto falar com ele. Primeiro me estabeleci, fixei ponto. Foi uns três meses até eu procurar ele.

Cassandra relatava sua história com contida, mas percebida, emoção nas palavras. Gabriel por um instante abandonou o papel de detetive. Pediu pela sequência. Cassandra revelou medo da reação. Desnecessário. O pai a abraçou e chorou. Conversaram por horas: ela contando a própria história; ele um bom ouvinte, só se interessava na história da filha. Reservaria a parte final da conversa para contar com brevidade sobre sua família, sugerindo conversarem de vez em quando. Demétrio desejava guardar segredo da esposa e da família, pedido aceito de pronto.

– Quase toda semana ele vem conversar, traz um dinheiro... Ele acha que me ajuda se ficar pelo menos uma hora comigo, que é um cliente a menos – concluiu, rindo.

Agora sim, a investigação estava concluída. Cassandra recebeu o combinado e foi deixada no ponto. O relatório foi confeccionado com grande satisfação naquela mesma noite. Gabriel sentiu que o problema poderia não estar resolvido e, podendo investigar mais a fundo, decidiu assim. Jamais saberia o que acontecia de fato no carro de Demétrio, mas a conversa com Cassandra estava à disposição de Cláudia no documento para sua avaliação. O que viesse após a entrega do resultado não lhe dizia respeito. Continuasse ou não o casamento, o destino não seria devido a um trabalho incompleto.

Sentimento de missãocumprida, Gabriel estava pronto para novos casos.

Missão CumpridaOnde histórias criam vida. Descubra agora