Colocou sua melhor roupa. Foi em frente ao espelho e por alguns minutos ficou contemplando. Nem mesmo ele tinha dúvida de que era um rapaz extremamente excitante. Vira naquela manhã que a nova música de Lady Gaga havia sido lançada. Ele decidiu assim que a escutou que aquela seria seu hino de guerra. Born this way (Eu nasci assim) dizia absolutamente tudo que ele sentia naquele momento. E ele estava se vestindo para a guerra que iria travar consigo mesmo. Era uma decisão difícil, nem mesmo ele imaginara que um dia teria coragem de fazer o que estava prestes a fazer. Nem mesmo podia imaginar que um dia teria coragem para tanto. Mas foi colocando a última peça de roupa que ele pensou. Não tem jeito, I was born to survive. I must be myself, respect my youth. E não importa se ele era homossexual. Talvez dali para frente seus pais teriam de o aceitar como ele era. Essa havia sido sua última decisão.
Saiu do quarto trinta minutos depois. Mais cedo havia falado para Lara convidar Rodrigo para irem fazer algo juntos. Sem Danilo. O que Rodrigo concordou no ato do convite. Ele preferia assim. Sua primeira experiência seria quase que secreta. Consultou o relógio mais uma vez. Era uma da manhã. Um bom horário para se chegar a uma festa. National Gay & Lesbian Task Force seria sua parada. Iria a uma festa gay, uma boate, chamada Glam (Glamour). Pesquisara sobre o local e era exatamente aquilo que Danilo procurava.
Pegou um Uber.
Aqueles quarentas minutos no banco de trás do carro foram uma eternidade para Danilo. Como seria lá? Teria realmente coragem? Ia se perguntando a todo o tempo até mesmo o que fazia sentado a li. Mas, ele havia pensado em cada segundo de como seria durante muito tempo até chegar ali. Estava muito longe, não podia desistir.
Ele pediu que o carro parasse duas quadras antes da boate. Se surpreendeu ao olhar pela janela e ver casais de lésbicas e gays passarem de mãos dadas. Quando levou a vista mais a frente uns trinta metros pode ver um casal aos beijos. Ok, aquilo não era normal. Não podia ser.
― Você tem certeza que deseja ficar aqui? Parece perigoso, rapaz.
Não, não tenho certeza mais de nada nessa vida. Ele estava confuso. Parecia perigoso. Ele foi até o outro lado do carro, olhando pela outra janela. Havia um grupo fumando, sentados em uma escada que levava ao que parecia uma escola do Brooklin.
― Sim, vou ficar.
― Quantos anos você tem, rapaz?
Danilo olhou assustado. Quem era aquele estranho e porque perguntava sua idade?
― Tenho 18 anos, por quê?
Danilo desceu do carro. Foi até o vidro do passageiro ao lado do motorista.
― Você é um garoto muito novinho para estar em um lugar deste... não gostaria de nada melhor?
Danilo entendeu o recado.
― Qualquer lugar seria melhor do que sair daqui com você. Pode ficar com o troco.
E lançou vinte dólares no banco da frente do carro e saiu andando. O motorista não desistira. Quando Danilo olhou para trás viu que o carro vinha lentamente o seguindo. Que nojo, ainda mais esse gordo nojento querendo algo comigo. Danilo apressou o passo. Vez ou outra arriscava olhar para trás para saber a que distancia conseguia permanecer do carro. As passadas começaram a ficar ainda mais rápidas. Olhou mais uma vez. Dessa vez o carro estava parado a uns quinze metros. Ele agora podia relaxar. Levara um susto. Então parou de correr... quando sentiu puxarem pelo braço.
― Vamos lá, pago pelo serviço. Você é um rapaz muito gostoso.
Era o gordo maldito.
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NOCENTE - Não é leve o perigo quando parece leve
RomanceNeste romance, relacionamentos amorosos, conturbados, inacreditáveis golpes de sorte e muito suspense são magistralmente mesclados pela escrita do autor. São Paulo e a lendária Nova York são o cenário de um terrível jogo no qual um jovem brasileiro...