3. Vidro suado

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 "Se der errado, vou culpar o Wuxian", claro que não aprendera a flertar com o irmão, mas verdade fosse dita, andar muito com Wei Ying ensinava muita coisa a alguém; infelizmente a maioria delas não prestava. Cheng poderia afirmar que a dose de coragem tinha sido de certa forma, inspirada na cara de pau do irmão. O flerte, todavia, era totalmente seu.

Xichen concordou com uma risada gostosa após ouvir sobre o mapa. O problema em si veio depois de entrarem no carro e colocarem os cintos. Como diabos continuar uma conversa tranquila com alguém que até então, havia conversado pouco e minutos atrás havia de certa forma, dado carta branca para um "além"? Cheng não era nenhum santo, mas sua experiência no campo afetivo também não era muito vasta.

Haviam alguns agravantes perturbadores naquela situação toda, e por sempre pensar demais, o Jiang segurava o volante com demasiada força. Tinha a mandíbula travada e as sobrancelhas franzidas, ignorando (mesmo sem notar), o sorriso zombeteiro do Lan ao seu lado.

Lan Xichen era cunhado de seu irmão, e que puta cunhado gostoso! Sua autoestima não era ruim, só que pensar em como dar o próximo passo em direção ao mais velho era um verdadeiro desafio. O homem era quase a personificação de Buda no quesito tranquilidade, e decididamente o cara mais bonito que já vira na vida.

O mais velho tinha ideias diferentes em mente. Nada tão ousado quanto as que lhe nublavam a visão na pista de dança momentos atrás. A verdade é que não queria vê-lo tão tenso estando ao seu lado. Gostava de Cheng, sua personalidade desafiava e instigava algo em si. Não era só atração, ainda que não fosse amor, não é como se um dia não pudesse ser.

Era assustadora a possibilidade de um futuro ao lado dele. Parecia tão certo, tão... Perfeito, que chegava a ser inacreditável a compatibilidade que tinham.

Xichen não era nenhum garoto na puberdade, já tinha se relacionado com todo o tipo de gente. Experimentara relações turbulentas, tóxicas, difíceis, dóceis (e que combinavam mais no campo da amizade), só que nunca tivera propriamente dizendo, aquela sensação gostosa de pertencimento.

Mesmo não tendo nada com o Jiang, fitando-o pelo canto dos olhos enquanto dirigia o carro, o Lan se deixou suspirar. Talvez com ele finalmente desse certo, talvez ele fosse a sua pessoa.

Cheng nunca admitiria em sã consciência que era romântico. Xichen poderia repetir mais de mil vezes, e sorriria em todas elas que era um romântico incorrigível. Ele sabia disso, e provavelmente foi o que fez com que se movesse. Precisava ter coragem.

— Vamos ouvir alguma coisa? — O mais novo não esperou uma resposta, simplesmente ligou o rádio. — Pode conectar, me surpreenda, Lan Xichen.

— Promete não me chutar do carro?

— Prometer é uma palavra muito forte, não concorda? Posso garantir que vou tentar não te expulsar, mas não me responsabilizo pelos meus atos se for muito ruim. — Xichen riu, conectou o celular e buscou uma música em específico. Era romântica, doce e leve. Provavelmente não era o esperado pelo Jiang, que franziu as sobrancelhas. — Apaixonado?

— Acho que estou no processo.

— No processo? Como assim?

— Pode parar o carro um pouquinho?

— Não tá se sentindo bem? Espera, abre o vidro.

Cheng estacionou conforme o pedido, Xichen tinha uma mancha vermelha bonita cobrindo as bochechas. O mais velho respirou fundo e retirou o cinto de segurança, a música continuava tocando. Seu coração batia depressa no peito, e bem, "foda-se", pensou, virando-se para encarar o Jiang.

— Se você quiser me chutar do carro, Cheng, o momento é agora. — A destra segurou-lhe o queixo. Os dedos exercendo certa pressão na pele alheia. — Porque se me deixar ficar, eu vou te beijar.

Se o coração do mais novo falasse por ele, o carro teria se tornado uma escola de samba, tamanho barulho em seu peito. Ele realmente ouvira aquilo?

— Sabe, gostei da música. Acho que você deu sorte, Lan Xichen. — Soltando o próprio cinto, Cheng suspirou e fechou os olhos, sentindo o aperto em seu queixo afrouxar um pouco e virar um carinho pela lateral do rosto. — Não vou te expulsar hoje.

A mão que acariciava sua bochecha seguiu para o pescoço onde arranhou de leve, e se alojou na nuca, puxando-o para frente. Xichen o beijou, como avisou que faria. O beijo começou tranquilo, embalado pela melodia que estava prestes a acabar. Seus lábios se tocaram com carinho, de leve. Cheng derreteu com a textura gostosa da boca alheia enquanto era invadido pelo perfume gostoso que o Lan exalava.

Conforme Will I find my home acabava e When the night is over começava, o clima também se tornava mais quente.

Xichen pediu por mais quando aprofundou o beijo. Sua língua era ávida, sedenta. Cheng não recusou o contato e deixou-se envolver com igual intensidade. O ósculo tornou-se uma batalha de arfares, mordidas e saliva. Em questão de poucos minutos, devoravam um ao outro até que o ar lhes faltasse.

Cheng gostava de morder o lábio inferior do outro. Xichen gostava de lamber a boca do Jiang ao término de cada mordida. Era viciante.

As mãos puxavam os cabelos, bagunçavam as roupas. A posição era desconfortável, e foi pensando nisso e no simples fato de que queria mais, que Cheng sentou-se em seu colo.

— Agora sim. — Xichen sorriu, os dentes raspando no pescoço alvo devagar. Queria mordê-lo.

— Agora sim o quê? — Cheng suspirou. Cada toque por mais sútil que fosse, deixava-o arrepiado e rendido.

Posso jurar que não vou fazer nada de bom. — A frase foi sussurrada em sua orelha, que foi lambida em seguida. Cheng se contorceu, deixando um gemido escapar.

— Depende do ponto de vista.

— É? Sabe de uma coisa, Cheng? — Riu, segurando a cintura fina do mais novo e abrindo os botões da camisa que o mesmo usava em seguida. — Deveria ser proibido ter essa visão. É viciante, me hipnotizou completamente. Não sei se vou conseguir viver depois dela. Graças a você, Jiang, agora sei o que o espelho de Ojesed me mostraria.

— O que? — Agora, a ponta dos dedos de uma das mãos do Lan deslizava pelo abdômen nu, arranhando a cintura e subindo. A outra apertava sua coxa. Cheng suspirava audivelmente. O simples fato do Lan ter entrado na brincadeira e ainda citar coisas que gostava enquanto fazia-o sentir-se cada vez mais desejado já era o suficiente para fazer com que quisesse se entregar ali mesmo. — Que visão?

Você excitado em cima de mim. — Ele novamente o beijou. Fome, desejo, vontade, tinha muita coisa contida ali. Xichen queria que ele sentisse o quanto queria-o.

Apesar da chuva fina e da brisa gelada da madrugada, mesmo a pequena abertura na janela não era capaz de comportar o calor dentro do carro. Os vidros embaçados seriam então, a testemunha de uma noite que dera incrivelmente certo.

O Lan não havia mentido, estava afinal, no processo de se apaixonar por Jiang Cheng.

//continua...

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