2. Dirija com cuidado

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Cheng queria gritar, talvez dar uns golpes cegos no ar e impedir o próprio coração de bater tão depressa como fazia naquele momento. Era vergonhoso cair assim por alguém. Ainda assim, lá estava ele, de mãos dadas com Lan Xichen, sendo arrastado com carinho e cuidado pelo emaranhado de corpos que se chocavam graciosamente na pista de dança.

A camisa do mais velho brilhava, assim como seu sorriso bonito. Xichen o conduzia até a saída, até seu carro. Por um instante o Jiang desejou que a distância fosse maior, assim poderia sentir a destra envolvida pelos dedos quentes do outro por mais tempo.

"Idiotice", pensou consigo mesmo, mas involuntariamente apertou a mão alheia com um pouco mais de força.

A batida repetitiva e envolvente soava sem restrições ali, impedindo qualquer som externo de penetrar nos domínios de Yiling, a principal balada LGBT da cidade. Era sua primeira vez ali, e não tinha achado o lugar ruim única e exclusivamente graças a companhia da noite. Talvez voltasse uma noite, isso, se o Lan garantisse que voltaria também.

Cheng não gostava de barulho, nem de grandes multidões. A escuridão lá dentro era bem-vinda, e os letreiros roxos neon decididamente davam um charme especial ao lugar. Como Wuxian havia obrigado-os a irem até lá naquela noite seria para sempre um verdadeiro mistério.

Xichen tinha a cabeça a mil. Ao redor deles, um prazeroso caos de pegação se instaurava. Ele gostaria de puxar o Jiang pela cintura, encaixar seu quadril no dele e dançar. Explorar seu corpo, ultrapassar o tecido fino das roupas e apertá-lo com vontade. Mover-se lentamente, beijá-lo, até que estivesse sem fôlego. Como um leão, Xichen queria devorá-lo por inteiro, começando ali.

Esconder a excitação era difícil, principalmente quando tinha a mão fria e suada de Cheng entre a própria. As temperaturas contrastantes lhe davam ideias atrevidas demais, e olhando para trás por cima do ombro, com um sorriso safado na boca bonita, ele encarou os olhos bonitos do outro.

Ao invés de derreter o iceberg que era o primogênito Jiang, Xichen gostaria de deslizar um cubo de gelo de seu umbigo até a virilha; com a boca.

O pensamento fez com que sorrisse ainda mais abertamente. Não sabia nem como agradecer Wangji na manhã seguinte pela oportunidade de finalmente ter um tempo a sós com o irmão de Wuxian.

Os dois seguiram por um corredor de espelhos extremamente claro, o que fez com que o mais novo reclamasse da claridade inesperada, alguns metros depois finalmente chegaram na saída. Era madrugada, mas a cidade nunca parecera tão viva antes.

— Então... — Começou o Lan, puxando-o para perto de si e soltando sua mão. — Onde estacionou?

Cheng não esperava vê-lo corado, mas sob a luz amarelada da rua, ele parecia estranhamente vermelho. O Jiang riu, fitando o asfalto úmido por alguns instantes, e em seguida chutou uma pequena poça d'água próxima. O que estava esperando conseguir naquela noite? Fantasiar era uma coisa, colocar em prática era outra. Ele nem sabia se o Lan mais velho era gay, ou ao menos bi.

— Na rua de trás. É perto. — Respondeu simples, mordendo o interior dos lábios ao ver Xichen caminhar devagar e despreocupado, mantendo um ritmo moderado apenas para caminhar ao seu lado. — Você se mudou?

— Hm? Não. Ainda moro no mesmo apartamento. Você lembra o endereço? Olha, pedi uma carona, mas foi brincadeira. Se for fora de mão, posso pegar um Uber sem problemas— A frase foi interrompida antes de ser devidamente finalizada. Xichen sorriu novamente ao vê-lo corrigir suas palavras com pressa.

— Relaxa, só queria saber se o endereço é o mesmo. — Ele girou em torno de si mesmo, caminhando de costas por alguns minutos, apenas para encarar o rosto confuso do Lan. — Quer se livrar de mim tão cedo, Lan Xichen? — Com um sorriso presunçoso e até mesmo provocador, Cheng se amaldiçoou em sete idiomas diferentes mentalmente. Estava mesmo tentando flertar com aquele refrigerador electrolux duas portas?

— O contrário. — Respondeu, no mesmo tom. Ergueu as mangas da camisa que usava e em seguida cruzou os braços. — Adoraria ter o prazer da sua companhia por muito, muito mais tempo, Jiang Cheng.

Talvez fosse o tom rouco em que balbuciara a última frase, ou ainda a forma sexy que seu nome soara ao ser proferido por aquela boca que tanto ansiava por beijar. De repente fosse o sentido amplamente sugestivo das palavras, ou a brisa gelada anunciando que logo choveria novamente, quem sabe fosse o orvalho da madrugada anunciando que definitivamente depois das duas da manhã, nunca se faz nada de bom.

— Ali meu carro. — Cheng apontou com um lance rápido da cabeça, depois de virar novamente para frente. Andou um pouco mais depressa ao sentir gotas frias caindo aqui e ali, e quando já estava abrindo a porta do veículo, fitou o outro. — Você conhece o mapa do maroto, não conhece? — Xichen acenou levemente, apoiando os braços no capô negro, debruçando o corpo sobre o carro alheio. Devorava o outro com os olhos sem nenhuma restrição. — Bem, para andar no meu carro comigo hoje, antes de mais nada, você precisa jurar solenemente que não fará nada de bom.




//continua...

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