Durante séculos pensei que eu não possuía mais coração, nem amor e nem alma. Achei que não havia me restado nada, mas tudo mudou quando Hwa Young cruzou meu caminho e ela trouxe luz a minha escuridão, iluminando cada parte obscura que existia em minha vida. Quando ela se foi, senti que tudo nessa vida havia perdido o sentido e sem perceber, acabei retornando ao que eu era, ou pelo menos, o que eu achava que era: um ser sem coração e sem alma. Mas, se eu não possuía coração funcionando, por que diabos eu sentia algo batendo em meu peito em um ritmo descompassado enquanto olhava a mulher escorada no balcão da loja de música que me fitava com curiosidade.
"Hwa Young..." murmuro alto o suficiente para que a mulher ouvisse, incapaz de controlar minha fala ou meus impulsos, não percebi que eu estava de pé.
Talvez minha mente esteja me pregando uma peça. Eu entrei em uma loja de bruxas sem perceber? É a única explicação. Hwa Young estava morta, eu havia passado horas e horas agarrada ao seu corpo após sua morte, escutei o momento em que seu coração parou de funcionar e senti sua pele se esfriando. Eu a enterrei. Ela estava morta. No entanto, por que eu estava vendo uma mulher parada a minha frente idêntica ao meu antigo amor?
"Desculpe, quem?' perguntou a jovem, com o semblante confuso.
Eu pisquei atordoada. A voz era a mesma, o cheiro, o rosto... Me pergunto por um momento se o gosto do seu beijo era o mesmo que o de Hwa Young. Presto atenção na mulher, seus olhos eram pequenos, puxados e castanhos. Definitivamente ela não era dali. Seu nariz pequeno e arrebitado levemente, a boca pequena e coberta por um batom vermelho escuro, uma cor que chegava quase a tonalidade roxa, quase vinho. Ela usava uma saia aberta azul longa e listrada, com dois botões, por baixo da saia, usava calças na mesma cor que a saia. Aquilo sim era novidade, mulheres eram mal vistar se usassem calças e ali estava ela usando uma com uma confiança humana que eu só havia visto na vida poucas vezes. Eu tinha de admitir sua coragem. Na parte superior, usava uma camisa, as partes das mangas eram bufantes até os cotovelos e o restante do tecido se apertava sobre seus braços, em um tecido de seda, suponho. E por fim, ela usava um colar dourado com um símbolo que me parecia familiar, embora eu não me lembrasse de onde conhecia tal símbolo. Seus cabelos estavam presos em um coque baixo, com alguns fios pretos soltos caindo sobre seu rosto dando contraste a sua pele branca. Ela era linda. Linda como a minha... Balanço a cabeça afastando tais pensamentos, estava na cara que aquela não era minha amada, embora suas aparências fossem extremamente parecidas e isso fosse intrigante, eu estava fazendo papel de boba ali e isso sim é novidade.
Pigarreei e dei um meio sorriso.
"Peço que me perdoe" falo educadamente e faço uma pequena reverência. "Eu estava apenas falando sozinha, hã, senhorita..."
"Joohyun." responde. "Eu sou Joohyun Bae."
A mulher sorri, claramente não incomodada com meu comportamento estranho. Aquilo não podia ser real, como ela não era minha Hwa Young? Aquele sorriso era o que aquecia meus dias e me dava vontade de viver mais um dia, eu reconheceria cada traço da minha amada se a visse. Ainda assim, parecia tanto com ela, mas tão diferente.
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Otherwise | Seulrene EM HIATUS
FantasyA vampira original, Seulgi, retorna para seu antigo lar em uma pequena cidade da Alemanha no século XX. Ela só não esperava ser surpreendida pelo destino ao reencontrar uma mulher idêntica ao seu amor antigo, Hwa Young, que agora tem o nome de Bae J...