PRÓLOGO

434 54 50
                                    

Dinastia Joseon, 1430.

No decorrer da minha longa vida, passei a acreditar que somos ligados pra sempre a aqueles que tem nosso sangue. E mesmo que não possamos escolhermos a nossa família, esse laço pode ser nossa maior força ou destruição. Nunca acreditei em amor verdadeiro ou que eu fosse merecedora de amor, pelo contrário, eu era um monstro sem coração que estava condenada a vagar pela terra durante toda minha eternidade. Mas isso tudo mudou quando eu conheci Hwa Young, a bela bruxa que roubou meu coração que já não batia há milhares de anos. Ela era tudo que eu poderia pedir ao céus, boa, gentil, humilde e compreensiva, extremamente compreensiva comigo e com a bagunça que era minha vida.

Ao meu lado, sentada na única cama que havia em nosso quarto, estava Hwa Young. Vivíamos em uma pequena casa no meio da floresta, que ficava apenas alguns quilômetros longe do palácio Gyeongbokgung, o primeiro grande palácio centenas de anos antes de Seul sequer existir.

Hwa Young segurou o objeto que eu havia lhe entregado, uma caixa de madeira pura com detalhes entalhados de ouro. Abriu a pequena caixa e de dentro retirou um colar de prata, o pingente em um formato médio de coração com uma pedra vermelha de rubi dentro. Eu havia escolhido especialmente para ela.

"Feliz aniversário" eu disse, com um sorriso pequeno em meus lábios.

"Seulgi..." sua voz estava embargada. "É lindo." disse Hwa Young, com os olhos lacrimejados. Isso aqueceu meu coração que não batia há anos.

"Eu achei que se você passa o dia fazendo anéis de prata para proteger os da minha espécie" pontuei, retirando o colar da caixa, Hwa Young se virou imediatamente de costas para mim e eu coloquei o colar em seu pescoço. "Você merecia uma jóia a altura da sua beleza e do seu poder. A pedra rubi é o sangue da terra, é a fonte de força, vida e sobretudo de amor. E amor é tudo que precisamos. É tudo que nós temos."

Depositei um singelo beijo em seu pescoço, sua pele se arrepiou com meu toque e eu pude ouvir o som de seus batimentos se acelerando. Nunca me cansaria disso. Ver e sentir todo o efeito que eu tinha sobre ela.

Hwa Young virou-se para me olhar.

"Eu adorei, Seulgi. Obrigada." ela agradeceu.

"Que bom que gostou."

Ela abriu um largo sorriso e logo em seguida, se jogou em meus braços, de modo que fizesse com que eu me deitasse na cama. Hwa Young ajeitou-se em cima do meu corpo e me roubou um beijo, aproveitei para permitir que minhas mãos fossem de encontro a sua cintura. Era a realização de uma vida plena tê-la ao meu lado. Eu a amava com todo o meu coração.

Inverti nossas posições e me coloquei por cima de seu corpo, ainda estávamos ambas vestidas com as roupas da época, vestidos tradicionais da época, menos espalhafatosos do que a maioria eram, mas ainda assim, com cores vibrantes e vivas. Beijei sua bochecha e senti seu cheiro de cerejeiras, me deixando entorpecida e fazendo minha garganta queimar. Ela era, o que muitos chamavam de, "La tua Cantante". Hwa Young era minha cantora, o cheiro de seu sangue era extremamente atraente para mim e era quase impossível resistir. Ainda era muito doloroso resistir a tentação, mas eu sabia que com anos praticando, um dia, se tornaria algo fácil para mim.

Um barulho chamou a minha atenção para o lado de fora da casa e eu rapidamente me sentei na cama.

"Seulgi, o que aconteceu?" perguntou Hwa-young, a preocupação exalava em sua voz. Ela se sentou ao meu lado e me olhou.

Fiz sinal de silêncio colocando o indicador sobre meus lábios e me levantei. Focando no barulho lá fora. Havia algum coelho por perto, dois veados e... Meus olhos se arregalaram no mesmo instante em que ouvi folhas sendo pisadas. Eram passos. Passos humanos.

Otherwise | Seulrene EM HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora