Capítulo 1

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— Puta que pariu — Clarke ouviu a mulher que estava sentada na fileira atrás da sua gritar. Ela não foi a única a virar a cabeça, a mulher que estava ao lado de Clarke, que estava viajando com a filha pequena, bufou quando voltou a olhar para frente.

— Você está louca? — Clarke conseguiu ouvir a acompanhante da mulher sussurrando.

— Caralho, caralho, caralho. Olha pra fora, Anya — a voz da mulher estava mais desesperada e isso chamou a atenção de Clarke novamente.

E sim, puta que pariu.

A partir disso, o pânico se iniciou. Haviam algumas pessoas que estavam com fone de ouvido e não repararam (sorte delas), mas no geral, todos começaram a se desesperar. Tudo piorou quando o piloto disse que estavam passando por um problema técnico, mas não havia motivos para se desesperar.

— Ah sim, com certeza — Clarke ouviu uma voz masculina muito nervosa, algumas fileiras atrás. — Porque a porra da turbina está pegando fogo e não precisa de desespero.

Assim que o homem terminou a frase, houve um tranco no avião e um guincho para baixo. Agora foi a vez de Clarke entrar em desespero real. Eles ainda não estavam caindo, mas foi assustador.

Nos segundos seguintes, ela ouviu uma mulher gritando que era engenheira aeronáutica e que poderia ajudar, mas uma comissária passou correndo por ela para se sentar na sua cadeira especial com cintos especiais e com aparência de maior segurança. Ao mesmo tempo que isso aconteceu, as luzes de cinto acenderam e a máscara de oxigênio caiu.

Do primeiro grito da mulher atrás do banco de Clarke até ela fechar os olhos com força e sentir o avião mergulhar deve ter dado uns 3 minutos, mas que pareceram horas.

O piloto entrou em contato novamente, informando que seria realizado um pouso de emergência. A partir disso, ela não se lembra de muita coisa. Ela provavelmente deve ter rezado alguma coisa que aprendeu quando era criança, mas que nunca praticou. Ou a vida dela passou diante dos seus olhos.

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Clarke acordou com uma forte dor no ombro. Ela abriu os olhos e demorou nem três segundos para se lembrar do que aconteceu. Esse foi o tempo necessário para o seu coração disparar e ela olhar em volta atentamente. O avião estava escuro, mas não estava um breu, as janelas forneciam luz, mesmo que pouca. Ele estava meio inclinado para a direita, mas nada que a fizesse perder o equilíbrio. Ela olhou para a sua direita e viu a moça com uma criança que dividia o mesmo trio de poltrona com Clarke. A respiração dela ficou presa na garganta quando viu a quantidade de sangue que saía da cabeça da mulher.

A reação de Clarke foi imediata, ela estava se formando para ser médica, ela sabia o que fazer. Os dois dedos foram rápidos para o pescoço da mulher e ela teve que respirar fundo quando não sentiu a pulsação. Na segunda respiração, ela se esforçou para manter a calma e dar o seu melhor para ajudar as outras pessoas. Ela não podia ser a única sobrevivente. Era um avião de pelo menos 250 assentos, fora a tripulação.

Clarke conseguiu soltar o seu cinto e se esticou por cima do colo da mulher para verificar o pulso da garotinha que estava sentada na poltrona da janela. Ao sentir o coração rápido, ela soltou a respiração e olhou para fora, identificando muitas árvores à frente e areia branca para trás. Eles provavelmente caíram em uma ilha, levando em consideração que estavam no meio do Pacífico.

Antes que ela pudesse pensar mais alguma coisa, ela ouviu a mulher da poltrona de trás xingar alto.

— Não, não, não. Anya, acorda! Acorda!

— Hey, hey. Não se mexa. Não mexa nela — Clarke disse pulando para fora da sua fileira e se aproximando na de trás. Ela engoliu em seco ao ver um grande galho de árvore invadir a janela, felizmente longe o suficiente para não ter atingido a moça. Ela se recuperou rapidamente e olhou para as duas mulheres. — Calma, deixa eu verificar.

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