Almas Perdidas (Loki)

7. A Volta Que o Mundo Dá

Sigyn negou e tentou correr em direção a barreira de energia, mas Loki se colocou em sua frente, como se pudesse prever o que aconteceria. A trouxe até si e a abraçou com força.

Por um momento a garota sentiu um pavor crescente em seu peito, à medida que sentia os braços do deus ao seu redor, mas logo esse sentimento deu lugar à algo como segurança e Sigyn se sentiu protegida para ser vulnerável o quanto precisasse ser. 

A resistência foi se desfazendo aos poucos, até que ela enterrou a cabeça em seu peito e chorou com força dessa vez. Jamais esperou encontrar um amigo em Loki, mas se lembrava que sua avó sempre falava sobre a capacidade das pessoas em nos surpreender, seja positiva ou negativamente. Loki a surpreendeu. 

Alguns minutos depois, a afastou com gentileza e a fez sentar em sua cama, tomando o lugar ao lado da dama. Loki limitava-se a acariciar os cabelos dela, enquanto esperava que colocasse tudo para fora.

A deusa respirou fundo, ao se dar conta do tempo que estava ali. Elevou os olhos em direção a Loki e, por um instante, apenas o observou. Algo nele parecia estranhamente familiar, completamente diferente de como se sentiu quando viu a pintura no quadro, no dia em que chegou. Por fim, após alguns segundos, se levantou e se afastou alguns passos dele.

— Desculpe, alteza. Eu não sei o que...

— Não precisa falar nada se não quiser, Sigyn. — O deus se levantou, colocou as mãos para trás e parou bem em frente a garota, cobrindo a distância outra vez. A altura dos dois era óbvia, visto que ela precisou olhar um pouco para cima para encarar o homem à sua frente.

— Obrigada — agradeceu colocando um sorriso no rosto e Loki perdeu-se por um momento naquele segundo de tempo. Ainda era óbvio que não estava bem, mas o fato de vê-la sorrindo, ainda que fosse minimamente, o fez ficar menos preocupado. Assentiu com a cabeça.

— Sigyn? — A garota ouviu seu nome ser chamado e se virou para ver quem era. Do outro lado da barreira de energia estava Tyr, usando sua armadura completa. Estava cobrindo o turno da noite e fazia sua primeira ronda antes de voltar até a porta das masmorras. Não achou que a dama ficaria ali até depois de anoitecer. — O que você está fazendo aqui?

— Eu vim trazer o jantar do Príncipe Loki, Tyr— comentou, desviando a atenção do noivo e voltando para o deus da trapaça que apenas observava o homem atrás da barreira de energia.

— Está na hora de ir. Ninguém pode permanecer aqui após o horário. Regras são regras, até para uma Dama — o guarda a alertou, assumindo uma postura séria em seguida. Tyr não ousaria atravessar a barreira, porque somente pessoas autorizadas pelo Rei ou pela Rainha podiam fazer isso, mas era claro seu incômodo com a situação, principalmente porque Sigyn não percebeu a proximidade que Loki estava, mas ele sim. Quem olhasse de fora veria uma intimidade superior àquela de uma serva e seu príncipe.

— Não tem obrigação nenhuma de ir, se não quiser — o príncipe comentou, voltando sua atenção para a deusa. Ela respirou fundo e o encarou.

— Obrigada, alteza. Por não perguntar e apenas me deixar liberar o que estava preso — Ela fez uma reverência e por fim se afastou. — Algo mais, alteza?

— Não.

— Então, boa-noite. — A jovem fez outra saudação rápida e por fim seguiu em direção a barreira. Tyr ainda permanecia no mesmo lugar. Loki não respondeu com palavras, apenas assentiu com a cabeça. O soldado ainda encarou o deus por um segundo a mais do que devia, mas o príncipe sequer desfez sua postura. Pelo contrário, a altivez da família real se fez mais do que presente a partir daquele momento.

Sigyn seguia na frente, através dos corredores sombrios e úmidos das masmorras. Passou pela porta e cumprimentou o amigo de seu noivo, que estava em posição na entrada, enquanto Tyr fazia a ronda. Ficou tão surpreso quanto o outro soldado ao ver a Dama.