5. O Não Tão Querido Professor

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O soldado espiou pela porta, antes que informasse que o caminho estava livre e que ela poderia seguir tranquilamente. Antes que Sigyn pudesse passar, Tyr a puxou para perto outra vez e a beijou de maneira delicada. Uma despedida a altura do romantismo. Ela ajeitou a bandeja e seguiu na direção das escadas que a levaria até as masmorras.

Cumprimentou o companheiro do rapaz, que ainda mantinha guarda na entrada do lugar e esse lhe abriu a porta. Desceu as escadas, degrau por degrau, sem a menor pressa. Sabia que no momento em que entrasse naquela cela, teria que passar o dia inteiro com Loki. De repente percebeu que aquela era uma péssima ideia. Pensou em retornar e pedir para que Tyr ou o seu colega levasse o café da manhã para o príncipe, mas lembrou-se da promessa que fez a rainha. Infelizmente, devido a sua condição como deusa da fidelidade, não poderia voltar atrás em sua palavra.

Parou antes de chegar e respirou fundo.

— Eu sei que está aí — ouviu o deus comentar e engoliu secamente antes de retomar seu caminho. O olhou de soslaio, percebendo que estava sentado na poltrona e subiu os primeiros degraus. Passou pela parede de energia e abaixou a cabeça em uma rápida reverência.

— Bom dia, alteza — falou enquanto colocava a bandeja, com o café da manhã, em cima da mesa. Percebeu os livros que Frigga lhe ensinava, empilhados em uma das pontas e encarou o chão.

Loki levantou-se e parou bem de frente para ela. Sigyn apenas observava os pés do deus que se demorou muito em sua frente, sem dizer nenhuma palavra sequer. Passados alguns minutos constrangedores, ela finalmente resolveu erguer as vistas e ver o que o príncipe fazia. Quando seus olhos cinzas encontraram os verdes do deus, ele sorriu. O mesmo sorriso que estava pintado no quadro do salão. Sigyn sentiu-se exposta outra vez.

— Bom dia — respondeu finalmente. A mulher teve a certeza que aquilo não daria certo. Estava pronta para dar meia volta e sair correndo dali. Queria apenas deixar aquelas masmorras e espairecer. Quem sabe não voltaria mais tarde, depois do almoço? Porém essa não era a intenção de Loki, já que a segurou pelo punho quando ela tomou a iniciativa de sair. Não de maneira rude, mas gentil até.

— Não vai ficar para a aula? — perguntou. — Frigga já deixou todos os livros aqui comigo.

— Porque aceitou isso? — virou-se enquanto puxava a mão e abraçava o próprio corpo. Numa tentativa boba de autoproteção, como se fosse adiantar muita coisa. — Poderia ter simplesmente se negado a fazê-lo, mas, no entanto, aqui estamos nós. Porque?

— Foi um pedido de minha mãe. Não tive como negá-lo, mesmo que eu tenha que passar o dia ao seu lado — respondeu dando as costas para a deusa, pegou algumas uvas que estavam na bandeja e levou até a boca. Virou-se novamente enquanto mastigava.

— Isso foi rude, alteza — comentou enraivecida, prendendo um grito ou uma ofensa que, infelizmente, teve que guardar para si. Ele era o príncipe ali e ela nada mais era do que uma serva, uma dama da rainha.

— Não me agrada nada ter que te ensinar algo, mas se é assim que tem que ser, assim será.

— Apenas diga que me libera das aulas e eu saio daqui e nunca mais volto.

— Não estou lhe prendendo. Há poucos instantes estava disposta a ir — colocou as mãos para trás e ergueu o corpo em uma postura que expressava superioridade. — O que a impede agora?

— Vossa alteza me lembrou do motivo de estar aqui e pela minha natureza sou obrigada a ficar, a não ser que me libere de tal compromisso — respondeu e o trapaceiro deixou um sorriso largo surgir em seus lábios.

— Qual é a sua natureza, Sigyn? — perguntou, dando ênfase em seu nome. Ao contrário de Tyr, que a fez rir descontraída, ser chamada pelo deus da trapaça e da mentira lhe dava arrepios. Ele sentou-se novamente na poltrona.

Almas Perdidas (Loki)Onde histórias criam vida. Descubra agora