Capítulo 01

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Tudo termina bem quando começa bem. Então eu já não tinha mais esperanças com a minha vida amorosa. Primeiro porque ela começou de mal a pior, três relacionamentos completamente arruinados com sucesso, e segundo porque ela resolveu simplesmente empacar.

Aos vinte e oito anos de idade eu já me sentia aquela tia solteirona que chega nas reuniões de família contando sobre uma nova viagem feita porque não tem sobre quem falar ou nem mesmo quem apresentar. Então sim, sou essa tia.

Não que eu não tenha mais esperanças de encontrar alguém para amar, afinal eu acredito em milagres – mesmo a situação sendo tão complexa – mas parte de mim já havia se conformado que a minha sina era aprontar pessoas para casamentos.

Ter uma loja de noivas e noivos complicava tudo.

Ah, aqueles sorrisos nos rostos dos noivos eram encantadores. Eu me perguntava qual era a sensação. Como era amar alguém ao ponto de querer viver o resto da vida ao lado dessa pessoa. Ou como encontrar essa pessoa.

Eu daria meu sagrado café de todas as manhãs para saber onde encontrar alguém assim.

Mas enquanto a vida amorosa me sacaneia eu sigo ajudando pessoas a terem seu melhor dia ainda mais incrível.

Outra noiva sai radiante da loja levando consigo seu vestido para seu grande dia. 

— Por que não eu? — Minha mãe imita a minha voz claramente em uma provocação.

— Eu não estava pensando nisso. — Faço uma careta para ela, que ri enquanto costura.

Voltei ao meu trabalho inicial do dia que era trocar os vestidos dos manequins da vitrine.

Enquanto eu segurava dois braços de plástico e um vestido super pesado, minha atenção foi para o rapaz que passou na calçada em direção a minha loja. É claro que eu já havia visto muitas pessoas bonitas na vida, mas – desconsidere o clichê – ele era diferente.

E o Sr. Diferente acabou de entrar na loja fazendo soar o sininho.

— Um segundo! — Tento me desvencilhar do balaio de gato em que eu estava e ir atendê-lo.

Ele avalia o interior da loja e, acho, parece satisfeito.

— Bem vindo! — Aceno com o braço do manequim. — Em que posso ajudá-lo?

O rapaz retira os óculos escuros que até então ocultavam seus olhos cor de chocolate. Ele, por fim, olhou para mim e disse com toda a seriedade do mundo:

— Quero fazer um vestido de noiva para mim.

— Um.... Um vestido? — Gaguejei feito uma besta.

— Pensei em algo com pérolas.

Derrubei um dos braços de plástico.

— Bem, nós temos pérolas. E... você gostaria de ver alguns... tecidos? — Disfarcei a surpresa do pedido. Ele tinha o direito de pedir isso, não tinha?

Um sorriso um tanto puxadinho para a direita estampou seu belo rosto.

— É brincadeira — explicou. — Quero encomendar um terno.

O vermelho do tomate perdia feio para o rubor que surgiu no meu rosto.

— Ok, vamos tirar as suas medidas. — Tentei sorrir.

Guiei ele até onde minha mãe tirava as medidas dos clientes, mas, surpreendentemente, ela sumiu. Ou se fez sumir.

Bem, eu não podia deixar o moço plantado no meio da loja, então me pus a trabalhar.

Um e noventa e três de altura. Não tão musculoso, porém forte. Cabelos escuros e um ótimo gosto para sapatos de couro cor de ébano.

Anotei cada medida atenciosamente.

— Alguma preferência além das pérolas? —  Juro que não sei porque falei isso.

Uma risada calorosa ecoou dele.

— Nunca experimentei pérolas no terno, mas acho que na gravata não seria nada mau — respondeu de forma leve. — Não tenho nada em mente, por isso confiarei no seu talento.

— Como sabe se tenho talento? — Disparei. O que tinha naquele café? Eu não era assim.

— Não sei, vou apenas confiar. — Deu um sorriso de novo.

Balancei a cabeça.

— Muito bem. — Levantei os olhos e o observei para saber que tipo de terno lhe cairia bem. Se brincar, todos. Mas enfim... — Acho que podemos trabalhar com lã fria em um risca de giz, também podemos fazê-lo slim para valorizar seu manequim — expliquei.

Ele olhou de mim para o manequim esquartejado que deixei na vitrine.

— Prometo que você sairá inteiro daqui — garanti envergonhada.

— Isso é um alivio. — Riu ele.

Ele concordou com os detalhes do terno, acho que até entendia do que eu estava falando. Alguém vestido com um belo terno casual e sapatos de couro não podia ser totalmente leigo quanto a isso.

— Pode me acompanhar, por favor? — O guiei até o balcão de atendimento. Abri a ficha para pegar os dados dele. — Pode me dizer seu nome completo?

— Nicolas Montagnier — respondeu-me. — Pode me dizer o seu?

Que atrevido!

Ignorei e pedi seu número de telefone para comunicação.

— Bem, entrarei em contato com o senhor em breve. Muito obrigada — falei por fim e dei um sorriso.

Ele assentiu, também com um sorriso, recolocou os óculos escuros e foi embora.

Que noiva sortuda a dele! 

Minutos depois minha mãe entra com dois cachorros-quentes.

— Quando foi que saiu?

— Quando sua atenção estava completamente focada no empresário bonitão — respondeu ela feito uma jovem.

Dei uma mordida no meu lanche.

— Como sabe que ele é empresário? — Perguntei sem entender.

— A Rute contratou a empresa dele para fazer uma reforma completa no prédio, pelo que ela me disse ele é o dono da empresa. — Minha mãe explicou enquanto comíamos atrás do balcão de atendimento.

Bem, isso explicava o terno que ele usava em pleno o calor daquele dia.






Bem, isso explicava o terno que ele usava em pleno o calor daquele dia

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