Capítulo 3

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     Mérope emergiu no cômodo reservado para as refeições.
     Era um algo simples, com uma mesa feita para 12 pessoas, coberta com um grosso tecido branco, cujas barras eram bordadas com renda preta. Na parede em frente as portas de entrada, havia um quadro que tomava quase toda parede, onde uma cesta de frutas estava pintada em detalhes impecáveis.
      Harry sorriu para a mulher que entrou acompanhada de um elfo, os olhos negros estavam arregalados, observando tudo com admiração. Ela tinha pego o vestido preto, coberto de detalhes padronizados de branco, que chegava até seu calcanhar, os cabelos estavam úmidos e levemente sedosos agora que estavam limpos. Alguém que achava bonitas unicamente mulheres que atendiam aos padrões estéticos, olharia Mérope e veria uma mulher feia, com seus olhos de esotropia e rosto longo demais, além do corpo esquelético. Mas Harry via beleza na suavidade de suas feições, no jeito como seu cabelo caía por seu ombro e costas, e achava encantador a áurea de fragilidade e meiguice que parecia a envolver.
     Se levantando, Harry pegou novamente a mão dela e a beijou, do mesmo modo que fez anteriormente no quarto, fazendo a pele pálida das bochechas de Mérope se colorir de vermelhidão. Se afastando, Harry puxou a cadeira em frente a sua e gesticulou para a mulher sentar, o que ela fez sorrindo levemente.
     -- Agradeço por ter decidido se juntar a mim, Srta. Gaunt. -- Harry sorriu para ela, se sentindo aliviado, pois havia chances dela recusar sua oferta, pequenas, porém existentes. -- Mas primeiro o jantar. De acordo?
     Mérope apenas assentiu e Harry estalou os dedos, e os elfos domésticos imediatamente teletransportaram a comida para se posicionar, de modo organizado, na mesa de jantar. O jantar era três tipos de salada, com frango assado e batatas recheadas, juntamente de suco de abóbora. Harry ficou feliz por seus elfos atenderem ao seu pedido de fazer apenas comidas saudáveis e pouco gordurosas, pois Mérope necessitava de uma alimentação que a ajudasse a suprir a falta de nutrientes em seu corpo. A poção ajudava, mas não era eficaz como uma boa alimentação.
     Mérope tentou comer decentemente no início, mas a fome logo foi mais a intensa que a vergonha, e ela começou a enfiar comida descontroladamente na boca. Repetiu quatro vezes, mas Harry não pareceu se importar com sua falta de modos, até mesmo questionando se ela desejava mais antes de solicitar a sobremesa. Gigantescas taças de sorvete de chocolate com cobertura de morango e pirulitos de bônus.
     Mérope se sentia flutuando num paraíso de fartura, enquanto Harry a conduzia para a sala de estar, sua mão fechada delicadamente na dela enquanto a puxava suavemente pelos corredores, e ofereceu uma poltrona em frente a lareira.
     -- E então? -- Ele questionou, lutando para esconder sua ansiedade. -- Já tomou sua decisão?
     Mérope abriu um pequeno sorriso, antes de sussurrar:
     -- Eu...Eu aceito sua oferta.
     -- Excelente! -- Harry exclamou com alegria, sua expressão aliviada. -- Estarei ausente amanhã pela manhã, fique a vontade para explorar e usufruir dos recursos do castelo, ele é seu lar agora. Voltarei pela tarde para irmos comprar um guarda roupa para você.

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     Dito e feito, Harry não estava presente durante a amanhã e Mérope aproveitou para explorar sua nova morada.
     Com os cabelos presos num coque, descalça e usando o mesmo vestido da noite anterior, ela percorreu os corredores com olhos arregalados de admiração a cada novo cômodo que era revelado. O castelo tinha quatro andares, juntamente de uma masmorra úmida e escura, cujo medo que despertou em Mérope a fez sair o mais rápido possível para voltar a percorrer os cômodos claros e luxuosos. Ela só ficou tempo o suficiente para analisar o laboratório de poções que encontrou.
     O quarto andar possuía um corredor enfeitado de armaduras douradas que levava para um amplo salão enfeitado com um lustre, o sol refletia no cristais da peça e a fazia brilhar tão intensamente que era difícil fixar o olhar, logo a frente havia uma escadaria coberta com um tapete vermelho macio. No terceiro andar ficava a sala de estar para receber convidados, o cômodo em que efetuavam refeições, a cozinha e o banheiro principal. No segundo Mérope encontrou uma biblioteca tão extensa que ela não conseguia enxergar o fim e a deixou boquiaberta, uma cômodo para treinar feitiços, os quartos de hóspedes e o dormitório dos elfos domésticos. O primeiro andar era reservado para os aposentos pessoais dos moradores, com enormes quartos para os lordes e ladys, quartos exclusivos para os herdeiros, um escritório, uma sala feita unicamente para estudos astronômicos e a sala que Harry a levará na noite anterior para ouvir sua decisão após o jantar. 
     Num dos quartos que espiou, encontrou os lençóis vinho da cama parcialmente bagunçados, uma prateleira desorganizada e a foto de um casal no criado-mudo de madeira escura. A bela mulher de cabelos acaju e olhos verde-esmeralda era conduzida numa dança lenta por um homem idêntico a Harry, a única diferença sendo os olhos que era os mesmos da mulher, ambos sorriam largamente um para outro e se encaravam com profunda intensidade. Foi fácil deduzir que era pais de Harry, e Mérope saiu dali constrangida e corada, sentindo que tinha invadido o espaço pessoal do homem que a acolheu.
     Ainda não tinha conseguindo explorar todo o castelo quando um elfo veio oferecer o almoço e, depois de degustar a deliciosa e completa refeição, foi para a ponte que levava as portas duplas do castelo e ficou olhando as águas cintilando sobre o sol da tarde. Suas mãos repousaram no ventre, onde podia sentir a elevação que denunciava a vida que crescia em si. Ela tinha perdido a esperança de sequer viver a tempo do nascimento do filho ou filha, agora, graças a Harry, Mérope talvez até pudesse vê-lo crescer. Um sorriso iluminou seu rosto. O primeiro sorriso que abria desde que Tom Riddle a abandonou.
     Ela ficou ali, sorrindo a toa e acariciando sua barriga, até que passos a tiraram do seu transe de felicidade. Erguendo o olhar, viu Harry caminhar em sua direção, vestindo roupas formais e caras, o sorriso caloroso e suave em seu rosto.
     -- Espero que não tenha sentindo muito minha falta. -- Brincou, fazendo a mulher corar. -- Vamos?
     -- O...O quê? -- Mérope o olhou confusa. -- Va...Vamos pra onde?
     -- Eu avisei que quando voltasse iríamos comprar um guarda roupa para você. -- Esclareceu, estendendo a mão. -- Vamos?
     -- Eu...Eu posso ir assim? -- Gesticulou para os os pés descalços, o vestido simples (embora tenha sido melhor que qualquer coisa que já usou) e os cabelos presos num coque desajeitado.
     -- Não vejo problema nenhum. Pode vir do jeito que desejar.
     Mérope ficou acanhada com tal tratamento. Mas decidiu soltar e pentear o cabelo, calçando sapatilhas e colocar o outro vestido, que tinha um design mais bonito para uma aparição pública. Harry a aguardou pacientemente e, quando desceu, garantiu que ela estava esplêndida. As bochechas de Mérope ficaram vermelhas e pareceram queimar como brasa.

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