Capítulo 1

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     Hermione Granger se esqueirou na ponta dos pés para o quarto onde Ronald Weasley dormia, juntamente com o melhor amigo de ambos.
     Abrindo a porta silenciosamente, deu um rápido olhar para o namorado para confirmar que estava totalmente adormecido e continuou seguido até Harry, o acordando com toques bruscos. Harry piscou para espantar o sono, enquanto seu óculos eram empurrados para seu rosto, fazendo o quarto se tornar nítido junto da garota ajoelhada em frente a sua cama. Hermione levou o indicador aos lábios e gesticulou para segui-la com a outra mão, se erguendo e caminhando para fora. O jovem não entendeu porque a outra não acordou Rony também, mas obedientemente a seguiu, os dois parando junto a cerca que marcava o fim do quintal de Toca.
     -- O que houve, Mione? -- Questionou, depois de quase um minuto de silêncio, onde a garota apenas mordia o lábio inferior e torcia a camisola.
     -- Tem algo errado. -- Disse por fim, parecendo nervosa.
     -- Isso não foi muito esclarecedor... -- Harry observou.
     -- Olha, apenas ouça, ok? E depois me diga o que acha. -- Respirando fundo, Hermione se virou para os campos que se estendiam além da cerca, a testa franzida. -- Minha primeira suspeita surgiu no terceiro ano, quando descobrimos que Sirius era inocente e, por alguns dias, eu me perguntei: Dumbledore tem vários cargos e é um homem importante, por que não providenciou um julgamento? Mas deixei pra lá. Ele devia ter seus motivos. No quarto ano, quando você e Rony estavam brigados, ele foi chamado no escritório do diretor e voltou muito chateado, mas fez as pazes com você não muito tempo depois sendo que antes estava convicto que era culpa sua. No quinto ano, Dumbledore me deu aquela idéia de treinar os estudantes em aulas secretas, eu decidi que era uma boa idéia e aderi. Eu não via nada demais, Dumbledore fez o que achava ser o melhor... Mas aí, quando Rony voltou com aquela história melosa e totalmente sem noção de "luzinha", eu fiquei desconfiada e então li os pensamentos dele.
     A garota parou, esperando o amigo processar essas informações antes de continuar. Harry ficou quieto por um momento, intercalando entre os sentimentos de perplexidade e intriga, antes de perguntar:
     -- Você sabe legilimência?
     -- Consigo efetuar o feitiço, nada como Voldemort, que conseguia ler só com contato visual. -- Deu de ombros. -- Voltando... Eu li os pensamentos dele e vi que, naquele dia que ele foi chamado na diretoria, Dumbledore ordenou que ele parasse de te ignorar. Rony se recusou e isso deixou Dumbledore furioso, e ele começou a falar que não deixaria um menino mimado estragar seus planos e tals.
     -- Tá... Isso é estranho.
     -- Ainda não acabei... Alastor Moody está vivo.
      Novamente, Harry permaneceu alguns minutos em silêncio, mas desta vez boquiaberto.
     -- Como?!
     Hermione encolheu os ombros, parecendo frustrada e cansada.
     -- Eu não sei... Talvez tenham forjado a morte dele? Só sei que foi ele quem forçou Rony a voltar para nós. E, novamente, ficou falando pra ele não estragar os planos.
      -- Isso tudo não faz o menor sentir.
     -- Eu sei... Eu sei... Eu também não entendi nada. Mas esperava que você pudesse me ajudar a entender. Sei quem pode ter as respostas.
     -- Quem?
     -- Aberforth Dumbledore. Moody disse algo como "Ainda bem que Dumbledore fez as pazes com o irmão, ele sabe demais e poderia abrir o bico pra quem não devia".
     Harry fechou os olhos e se virou para olhar o sol que subia vagarosamente pelo horizonte, e Hermione o imitou. Eles permaneceram perdidos em seus próprios pensamentos, até o garoto afirmar:
     -- Eu quero respostas.
     -- Eu também. -- A ex grifinória tocou o braço do amigo. -- Mas acho melhor entramos. Logo Molly vai acordar e eu não sei o quanto todos sabem.
     Harry sentiu um gosto amargo na boca, pois a intensa cautela o obrigando a desconfiar de todos foi algo que experimentou muito durante a guerra e não era um sentimento que gostava, principalmente porque tinha pessoas que prezava envolvidas. Pelo menos sua vida não estava em risco constante dessa vez.

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     O plano foi bem simples.
     Três dias depois eles se levantaram cedo e disseram a Molly que iriam visitar o túmulo dos pais de Harry, a matriarca dos Weasley estranhou não levarem Rony, mas Harry argumentou que, na primeira vez que esteve lá, apenas Hermione estava ao seu lado e por puro capricho desejava que ocorresse desse modo novamente. Ele deve ter efetuado muito bem o papel de pobre órfão, porque a mulher pareceu se derreter e até preparou lanches para eles.
     Quando aparataram em Hogsmeade, Hermione transfigurou seus casaco em capas com capuzes, para que não fossem reconhecidos, afinal o que fariam era ilegal e qualquer um lembraria de ter visto dois dos maiores heróis do mundo bruxo britânico andando pelo vilarejo. Caminharam casualmente até o Cabeça de Javali, seu nervosismo aumentando a cada passo, vários olhos acusadores pareciam pairar sobre ambos, como se todos soubessem seu objetivo ali e os julgassem silenciosamente por isso. Foi um alívio quando as paredes do pub ignóbil os cercaram, como uma proteção contra as brincadeiras da sua mente, embora a lembrança do que iriam fazer rapidamente espantou o sentimento.
     Armado da coragem que inspirou sua seleção para a Grifinória, Harry andou até Aberforth Dumbledore, que parou de limpar o balcão e franziu a testa para eles.
     -- Eu tenho um assunto urgente para tratar com você... Uma mensagem do seu irmão. Algo que ninguém deve saber além de você.
     O homem estreitou os olhos e caminhou até a porta, a trancando e depois se virou para eles, a mão repousando no bolso onde provavelmente estava sua varinha.
     -- Há proteções ao redor do pub, ninguém nos ouvirá.
     Harry olhou para Hermione, surpreso com o fato de seus planos estarem indo melhor que o esperado, geralmente às coisas davam errado em algum momento, o forçando a somar sorte e improviso para conseguir sobreviver. Talvez a exposição pertinaz ao perigo o tenha deixado paranoico.
     -- Hum, certo... É o seguinte... Estupefaça!
     O jato vermelho foi rapidamente parado por um "Protego!", Harry jogou um feitiço de desarmamento, ao mesmo tempo que Hermione lançava um feitiço de encarceramento. Aberforth conseguiu parar o primeiro, mas não foi rápido o suficiente para o segundo, acabando sendo firmemente envolvido por uma corda e caído de cara no chão. A garota avançou antes que o homem pudesse reagir, apontando a varinha para sua cabeça e dizendo claramente "Legilimens", fazendo os olhos de Aberforth ficaram vidrados e turvos. Harry esperou, impaciente, a amiga terminar e a amparou quando ela cambaleou após cortar a conexão com a mente do homem.
     -- Eu estou bem. -- A garota fechou os olhos, respirou fundo e abanou a cabeça antes de se erguer, gotículas de suor se acumulando em sua testa. -- Vamos, eu conto tudo no cami...
     -- Avada Kedavra!
     Harry observou paralisado o feitiço de um verde intenso e brilhante acertar Hermione, que desmoronou bruscamente no chão, num baque audível, os olhos castanhos sem aquele brilho perspicaz que denunciava sua capacidade intelectual. As duas palavras, tão familiares e marcantes na sua vida, foram pronunciadas novamente, mas ele foi o alvo dessa vez. Tudo ficou escuro.

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