3. Desenvolvimento

124 22 41
                                    

Mão e luva, luva e mão
O nosso encontro parecia perfeição...
Mão e Luva - Adriana Calcanhotto

***

_Jeju, 2019_

Era estranho, e também engraçado, estar de volta naquele lugar, e naquela posição. Esperando por Seokjin no bar do restaurante do hotel, Namjoon sentia como se tivesse voltado para 1999, para os dias em que era jovem e tão inexperiente, descobrindo o seu próprio mundo pela primeira vez. O nervosismo que tomava conta de si era o mesmo daquele tempo, por mais que, agora, fosse um homem vivido, cheio de histórias para contar. Caso se concentrasse um pouco, seria capaz de sentir as tais borboletas no estômago que sentia naqueles tempos — algo que não sentia já fazia anos. Toda essa sensação o fazia querer fugir dali, mas também sentia muita vontade de gargalhar, por puro nervosismo. Era, realmente, como se tivesse voltado a ser o Kim Namjoon de vinte anos atrás.

E tudo isso porque, enfim, reencontrou uma das pessoas mais importantes da sua vida. Kim Seokjin não tinha sido apenas uma paixão de verão; Seokjin tinha sido mais como a primeira paixão da sua vida, uma que deu certo, e lhe abriu as portas para o autoconhecimento de uma forma absurda. Por mais que não tenha se mantido apaixonado por aquele homem ao longo dos anos, não podia negar que havia sido marcado pelo verão que dividiu com ele em Jeju. E tamanha importância não passaria incólume em suas emoções, dadas as atuais circunstâncias. Sentia-se num revival, prestes a retomar tudo o que tinha passado naquele litoral. Não havia, de fato, como isso passar batido. E a imagem de Seokjin passando pela porta do bar, tão bem vestido em suas roupas casuais e tão bonito sem fazer o mínimo esforço, potencializou o que vinha sentindo.

— Boa noite. — Seokjin disse ao se aproximar, sorrindo, se encostando no balcão. — Esse hotel é muito luxuoso. Nunca tinha vindo aqui antes.

— Mesmo? — Questionou, se esquecendo de cumprimentar o homem de volta. — Esse é um hotel três estrelas. Poderia ser ainda mais luxuoso.

— Sim, por isso o susto. Esperava que fosse menos requintado do que realmente é. — Olhou ao redor, avistando o banco atrás de si. — Então... É aqui que vamos conversar? — Sentou-se no banco com um pulo.

— Ah, não! — Levantou-se, chamando um dos funcionários dali. — Eu estava aqui só esperando por você. Reservei uma mesa no salão.

— Tudo bem. — Saltou de volta para o chão, rindo. — Vamos para a mesa que reservou.

O funcionário se aproximou de Namjoon e este lhe solicitou que os conduzissem para a mesa reservada, ao que o sujeito atendeu prontamente. Tinha pedido por uma mesa mais afastada, onde pudesse ter conversas com maior discrição, mas que fosse, também, bem localizada. Não queria ficar perto de saídas, entradas de banheiros ou portas de cozinha. Ao chegar na mesa em questão viu que tinha sido bem atendido: a mesa, além de ter uma localização perfeita, ficava posicionada de forma a receber apenas luz suficiente para que não se comesse às cegas. Cogitou se o recepcionista tinha subentendido que ele teria alguma espécie de encontro no restaurante, e acabou dando de ombros. Se fosse o caso, não estaria tão distante assim da realidade.

— Esse não parece mesmo um hotel três estrelas. — Seokjin comentou depois de sentar na parte estofada que ficava à mesa, quando o funcionário se afastou.

— Você está surpreso de verdade.

Namjoon comentou, sentado ao seu lado. Ali, o cheiro amadeirado do perfume de Seokjin era intenso, e o aroma lhe remeteu ainda mais à época em que se conheceram. Foi o bastante para que o escritor definisse que Kim Seokjin era um homem de hábitos consistentes; desde o passado, era o tipo de fragrância que ele exalava.

Era verão, o ano era 1999Onde histórias criam vida. Descubra agora