2. Apresentação

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Luva e mão, mão e luva
Vamos passear de guarda-chuva...

Mão e Luva - Adriana Calcanhotto

***

_Jeju, 1999_

Uma batida violenta na porta foi o que fez Namjoon acordar definitivamente. Era certo que o barulho ensurdecedor do telefone de cabeceira adiantou e muito o trabalho das batidas na madeira que isolava seu quarto do corredor daquele hotel, mas foi o som oco das mãozadas de Jimin do lado de fora que retirou Namjoon da terra dos adormecidos de uma vez por todas.

Com muita preguiça e um olho aberto e outro fechado, o jovem universitário saiu do conforto do colchão gasto, porém macio, e dos lençóis limpos e quentinhos para ir, arrastando os pés, até onde o amigo o chamava, cheio de força de vontade, com murros na porta.

— Até que enfim resolveu atender! — Jimin enfiou a cabeça para dentro do quarto, dando uma verificada no ambiente. — Tá vestido?

— Tô — respondeu, ainda atordoado pelo sono interrompido e falta de desejo de estar de pé.

— Ótimo! — Jimin adentrou sem nenhuma cerimônia, puxando uma bela mulher pela mão. — Última coisa que a Hee noona precisa é te ver como veio ao mundo.

— Por quê? — Afastou-se com pressa para dar passagem (forçada), o que afastou dele também toda a lerdeza que reinava em seu corpo. — Medo de ela perceber que eu valho mais à pena que você?

— Que piada péssima! — Jimin retrucou se sentando na cama, puxando a namorada para sentar ao seu lado. — Você jamais me trocaria por ele, não é, noona?

— Será que não, querido? — A mulher, oito anos mais velha que o companheiro, respondeu ao se acomodar na cama, piscando para o rapaz.

— Claro que não. — Tomou a mão da namorada na sua, a beijando. — Você não tem mau gosto. Foi por isso que se apaixonou por mim, afinal. Nunca me trocaria por qualquer coisa — afirmou apontando para o outro, com desdém.

— Estúpido. — Namjoon comentou, rindo. — Está no meu quarto, não é educado me insultar. Não aprendeu nada com aquele doce de mãe que você tem?

— Eu não preciso gastar minha boa educação com você. — Jimin revirou os olhos. — Cara, logo com você! Até minha mãe concordaria!

— E por que não? Sou um pedaço de toco pra você, por acaso? — Cruzou os braços, fingindo indignação.

— Se fosse seria mais respeitável! — Riu alto, acompanhado de uma risada pequena e um mover de cabeça de Sunghee.

— Mas você... — Namjoon riu também, fechando a porta e indo se juntar aos demais, se jogando no colchão, por trás dos amigos. — Me acorda pra me ofender, por que eu ainda sou seu amigo?

— Porque só eu te aguento, Namjoon, não é óbvio? — Virou-se na cama, ficando de frente para o maior.

— Eu aturo também — Sunghee afirmou, fazendo o mesmo movimento que o namorado.

— Você tem obrigação de me aturar.

— Só porque sou psicóloga? — Bateu de leve na costa de Namjoon, que se assustou e acabou gritando. — Amado, você não me paga um centavo!

— Não era exatamente por isso, mas já que citou... — iniciou, já recuperado, enfiando o rosto no travesseiro. — Não é preceito da sua profissão que é preciso compreender todo o tipo de ser humano e coisa assim?

Era verão, o ano era 1999Onde histórias criam vida. Descubra agora