Prólogo

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Havia um incomum e confortável silêncio onde Regulus se encontrava. A sensação de sufoco e a horrível queimação em suas narinas e garganta causada pela entrada da água salgada havia desaparecido. Ele hesitou em puxar o ar, mas quando o fez sentiu um alívio imenso por senti-lo entrar, mas também percebeu que tinha passado mais de um minuto prendendo a respiração sem gerar qualquer incômodo.

─── Oh, é mesmo...

Estava morto, lembrou-se.

Uma vida injustamente curta e carregada de momentos miseráveis, ao menos os que conseguia lembrar eram assim, infelizes e solitários momentos, salvos por pequenos lapsos de alegria na infância quando ainda tinha o afeto de Sirius. A culpa foi totalmente sua pelo distanciamento deles, sabia disso. Sua obsessão ridícula por Voldemort foi sua ruína e agora estava morto, depois de agonizar sendo puxado e afogado por tantos inferi que mal conseguia contar a quantidade de mãos que arrastaram seu corpo para o fundo do lago salgado.

Esperava que ao menos seu sacrifício rendesse resultados, que assim pudesse redimir todos – ou pelo menos uma boa parte – de seus erros. Não que tenha sido um sacrifício proposital, Regulus era orgulhoso e acreditou até seu último segundo de vida que teria conseguido escapar para ele mesmo dar um fim no medalhão, mas talvez não fosse seu destino realizar os grandes planos que tinha.

Mas quais eram esses grandes planos?

Não lembrava, apenas sabia que teria funcionado e que mudaria todo o mundo bruxo para sempre. Era frustrante a sensação de ter algo na ponta da língua, mas não saber o que é. Regulus bufou com amargura e deixou para lá esse sentimento irritante, tinha algo mais importante para focar naquele momento: Onde diabos estava?

Encontrava-se em um corredor longo e parcialmente escuro, o único som ali era de seus passos que reverberavam escandalosamente do chão ao teto.

─── Lumos

Sussurrou o feitiço com as mãos unidas e as separou assim que a pequena bola de luz se formou entre elas. Não bastou para ter uma visão ampla do lugar, apenas via o piso sob seus pés, eram blocos de pedra cuidadosamente polidos e nivelados, mas causavam a sensação de serem resquícios da arquitetura da Idade Média.

─── Lumos Maxima

A pequena bola de luz se expandiu, Black precisou fechar os olhos por alguns segundos e abri-los novamente com calma para acostumar-se com a claridade. Agora conseguia enxergar perfeitamente o ambiente e, para sua decepção, continuava sendo totalmente desconhecido.

O corredor era extenso e mais largo do que qualquer corredor de Hogwarts. As lacunas que sustentavam o lugar eram rodeadas de grandes serpentes esculpidas na pedra com uma perfeição que lembrava a qualidade do trabalho de Michelangelo, os olhos pareciam acompanhar o bruxo conforme ele andava, chegava a ser intimidador, mas também gerava uma estranha familiaridade.

Andando por mais alguns metros finalmente chegou ao ponto final da passagem, um lugar amplo e tão alto que tinha espaço o suficiente para caber uma escultura com mais de dez metros de altura de Salazar Slytherin. Este homem era tão familiar para o jovem Black que chegava a sentir rancor por ter perdido tantas horas estudando sobre ele.

Não passava de um supremacista patético, assim como Voldemort.

"Ao menos Voldemort foi mais eficiente na luta pelos seus ideais de merda.", pensou soltando um estalo desdenhoso com a língua.

─── Então esse é o tal além? ── perguntou a si mesmo deslizando os longos e delicados dedos sobre o pé da escultura megalomaníaca, afinal esse era o único ponto possível de alcançar.

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