Divergência

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Era dia 30, o segundo dia em que Regulus e Tom estavam alocados no quarto praticamente em estado de hibernação. Foi compreensível gastarem a primeira tarde inteira e mais a noite toda dormindo, basearam que Tom não teve noites de sono muito mais tranquilas que Reggie e assim houve uma tolerância a esse longo sono. Entretanto, passaram mais uma tarde inteira dormindo, uma noite, e agora estavam indo para mais uma tarde fechados no quarto.

Não foi por falta de tentativa. Cada um do grupo tentou convencê-los a sair pelo menos duas vezes cada um, mas por volta do fim da tarde do dia 29 Regulus trancou o quarto e colocou um feitiço que rendia uma dor muito próxima à causada pela cruciatus a quem tentasse abrir a porta de qualquer maneira. Os garotos não passaram aqueles dois dias apenas dormindo, quando acordavam havia conversa, carícias e reforçavam promessas de um laço eterno. Não que houvesse energia para fazerem qualquer outra coisa além disso, mas ocorreu uma tentativa que foi descartada rapidamente quando Tom finalmente viu os ferimentos no corpo de Reggie e acabou não conseguindo ir além mesmo após usar feitiços de cura que tiraram as marcas e a dor.

Os quatro estavam na passagem entre a cozinha e a sala de estar, todos encarando as escadas na esperança de avistarem um dos dois descendo para o chá da tarde.

─── Eu me sinto estranho estando na mesma casa que dois objetos que carregam a alma de um genocida e com a versão mirim desse genocida dormindo em um dos nossos quartos. ── James resmungou. Estava atrás de Lily, seus braços envolviam a cintura dela de forma que as mãos repousavam perfeitamente sobre o ventre.

─── Eu ainda não consigo acreditar que Regulus acabou se envolvendo com ele. ── Lily comentou sem mostrar desdém, apenas surpresa pelo fato de Regulus realmente ter conseguido desenvolver um relacionamento amoroso com alguém, considerando que conheceu o lado menos agradável do garoto durante a escola.

─── Eu não acredito que o Regulus transa. ── Sirius murmurou e recebeu um leve tapa da ruiva no braço. ── Aquele fedelho deve ter quantos anos? E se for igualmente velho e só está usando polissuco? ── Sirius começou a teorizar cada vez mais aterrorizado com os próprios pensamentos. ── Ele parece ser um daqueles caras possessivos obcecados, se ele souber que James já foi o interesse amoroso do meu irmão pode acabar destruindo tudo isso de novo.

─── Há quanto tempo isso deve estar acontecendo? Talvez bem debaixo dos nossos narizes e nem percebemos. ── Remus mostrou-se frustrado, tentava buscar em sua mente sinais que o garoto pudesse ter mostrado sobre estar envolvido com alguém, mas apenas percebeu como sequer notava a existência dele na escola, especialmente no último ano. Reggie se isolou de tal forma que se tornou praticamente invisível.

─── Dois anos, três meses e quinze dias. ── a voz repentina de Tom fez os quatro pularem de susto e virarem imediatamente para trás.

Lá estava Tom Riddle, com as costas apoiadas no balcão, deixando um sorriso ladino carregado de cinismo à mostra, enchendo uma xícara de café para si. Estava totalmente diferente do que se mostrou dois dias atrás, o cabelo não estava mais alinhado perfeitamente, também não tinha mais olheiras, e o fato de estar revigorado fisicamente parecia tê-lo deixado ainda mais juvenil, não havia mais qualquer linha de expressão causada pela carga emocional cruel que lidou desde o Natal.

─── O primeiro contato de Regulus comigo foi no dia quinze de setembro de 1977, quando escreveu no diário. E eu não sou um velho usando polissuco, tenho dezoito anos. Na verdade, farei dezenove amanhã.

Ficou nítido o constrangimento de terem sido flagrados naquela conversa, querendo ou não ainda existia um sentimento de intimidação com a presença de Riddle na casa. Perfeitamente compreensível, considerando que sabiam do que ele era capaz em sua versão adulta e com pedaços de alma a menos no corpo. Saber que estavam tensos tanto pelo flagra quanto sua presença causava um deleite no garoto, era seu entretenimento pessoal naquela tarde.

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