trouble

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     Hesitei por um momento antes de abrir a porta do carro, meu deus, fazia tanto tempo que eu não vinha aqui. Precisei tomar fôlego quando o vento abafado de Outer Banks atingiu meu rosto pela primeira vez em quase 5 anos. Apanhei as malas no banco traseiro, pagando o motorista e agradecendo pela viagem, me dirigi até a porta da enorme residência, bastou dois toques da campainha para que um dos muitos funcionários da residência viesse atender.

  - Harley, quanto tempo querida! Meu deus você está ainda mais linda do que da última vez - A moça sorriu simpática enquanto retirava as malas das minhas mãos e me dava espaço para entrar na casa.
  - Obrigada Dorota, é muito bom estar de volta, senti falta desse lugar - Lhe ofereci um sorriso - Onde ele está?
  - Te aguardando na sala de jantar - Ela responde.

     Ando pelo hall de entrada, buscando pelas enormes portas espalhadas a sala de jantar, ao final do corredor meus olhos localizam a porta de vidro e logo a frente alguém sentado à mesa posta.

  - Pai - Solto em um quase sussurro, questionando até mesmo se o mais velho chegou a ouvir.
  - Oi filha, como foi a viagem? Senti sua falta nessa casa enorme - Trevor direciona seus olhos para mim e sinto o bolo se formando em minha garganta.
  - Também senti sua falta - Engulo em seco e me sento na cadeira ao lado da sua, olhei ao redor do ambiente e respirei fundo o cheiro gostoso de comida caseira, trazendo junto o cheiro de lar que parecia fazer falta as minhas narinas diariamente.
  - Encontrou com sua mãe e seu irmão? - Questiona enquanto se serve uma xícara de café.
  - Ainda não, passei para deixar minhas malas primeiro, mas já estou indo até lá - Mordisco um biscoito amanteigado, reviro os olhos com a sensação prazerosa do biscoito se desmanchando na minha boca - Deus, como senti falta da comida daqui.
  - Imaginei que sentiria falta de uma comida feita pelas mãos da Dorota, ela fez especialmente para você - O homem me direcionou um sorriso forçado, típico seu.
  - Isso tá incrível - Apanhei mais alguns biscoitos e me levantei colocando meus olhos em sua direção uma última vez antes de me direcionar a porta - Já vou indo, estou morrendo de saudades da mamãe.
  - Volta pro jantar? - Perguntou.
  - POUCO PROVÁVEL - Grito do corredor enquanto me direciono a porta novamente.

Minha família não é convencional como aquelas de comercial de margarina, nem perto disso.

     Mamãe engravidou do meu irmão mais velho aos 21 anos, o pai do garoto sumiu no dia seguinte à noite que se conheceram, largando-a sozinha para descobrir dias depois sobre seu teste positivo de gravidez. Ela ficou sem chão, foi quando conheceu meu pai em um pequeno café da cidade, se apaixonaram no mesmo instante. Papai cresceu no lado pogue da ilha, se envolveu em assuntos que lhe trouxeram muito dinheiro e acabou se tornando um homem visto como bem sucedido aos 23 anos. Eles permaneceram juntos até meus 6 anos de idade, papai sempre cuidou do meu irmão como cuidava de mim, quando as brigas pioraram e as traições aumentaram, mamãe decidiu que era hora de por um fim. Barry foi embora com a ela e eu continuei por aqui. Os dois não moram longe de casa, o que facilitou muito para que eu mantivesse uma relação saudável e muito próxima com meu irmão.

     Barry é apenas 1 ano mais velho que eu e nos damos incrivelmente bem, ele é ótimo comigo. Há mais ou menos 4 anos atrás fui obrigada a ir para o México em um intercâmbio para cursar a faculdade, educação executiva, o que foi uma grande desculpa para o que meu pai realmente queria que eu fizesse por lá, assim que terminei o curso tentei ficar na cidade por mais alguns meses, até receber uma ligação do meu pai ordenando que eu retornasse a Outer Banks imediatamente porque precisava de mim. Ele não me disse exatamente o motivo pelo qual me mandou voltar o quanto antes até a pequena ilha, e também não me deu tempo de questionar.
     Me dispersei tanto pensando na vida que mal percebi que já estava em frente a minha segunda casa, a casa da minha mãe. Toquei a campainha e escutei a voz de Barry gritando um ligeiro "Estou indo" e aguardei ansiosamente pela abertura da porta.

  - Porra, porque não me avisou que estava vindo? Eu teria te buscado no aeroporto imbecil - Meu irmão me puxa para um abraço, ele não é a pessoa mais delicada do mundo.
  - Eu tenho minhas próprias pernas, seu merdinha, cadê a mamãe? - Sorrio em sua direção me soltando de seu aperto.
  - Está lá em cima, você sabe onde  - Balancei a cabeça levemente em concordância enquanto subia as escadas.

    Minha mãe, apesar de espirituosa como eu, sempre foi uma pessoa reservada no quesito sentimentos, não sei se por medo que eu e Barry nos tornassemos esponjas emocionais ou por não querer demonstrar fraqueza na nossa frente, toda vez que a mulher se sentia deprimida, nervosa ou preocupada com algo se escondia no sótão da casa para não explodir em ataques. Não sei qual dos sentimentos ela está tentando reprimir no momento, então respiro fundo algumas vezes antes de levar a mão fechada até a porta, dando um toque para que ela permita minha entrada. Não demorou muito para que a morena de olhos esverdeados desse abertura para que eu entrasse no cômodo, me observou de cima a baixo enquanto fechava a porta novamente e bastou que seus olhos se vinculassem aos meus para que eu percebesse: ela estava preocupada, tão preocupada que suas orbes, antes verde esmeralda, assumiram um verde denso.

  - O que te aflige, mamãe? - Questionei com braços cruzados e olhar sério, abraços e sorrisos não farão com que a mulher à minha frente me diga seus pensamentos.
  - Não cabe a mim dizer Harley - Ela me ofereceu um sorrisinho sem graça
  - Tem haver com o motivo que fez o papai me pedir para voltar, não tem? - Os lábios dela se comprimem em aflição.
  - Ele precisava de você de volta, amor - Ela caminha em direção a enorme janela do cômodo, observando a paisagem.
  - O que foi que aconteceu de tão grave para que ele me ligasse às 4 da manhã e mandasse eu arrumar todas minhas coisas e voltar pra casa imediatamente? - Tive medo de sua resposta
  - Sabe que ele jamais me perdoaria se te contasse o que está rolando, né? Já disse Harley, vai precisar conversar com seu pai para descobrir o nível de seriedade e delicadeza da situação - Logo que profere as palavras, Halsey percebe que falou demais e me direciona um olhar culpado, respiro fundo antes de responder.
  - Tudo bem senhorita, já que não vai abrir o bico pode fazer o favor de preparar aquele mac n' cheese delicioso que só você sabe fazer? - Fiz um biquinho enquanto me aproximava, me pendurei em seus ombros, me deliciando do cheirinho adocicado de seu perfume. - Por favor mamãe, estou morrendo de fome.
  - Eu faço, vai encher seu irmão enquanto espera, ele sente falta das suas perturbações - Ela me afasta deferindo um tapinha na minha bunda e praticamente me empurrando quarto a fora.
  - Mãe - Viro em sua direção, me apoiando no batente da porta.
  - Oi?
  - Posso chamar uma pessoa pra jantar?
  - Vai chamar o JJ?
  - Sim - Mordo os lábios receosa.
  - Claro que pode, sabe que eu amo aquele garoto - Ela sorri.
  - Mas eu não amo, não vai convidar ele - Barry fala atrás de mim e preciso evitar um pulinho de susto.
  - Barry vai ver se eu to na casa do caralho vai, chispa daqui - Indico com as mãos para que ele saia.
  - Não vou com a cara dele e você sabe disso. - Meu irmão fecha a cara.
  - Não vai me impedir de convidá-lo, tchau - Me retiro do local descendo as escadas rapidamente e me direcionando para a porta da frente.

       JJ é meu melhor amigo e sua mãe era melhor amiga da minha, depois que ela veio a óbito a situação na casa dos Maybank não foi das melhores, então minha mãe basicamente pegou JJ pra morar com ela, o que aumentou a nossa convivência e consequentemente o nível da nossa amizade.

    Sento na calçada na frente da casa e retiro meu celular do bolso, enviando em seguida uma mensagem pro loiro.

𝐆𝐀𝐍𝐆𝐒𝐓𝐀 - Rafe CameronOnde histórias criam vida. Descubra agora