O susto do reencontro

348 16 2
                                    

   

Estávamos no meio de mais uma onda de calor na Califórnia. Apesar de ser bem tarde da noite, a temperatura se aproximava dos 34 graus. Eu realmente curtia o calor, mas quando se mora em Comptom, não dá pra aproveitar da forma que gostaria. Digo isso pois no calor, as pessoas tendem a dobrar o uso da energia elétrica, ou seja.. apagão na certa em boa parte da Califórnia.

Vesti o biquíni mais simples que tinha, peguei uma velha canga e estendi no quintal dos fundos. Me deitei com todas as luzes apagadas e, antes de colocar os fones de ouvido, pude escutar o som de alguma festa rolando no bairro. Longe, mas bem animada. Fiquei pensando no quão quente estaria essa festa (nos dois sentidos, rs) principalmente pelo calor infernal que fazia. Me lembrei das festas que frequentava quando morava em Freeridge, no quão jovem eu era e de tudo que fazia de errado. Lembrei também dos meus amigos, dos rolês, das drogas, bebedeiras, amores..

Estava completamente imersa na minha nostalgia, quando  tomei o maior susto ao ver alguém pulando repentinamente as cercas do quintal. A pessoa parecia aflita e não havia notado a minha presença ao tentar se esconder atrás do carro do meu irmão Mário. Hora ou outra ele olhava para a rua, como se alguém estivesse a sua procura. Continuei o mais quieta que pude, apenas observando de longe, estava praticamente prendendo a respiração para não assustá-lo. Percebi que garoto usava uma larga camiseta branca, e uma bermuda tão larga quanto a camisa. Usava meias brancas bem altas, e tinha os cabelos raspados. Passaram-se alguns minutos-de pura tensão- e ele pareceu relaxar. Se jogou no gramado de braços abertos olhando para o céu, respirando forte como se o "perigo" finalmente tivesse ido embora. 

- As cercas são bem altas, tem que tem muita coragem de pular assim. - Eu disse, ainda sem me mover, aflita por saber qual seria a sua reação ao perceber a minha presença.


Ele se assustou e levantou num pulo só, ficando agachado procurando de onde vinha a voz.

-Existem várias formas de se matar alguém, e de susto não é a mais legal- Ele respondeu, enquanto sentava novamente na grama.

Espera, eu conhecia essa voz.. e como!!

Não disse nada, apenas o olhei fixamente. Ele ainda não havia me reconhecido.

- Ah não! - ele disse sorrindo enquanto levantava e vinha em minha direção- Não acredito, é você mesma? Ria desconfiado 

-Claro que não, é só um fantasma!- respondi rindo enquanto me levantava para abraçá-lo.


-Ei, o título de fantasma agora me pertence. Eu sou Spooky agora.

Olhei desconfiada e confusa, mas rindo com a sua resposta.

- não sabia que agora era Spooky, pra mim ainda é Oscar.- fiz uma pausa enquanto o observava melhor. Seu rosto agora continha a famosa tatuagem de lágrima próxima ao olho. Seu cavanhaque perfeitamente desenhado lhe deixava com ar de malícia, estava forte e másculo... Oscar agora era um homem. E que homem..

-Você não tá sabendo de muita coisa- Riu sem graça e abaixou o rosto por alguns segundos- Então, quando voltou? E tá fazendo o que nesse fim de mundo? 

Mal havíamos sentado na grama, eu ia começar a contar quando três homens apareceram no quintal. Dois estavam armados e um deles, todo machucado. Oscar me empurrou pra trás e, num segundo, correu. Com o impacto, cai com os cotovelos no chão, voltando para a mesma posição que estava antes de "tudo" acontecer. Os três homens o seguiram, também correndo,  me deixando novamente sozinha. Como se nada tivesse acontecido (...)



Como la flor, con tanto amor. - On my blockOnde histórias criam vida. Descubra agora