Straigth Outta Compton- Direto de Compton

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Eu nasci e passei parte da infância no Brasil. Quando completei 15 anos, a situação econômica, política e social do país afundou de vez, então eu, minha mãe e dois irmãos mais velhos do que eu, atravessamos diversas fronteiras de forma ilegal para chegar aos Estados Unidos. A viagem foi feita parte por terra e parte pela água. Chegamos na costa leste dois meses após deixarmos o Brasil, e vimos diversos companheiros de viagem serem deportados assim que desembarcamos. Foram tempos extremamente difíceis, mas superamos juntos toda a confusão. A Costa leste é extremamente cara de se viver, e, diga-se de passagem, a população de lá não é muito legal com imigrantes, então acabamos vindo parar na Califórnia, do outro lado do país... em Freeridge. Morei dois anos no bairro, até o dia em que minha mãe foi deportada para o Brasil, deixando eu e meus dois irmãos á própria sorte. 


Não que tenha feito muita diferença. Minha mãe é uma boa pessoa, ajudava a  manter a casa com a grana que tirava não sei de onde (ou infelizmente sei) e vez ou outra aparecia pra "cuidar" da gente. Ela não é ruim, apenas não quer ter filhos e obrigações. Mesmo tendo três. 

Assim que ela foi deportada, ficamos sem grana para bancar uma casa em Freeridge (que já um dois bairros mais "baratos" de Los Angeles") e tivemos que nos mandar para Compton, um bairro conhecido por ser o mais violento da cidade. Nem preciso dizer que é liderado por gangues. A barra é tão pesada que um grupo de rap fez a carreira de sucesso apenas falando sobre a violência, drogas, armas e tudo que rola por aqui. 

Quando nos mudamos para Compton, tivemos que fazer o corre atrás de grana. Minha vida e dos meus irmãos agora se resumia em pagar aluguel, manter a geladeira cheia e o carro abastecido. Arrumei dois empregos. Passava a manhã em um mercadinho ajudando a atender a clientela, velhinhas com as compras, reabastecer as prateleiras e etc. De tarde, eu fazia serviços de babá. As mães iam trabalhar e eu cuidava das crianças delas. É praticamente impossível levar uma vida dessas e estudar ao mesmo tempo, então sai da escola. Com a confusão, o serviço social vivia batendo em casa querendo saber  o porque de eu ter largado os estudos...e eu vivia fugindo. Meus dois irmãos - Bruno e Mário - São mais velhos que eu, e não se dão bem. Viviam se batendo por motivos idiotas, o que me deixava extremamente irritada. Houve uma época em que eu passava semanas na casa de amigos, só pra não ter que voltar pra casa.

Minha vida sempre foi uma loucura, e isso explica o porque eu sou assim. Meio fechada, desconfiada, com um parafuso a menos. (...)

Como la flor, con tanto amor. - On my blockOnde histórias criam vida. Descubra agora