Mal Entendido

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Rafaella definitivamente não tinha planejado dizer aquilo e ao olhar para o choque estampado na cara da mãe ela quis poder retirar o que havia dito. Como não tinha aquela opção e não se sentia com força emocional o suficiente para lidar com uma possível rejeição de uma das pessoas mais importantes em sua vida, decidiu fazer a única coisa que podia naquele momento: fugir.

Ela se levantou num rompante sem nem dar à mãe tempo para digerir a notícia, quase correu até o quarto, fechou a porta, se jogou na cama e caiu no choro enquanto pensava na besteira que tinha acabado de fazer. Seus pais eram conservadores, frequentadores assíduos da igreja, tinham uma visão um pouco ultrapassada sobre a homossexualidade. Soltar a bomba assim sem nenhum tipo de conversa antes não tinha como acabar bem e era só questão de tempo até a consequência de sua impulsividade aparecer. Uma partezinha ingênua dela desejava que a mãe não tivesse conseguido entender, mas ela sabia que era uma esperança vã.

Passaram-se alguns minutos de puro surto interno antes que a mineira conseguisse ouvir a voz da mãe lhe chamando baixinho enquanto abria a porta. O tom de voz era sério o que fez com que a influencer se encolhesse na cama apertando o cobertor mais forte contra o rosto.

— Rafa... — Genilda começou sem saber direito como iniciar o assunto. Os minutos que tinha passado sozinha na sala não foram nem um pouco esclarecedores e tinha ido até a filha tentar entender aquela loucura dela. Porém foi só ver o quanto sua menina estava devastada que desistiu de sua intenção — Tá tudo bem filha — Ela falou sentando-se na beira da cama e fazendo carinho nas costas dela.

— Não tá tudo bem! — falou com a voz abafada pelo cobertor — Eu postei besteira, me meti em outra polêmica, tá todo mundo me chamando de homofóbica e agora decepcionei vocês. Eu não quero perder minha família — a voz embargada junto com as demais evidências do choro terminaram de derrubar qualquer barreira que a mais velha tinha formado sobre o assunto.

— Rafinha — ela disse com a voz suave tirando a coberta do rosto da outra, limpando a trilha de lágrimas e olhando em seus olhos — Eu não posso dizer que eu entendo ou que é algo que eu esperava para a minha filha, mas eu posso garantir que cê nunca trouxe nada além de orgulho pros nossos corações.

— Mesmo? — Ver a fragilidade naquela única pergunta da filha mostrou para Genilda que tinha escolhido o caminho certo. Talvez não estivesse tão feliz assim com a notícia e lugares que nem sabia que tinham pelo se arrepiassem só de pensar na possibilidade da sua pequena com outra mulher, mesmo assim jamais diria algo que fosse machucá-la ou fazê-la duvidar do seu amor. Se essa era a nova realidade da família tentaria se ajustar a ela.

— Você é uma filha incrível, uma profissional excelente, é batalhadora, tem um coração bom, nunca esquece da família ou de quem te ajudou por mais caótica que esteja sua vida e traz luz para qualquer lugar em que esteja. É claro que só traz orgulho, filhota. O resto são só detalhes. — ela disse e foi sincera em cada uma de suas palavras, sentindo um leve alívio ao perceber aquilo — Mamãe só vai te pedir para não começar a falar sobre as mulheres da sua vida ainda se estiver tudo bem. — Disse temendo qual seria sua própria reação ao assunto — Eu te aceito do jeitinho que você é e amo cada partezinha de você, mas preciso de um tempo para me acostumar com a ideia.

Rafaella olhou para a mãe, era claro em suas feições que ela não tinha gostado daquilo, contudo vê-la toda cuidadosa escolhendo as palavras na tentativa de não lhe magoar fez com que o amor que sentia por ela aumentasse ainda mais. Ela se sentiu tão abençoada naquele momento que se jogou em cima da mais velha lhe abraçando e quase derrubando-a da cama o que lhe garantiu uma bronca, alguns tapinhas leves e muitas risadas.

Naquela noite a mineira dormiu se sentindo mais leve. Sua mãe lhe respeitava e continuava lhe amando, todo o resto poderia ser resolvido depois.

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