Serendipity ∞ pjm + jjk + kth

ESPECIAL ∞ Your Eyes Tell

OUTUBRO

Tae não gostava do Chuseok. Ele tinha pavor daquele período do ano, em que todos ficavam loucos querendo ir para algum lugar e passar tempo com a família. Tanto que tinha várias lembranças de passar o feriado bêbado a ponto de não lembrar o que fez.

A pior parte, na visão dele, era a tradição de limpar os túmulos. Kim odiava cemitérios. Achava-os deprimentes e sombrios. Pensava que as memórias com os que se foram eram muito mais importantes do que um pedaço de pedra no meio de tantos outros. Sua opinião vinha desde antes do acidente com sua família. O sentimento apenas se intensificou depois de tudo o que aconteceu. Tanto que, quando sua avó faleceu, ele optou por cremá-la e jogar as cinzas no Rio Nakdong, em Daegu.

Aquela fora a última vez que pisara na cidade onde nascera, isso há quase dois anos. Mesmo assim, respeitava de alguma forma as tradições. Pagava regularmente um senhor para limpar a sepultura de sua família, deixando-a como sua avó gostaria que fosse mantida.

Pensar sobre isso o deixava deprimido, o que piorava ainda mais o estado ansioso em que se encontrava. Pela milésima vez somente naquele dia, ele pensou em desistir. No entanto, já era tarde demais para isso, haviam feito o check-in on-line algumas horas antes. Respirou fundo, toda a ansiedade por conta da data, do aglomerado de pessoas e de tudo que os próximos dias aguardavam misturada com sua maior preocupação naquele momento: viajar de avião pela primeira vez.

O problema nunca foi dinheiro. Sua avó o deixara com uma boa herança. Ela tinha muito medo de altura e era levemente claustrofóbica, então antes de falecer, eles nunca haviam entrado em um avião. Depois disso, ele não tivera uma oportunidade para utilizar o meio de transporte. Gostava de andar de trem ou de ônibus e nunca vira problema em se deslocar assim nas poucas vezes que precisou.

Mas a passagem que Jimin comprara era em uma caixa de metal voadora e, ao aceitar viajar com os dois, ele sabia que isso implicaria em cruzar a Coreia pelos céus. Ele estava empolgado, é verdade. Contudo, não podia deixar de lado uma pontinha de si que tinha um medo irracional de que aquele grande compartimento alado — que nem deveria conseguir sair do chão, para começo de conversa! — caísse.

Isso, mesmo com Jimin repetindo que o único meio de transporte mais seguro que o avião é o elevador. O que lhe confortava de alguma forma é que, se eles fossem cair, pelo menos Tae estaria com as duas pessoas que em pouquíssimo tempo se tornaram as mais importantes para ele — não que a competição fosse muito acirrada, ele riu internamente do comentário sombrio que fizera para si.

Toda a insegurança passou quando, sentado ao lado da pequena janela da aeronave lotada, ele começou a ver o chão cada vez mais distante e os prédios cada vez menores. E as nuvens! Ah, as nuvens eram tão lindas. Nem a sensação de uma pequena falta de gravidade quando elas faziam o avião chacoalhar um pouco diminuíam a beleza delas.

Ao seu lado, Jimin e Jungkook observavam encantados a felicidade e as novas descobertas de Taehyung. O voo era curto, apenas uma hora. Mesmo assim, foram servidos petiscos e bebidas. Enquanto comiam, Kim conseguiu, pela primeira vez, desviar a atenção da paisagem lá de fora e focar na conversa dos outros dois.

— Estava na capa do Naver¹ hoje que este é o Chuseok que acontece mais tarde neste século todo. Isso só vai se repetir daqui a vários anos — Jeon explicava, sentado no corredor e com a boca cheia de salgadinho.

— Sim, não lembro de um feriado tão tarde em Outubro, mesmo. — Park, na poltrona do meio, bebericava seu refrigerante quando olhou para Kim. — E aí, Tae, o que está achando da experiência?
— Nossa, eu estava muito ansioso antes de embarcar, mas é maravilhoso! Deveria ter começado a voar muito antes — afirmou.